29 de jul de 2025 às 16:16
A Administração do Patrimônio da Santa Sé (APSA), órgão responsável pela gestão dos bens e investimentos da Santa Sé, apresentou ontem (28) seu exercício financeiro do ano passado, com lucro líquido de € 62,2 milhões (cerca de R$ 400 milhões), um dos maiores valores registrados desde que esses relatórios começaram a ser publicados.
Foram arrecadados € 46,1 milhões (cerca de R$ 296 milhões) para cobrir o déficit da Santa Sé, € 8 milhões (cerca de R$ 51 milhões) a mais do que em 2023.
"Esse é um dos melhores resultados dos últimos anos", disse Giordano Piccinotti, presidente da APSA, em declarações à imprensa da Santa Sé. Ele disse que esses resultados refletem não só uma gestão eficaz, mas também um compromisso crescente com a missão da Igreja, uma visão estratégica para o patrimônio e um modelo de trabalho baseado na transparência, na colaboração e no bem comum.
Uma visão eclesial do patrimônio
“A APSA não se limita a oferecer serviços operacionais”, diz Piccinotti na introdução do relatório, “mas se configura como uma organização a serviço da missão da Igreja Católica”.
O balanço reflete os frutos de uma estratégia centrada em três princípios orientadores. O primeiro é uma visão eclesial do patrimônio: a compreensão de que os bens administrados não são fins em si mesmos, mas sim instrumentos a serviço da comunhão eclesial e da promoção do sentimento de pertencimento à Igreja. Colaboração e transparência: investimentos foram feitos nas relações interinstitucionais, no fortalecimento de competências internas e em processos claros e rastreáveis, com responsabilidades definidas. E, terceiro, o bem comum como critério orientador: a gestão foi orientada para decisões que respondam a critérios éticos e pastorais, buscando construir sinergias com outras entidades da Santa Sé.
Ética e estratégia
O resultado do ano passado é um superávit de € 16 milhões (cerca de R$ 102 milhões) superior ao de 2023, quando o lucro foi de € 45,9 milhões (cerca de R$ 295 milhões).
Parte do lucro foi destinada ao orçamento da Santa Sé (conhecido como fabbisogno) da Cúria Romana, num total de € 170,4 milhões (cerca de R$ 1 bilhão). A contribuição da APSA foi dividida entre uma parcela fixa de € 30 milhões (cerca de R$ 192 milhões) e uma parcela variável equivalente a 50% do lucro líquido residual, num total de € 46,1 milhões (cerca de R$ 296 milhões).
Piccinotti diz que o aumento se deve à melhor gestão e valorização dos ativos.
"Estamos cumprindo o nosso dever: estamos cobrindo significativamente o déficit financeiro da Cúria”, diz ele. “Não se trata só de alugar imóveis vazios. Reestruturamos a gestão de imóveis, permitindo aluguéis a preços de mercado, o que gera recursos adicionais".
Em relação aos investimentos financeiros, no ano passado, a APSA adotou as diretrizes do Comitê de Investimentos da Santa Sé, usando contas de gestão separadas (SMAs, na sigla em inglês) semelhantes às dos fundos de investimento privados. Isso permitiu vendas em pontos altos e reinvestimentos estratégicos, alcançando um retorno de 8,51%, representando € 10 milhões (cerca de R$ 64 milhões) a mais do que em 2023.
Estabilidade na gestão imobiliária
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A gestão de ativos imobiliários — que representam parte fundamental do patrimônio da Santa Sé — gerou receitas estáveis de € 35,1 milhões. Esse resultado foi possível graças a um "efeito combinado": um aumento nas receitas de aluguel (+€ 3,2 milhões na Itália e +€ 0,8 milhões no exterior) e um aumento nas despesas, especialmente com manutenção (-€ 3,9 milhões, dos quais € 3,8 milhões foram destinados à conservação).
A APSA administra atualmente 4.234 unidades imobiliárias na Itália, das quais 2.866 são próprias. Ela também detém ativos no exterior por meio de empresas afiliadas na Inglaterra, na França, na Suíça e na Itália.
Transparência
O relatório financeiro do ano passado é o quinto a ser divulgado publicamente desde o início da prática de transparência em 2020. A APSA foi criada pelo papa são Paulo VI em 1967.
No ano passado, a agência pagou € 6 milhões (cerca de R$ 38 milhões) em IMU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e € 3,19 milhões (cerca de R$ 20 milhões) em IRES (Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas), desmentindo assim rumores de isenções fiscais generalizadas.
Cerca de 40% dos funcionários da APSA trabalham em serviços prestados a outras entidades da Santa Sé, como contabilidade ou manutenção das nunciaturas apostólicas. "Não contribuímos só com os lucros, mas também com serviços essenciais para a missão da Igreja", disse Piccinotti.
Energia renovável e perspectivas futuras
Entre os projetos notáveis está o Fratello Sole, iniciativa para instalar uma usina agrovoltaica em Santa Maria di Galeria, voltada para a transição energética da Santa Sé. O local foi visitado por Leão XIV em 19 de junho, como demonstração de seu apoio à ecologia integral.
“O objetivo é continuar melhorando a cobertura do déficit também em 2025”, conclui Piccinotti, que resumiu tudo com uma frase herdada do avô: “Não se pode tirar mais de 15 quilos de cerejas de uma cerejeira”.
“Estamos perto do limite, mas ainda há espaço para melhorias”, disse ele. “A gestão já é boa, mas não estamos parados”.





