O concílio de Niceia, que celebra 1,7 mil anos este ano, foi o tema abordado pelo prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch, e o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu, no Meeting de Rimini, organizado pelo movimento Comunhão e Libertação, realizado de 22 a 27 de agosto.

Ambos os representantes foram apresentados pelo padre Andrea D'Auria, diretor do Centro Internacional de Comunhão e Libertação, que ecoou as palavras do papa Leão XIV: “O concílio de Niceia é uma bússola que deve continuar a nos guiar em direção à plena e visível unidade dos cristãos... Portanto, Niceia não foi algo abstrato, mas diz respeito à nossa fé hoje; diz respeito ao nosso relacionamento com Deus, com o próximo e com nós mesmos”.

Em sua apresentação, o cardeal Koch destacou a importância das questões doutrinais abordadas pelo concílio por meio da Declaração dos 318 Padres:

“Com ela, os Padres professaram sua fé em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis…”, disse ele. “E na carta do Sínodo aos Egípcios, os Padres anunciaram que o primeiro objeto real de estudo era o fato de que Ário e seus seguidores eram inimigos da fé e opostos à lei, e, portanto, declararam que tinham decidido unanimemente condenar com anátema sua doutrina contrária à fé, suas declarações e descrições blasfemas, com as quais ele insultava o Filho de Deus".

"Essas declarações", disse também Koch, "delineiam o contexto do credo formulado pelo Concílio, que professa a fé em Jesus Cristo como o Filho de Deus, consubstancial ao Pai. O contexto histórico é o de uma violenta disputa que eclodiu no cristianismo da época, especialmente na parte oriental do Império Romano; segue-se que, no início do século IV, a questão cristológica havia se tornado a questão crucial do monoteísmo cristão".

Depois de uma longa disputa sobre o termo homoousios, o concílio de Niceia colocou a oração de Jesus ao Pai no centro da profissão: “O credo cristológico do concílio tornou-se a base da fé cristã comum. O concílio assume grande importância, especialmente porque ocorreu em uma época em que o cristianismo ainda não estava dilacerado pelas várias divisões que surgiriam mais tarde. O Credo Niceno é comum não só às Igrejas Orientais, às Igrejas Ortodoxas e à Igreja Católica, mas também às comunidades eclesiais nascidas da Reforma; portanto, sua importância ecumênica não deve ser subestimada”.

Só assim é possível a unidade dentro da Igreja: “De fato, para restaurar a unidade da Igreja, é necessário que haja acordo sobre os conteúdos essenciais da fé, não só entre as Igrejas e comunidades eclesiais de hoje, mas também com a Igreja do passado e, em particular, com suas origens apostólicas. A unidade da Igreja se funda na fé apostólica, que no batismo é transmitida e confiada a cada novo membro do Corpo de Cristo”.

Esse é o fundamento do ecumenismo espiritual cristológico, que se baseia na centralidade da oração: "Como a unidade só pode ser encontrada na fé comum, a confissão cristológica do concílio de Niceia revela-se o fundamento do ecumenismo espiritual. Isso é, obviamente, um pleonasmo. O ecumenismo cristão é espiritual ou não é ecumenismo".

“O movimento ecumênico”, disse ele, “tem sido um movimento de oração desde as suas origens. Foi a oração pela unidade dos cristãos que abriu caminho para o movimento ecumênico. A centralidade da oração destaca que o compromisso ecumênico é, acima de tudo, uma tarefa espiritual, assumida com a convicção de que o Espírito Santo completará a obra ecumênica que iniciou e nos mostrará o caminho”.

Só assim o ecumenismo pode progredir: “O ecumenismo cristão só pode progredir de forma credível se os cristãos retornarem juntos à fonte da fé, que se encontra unicamente em Jesus Cristo, como professaram os Padres do concílio de Niceia... O ecumenismo cristão não pode ser outra coisa senão a adesão de todos os cristãos à oração sacerdotal do Senhor, e se materializa quando os cristãos abraçam profundamente o firme desejo de unidade. Se o ecumenismo não se limita a uma dimensão interpessoal e filantrópica, mas tem uma inspiração e um fundamento verdadeiramente cristológicos, não pode ser outra coisa senão a participação na oração sacerdotal de Jesus”.

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A importância do concílio de Niceia também foi ressaltada pelo patriarca ortodoxo Bartolomeu, que imediatamente enfatizou: "É evidente que esse Concílio desempenhou e continua a desempenhar um papel primordial na estrita adesão à Sagrada Escritura, e a Igreja Ortodoxa permanece firmemente ancorada nele. Uma pedra angular para a proclamação nos dezessete séculos seguintes".

O discurso histórico do patriarca de Constantinopla também abordou questões atuais como a sinodalidade e a celebração unida da Páscoa.

“Para sermos credíveis como cristãos, devemos celebrar a ressurreição do Salvador no mesmo dia”, disse ele. “Junto com o papa Francisco, nomeamos uma comissão para estudar a questão. No entanto, existem diferentes sensibilidades entre as Igrejas, e devemos evitar novas divisões, não alimentar mais divisões”.

O líder ortodoxo disse que isso requer um esforço conjunto: “O esforço para encontrar uma data comum para a Páscoa é um objetivo pastoral importante, especialmente para casais e famílias de diferentes denominações, dada a alta mobilidade das pessoas, especialmente nos feriados”.

Com uma data comum para a Páscoa, poder-se-ia expressar de forma mais credível a profunda convicção da fé cristã de que a Páscoa não é só a festa mais antiga, mas também a mais importante do cristianismo, e que a fé cristã se mantém ou cai com o Mistério Pascal, assim como a Igreja primitiva resumiu essa crença fundamental com a frase: Tirai a Ressurreição e destruireis instantaneamente o cristianismo. A importância fundamental da Páscoa seria sublinhada por uma data comum, que também daria um novo impulso à jornada ecumênica rumo à restauração da unidade da Igreja no Oriente e no Ocidente, na fé e no amor”.

Daí o convite a aprofundar o caminho sinodal: “O 1700º aniversário do Concílio de Niceia deve ser entendido também como um convite e uma exortação a tirar uma lição importante da história e a aprofundar o pensamento sinodal na comunhão ecumênica hoje, ancorando-o na vida da Igreja”.

“De fato, o ecumenismo também avança no caminho da restauração da unidade da Igreja só se for feito conjuntamente e, portanto, sinodal”, disse ele. “A importância fundamental da sinodalidade para o engajamento ecumênico é claramente demonstrada por dois documentos importantes, como o estudo A Igreja Rumo a uma Visão Comum, que aspira a uma visão multilateral e ecumênica da natureza, propósito e missão da Igreja".

O patriarca Bartolomeu concluiu falando sobre a importância do estudo conjunto: “Essa visão também é compartilhada pela Comissão Teológica Internacional em seu documento programático Sinodalidade na Vida e Missão da Igreja, que diz que o diálogo ecumênico progrediu a ponto de reconhecer a sinodalidade como uma dimensão reveladora da natureza da Igreja”.

"Esse panorama histórico nos ajuda a compreender que o desenvolvimento da sinodalidade na vida da Igreja e do ecumenismo deve ser implementado com rigor teológico e prudência pastoral”, disse Bartolomeu. “Essa lição também pode ser aprendida estudando o concílio de Niceia".


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