O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que pode afrouxar as restrições à maconha no país, mas estudiosos de moral e direito que falaram com a CNA, agência em inglês da EWTN, disseram-se preocupados com a droga e seu impacto na sociedade.

O governo federal dos EUA põem a maconha na lista I, das drogas sem "uso médico atualmente aceito e com alto potencial de abuso".

Trump disse numa entrevista coletiva em 11 de agosto que pensa reclassificar a maconha na lista III, de drogas "com potencial moderado a baixo de dependência física e psicológica" e potencial de abuso "menor que a Lista I", segundo a Drug Enforcement Administration (DEA, a Administração de Aplicação da Lei de Drogas).

“Estamos analisando a reclassificação e tomaremos uma decisão nas próximas semanas, e esperamos que essa decisão seja a correta”, disse o presidente.

Segundo Trump, é um "assunto muito complicado". Ele disse ouvir coisas boas sobre uso medicinal da maconha, e coisas ruins sobre "quase todo o resto".

A lei federal dos EUA proíbe a venda de maconha para uso recreativo e medicinal, mas 40 Estados do país têm programas de uso medicinal e 24 Estados legalizaram o uso recreativo. Ambos violam a lei federal, mas o governo do país geralmente permite que os Estados a regulem como bem entenderem, em vez de impor a proibição.

Reclassificar a maconha não revogaria a proibição, mas poderia reduzir as penas, abrir caminho para mais pesquisas médicas e, potencialmente, ser um passo em direção a uma maior desregulamentação.

O padre Tadeusz Pacholczyk, especialista em ética do Centro Nacional de Bioética Católica disse à CNA, agência em inglês da EWTN, que classificar a maconha na Lista I "enviou uma mensagem muito necessária aos americanos e traçou uma espécie de linha moral por muitos anos".

“Adultos que fumam maconha regularmente na adolescência apresentam conectividade neural reduzida (desenvolvimento cerebral anormal e menos fibras) em regiões cerebrais específicas”, disse ele. “Esses efeitos notáveis ​​da maconha no desenvolvimento cerebral podem ajudar a explicar a associação entre o uso frequente de maconha entre adolescentes e declínios significativos no QI, assim como baixo desempenho acadêmico e um risco aumentado de abandono escolar”.

O padre disse que os usuários de drogas “procuram escapar ou suprimir de algum modo sua experiência consciente vivida e, em vez disso, buscam estados mentais quimicamente alterados ou pseudoexperiências induzidas por drogas”.

“Sempre que agimos de maneira a tratar algo objetivamente bom como se fosse um mal, agindo diretamente contra ele, agimos de modo imoral e desordenado e fazemos uma escolha ruim e prejudicial”, disse Pacholczyk.

Charles Nemeth, diretor do Centro de Justiça Criminal, Direito e Ética da Universidade Franciscana de Steubenville, Ohio, EUA, disse à CNA que a Lista III é “geralmente para coisas menores” e “a seriedade e o impacto devem ser refletidos nessas listas”.

“A proibição [federal] não existiria do mesmo modo” se Trump reclassificar a maconha, disse Nemeth. “No momento, é uma droga ilícita e pode ser considerada crime, dependendo da quantidade que você tem ou da quantidade que está vendendo.”

“Isso teria um impacto enorme na formulação de políticas policiais, na tomada de decisões e no que eles priorizam”, acrescentou. “Eles não se preocupariam mais com as drogas como antes.”

Preocupações sobre o uso recreativo

O Catecismo da Igreja Católica não menciona diretamente a maconha, mas ensina de modo amplo que “o uso de drogas causa gravíssimos danos à saúde e à vida humana”. Ele considera o uso de drogas uma “falta grave”, com exceção de drogas usadas “por prescrições estritamente terapêuticas”, como o tratamento de uma doença.

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Nemeth disse que o “impacto destrutivo da maconha” é claro em estudos sobre acuidade mental e desenvolvimento cerebral, chamando-a de “destrutiva para a formação intelectual”. Ele falou também sobre preocupações de que ela pode prejudicar a fertilidade.

Nemeth também notou o impacto imediato do efeito, dizendo: “Ele desliga sua mente; deixa você menos curioso intelectualmente do que normalmente seria”.

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"É tão contrário ao florescimento humano", disse Nemeth. "Não há nada que venha do fumo perpétuo de maconha que tenha um impacto positivo na pessoa humana".

Jimmy Akin, apologista sênior do grupo Catholic Answers (Respostas Católicas, em inglês), ecoou essas preocupações, dizendo que "todas as substâncias que alteram a mente — como maconha e álcool — têm o potencial de serem usadas indevidamente de maneiras pecaminosas".

“A análise moral católica clássica distingue a intoxicação imperfeita, que não priva o indivíduo do dom da razão, da intoxicação perfeita, que o faz e o predispõe a cometer pecados graves”, disse ele à CNA. “Envolver-se deliberadamente em intoxicação perfeita é, em si mesmo, gravemente pecaminoso”.

Jared Staudt, teólogo católico que é diretor de conteúdo do app católico Exodus 90, disse à CNA que "uma reclassificação federal só aumentaria os danos" da maconha recreativa.

“É hora de reconhecer que a legalização provou ser uma experiência fracassada”, disse ele.

Uso medicinal da maconha

A principal motivação de Trump para a possível reclassificação é seu interesse em pesquisas sobre usos medicinais da cannabis.

Segundo Akin, “os católicos podem ter opiniões diferentes sobre a melhor política legal em relação à maconha”. Ele disse que aprender sobre os usos medicinais pode trazer benefícios, mas que os fiéis devem tomar decisões informadas.

“Católicos que consideram o uso da maconha medicinal devem considerar se a ciência realmente apoia seu uso como o melhor tratamento para uma condição ou se a ciência foi manipulada para tornar a maconha mais acessível”, disse ele. “Se a maconha realmente é o melhor tratamento para uma condição, é lícito usá-la para esse fim. Se houver um tratamento melhor, então esse deve ser usado”.

Nemeth expressou preocupação com a maioria dos supostos usos da cannabis medicinal. Ele disse que quase sempre existem alternativas, sendo um "produto que altera a mente". Para problemas de saúde mental, como ansiedade ou depressão, ele disse que a cannabis pode mascarar os sintomas "só porque você está sob efeito de drogas", mas não oferece cura e pode agravar os problemas a longo prazo.

“A maioria das pessoas que precisam estar chapadas o tempo todo são pessoas ansiosas, infelizes ou angustiadas”, disse ele.

Como alternativa, alguns hospitais católicos têm se envolvido em pesquisas sobre o uso de cannabis medicinal como uma alternativa aos opioides para o controle da dor.