Em meio ao aumento de tensões, a Conferência dos Bispos Católicos Australianos (ACBC, na sigla em inglês) reafirmou seu apelo pela acolhida compassiva de migrantes, marcando o 75º aniversário de uma carta pastoral que ajudou a moldar a resposta migratória do país.

A Comissão Episcopal para Evangelização, Leigos e Ministério da ACBC divulgou ontem (21) a carta Under the Southern Cross: A Journey of Faith and Unity (Sob a Cruz do Sul: Uma Jornada de Fé e Unidade).

A carta celebra a carta pastoral On Immigration (Sobre a imigração), de 1950, que instou os fiéis a exercerem “grande generosidade” para com os europeus deslocados que buscavam refúgio na Austrália depois da Segunda Guerra Mundial.

“Suas palavras continuam sendo aplicáveis ​​a nós hoje”, diz a carta de aniversário. “Mais uma vez, nossa nação serve como santuário e refúgio para milhares de pessoas que buscam uma nova vida — seja fugindo das dificuldades em suas terras natais ou buscando as oportunidades, a liberdade e a prosperidade que a Austrália oferece”.

A carta original de 1950, lida em voz alta em igrejas por todo o país, pediu aos fiéis australianos que demonstrem "paciência, gentileza, simpatia e ajuda prática" aos recém-chegados, especialmente aos refugiados de guerra. Ela descreve a Austrália como um país que se torna "um santuário, um abrigo, um lar para milhares de pessoas sem-teto, apátridas e perseguidas do velho mundo" por meio da "providência divina".

O arcebispo de Canberra-Goulburn, Christopher Prowse, presidente da comissão, disse que os fiéis continuam chamados a “receber, apoiar e acolher” os que chegam de outras terras. “Os migrantes deram uma enorme contribuição à nossa nação”, disse Prowse.

“Todos nós nos beneficiamos das diversas tradições culturais, histórias, sabedoria profunda e experiência que eles trazem”, disse o arcebispo.

A carta de aniversário diz que cerca de um terço da população da Austrália, 8,2 milhões de pessoas, nasceu no exterior.

A diversificada comunidade católica da Austrália

Nas últimas décadas, a migração para a Austrália mudou, diferindo agora consideravelmente do fluxo predominantemente europeu da década de 1950.

Dados oficiais do Departamento Australiano de Estatísticas mostram que, no período 2023-2024, o país recebeu 667 mil pessoas de países como China, Filipinas, Paquistão, Sri Lanka, Afeganistão, Iraque e Mianmar.

Esses números refletem o papel contínuo da Austrália como destino para aqueles que buscam novas oportunidades.

A própria comunidade católica reflete essa diversidade.

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Segundo o Censo Australiano de 2021, os católicos somam 5.075.907 pessoas — 20% da população total da Austrália.

Isso representa um declínio em relação aos 22,6% de 2016, diz o Centro Nacional de Pesquisa Pastoral, agência de pesquisa da Conferência dos Bispos Católicos Australianos.

Significativamente, 21,4% dos fiéis australianos nasceram em países de língua não-inglesa, segundo a própria análise estatística da Igreja.

Vietnamita, árabe, caldeu e italiano estão entre os 42 idiomas em que a missa é atualmente celebrada na Austrália.

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A ACBC reconhece que as experiências de migração nem sempre foram positivas e alertam sobre preconceito contra algumas comunidades.

“Apesar do progresso significativo na promoção de uma sociedade multicultural, o preconceito persiste entre alguns de nós que veem os outros como diferentes ou outros dentro de nossa nação”, diz a carta.

O aniversário ocorre em meio a tensões contemporâneas, já que "conflitos do exterior se espalham para nossa própria nação", criando "tensões, divisões e inquietações crescentes" que ameaçam a harmonia da comunidade.

A conferência episcopal australiana fundamenta seu chamado nas Escrituras, citando o Evangelho de são Mateus (cf. Mt 25,40): “Em verdade vos digo: tudo o que fizestes a um desses meus menores irmãos, a mim o fizestes”. Eles também fazem referência ao desafio do papa são João Paulo II: “Como poderão os batizados pretender acolher a Cristo, se fecham a porta ao estrangeiro que se lhes apresenta?”

Uma “segunda primavera”

A comunidade católica da Austrália está vivendo o que o arcebispo de Sydney, Anthony Fisher, descreveu recentemente como uma "segunda primavera" de fé. A arquidiocese de Sydney recebeu um recorde de 384 adultos convertidos na Páscoa deste ano, um aumento de 30% em relação ao ano anterior.

Muitos desses novos fiéis vêm de comunidades migrantes, particularmente de origem chinesa e indonésia.

A ACBC enfatizou as contribuições contínuas dos migrantes e as “diversas tradições culturais, histórias e profunda sabedoria” que tornaram a Austrália “uma sociedade mais acolhedora, vibrante e próspera”.

A carta conclui invocando a mensagem do papa Leão XIV, convocando os fiéis a “se tornarem testemunhas vivas da esperança” e a construir comunidades onde migrantes possam “expressar seus talentos e participar plenamente”.