22 de jul de 2025 às 14:55
Por décadas, os seminários nos EUA, afetados pela crise pós-Concílio Vaticano II da década de 1960 e pela crise de abusos sexuais, viveram um declínio constante no número de candidatos ao sacerdócio.
Até agora, essa tendência não mudou, mas não reflete mais a realidade dos seminários, que estão no seu melhor momento em décadas em termos de cultura e qualidade de formação sacerdotal, segundo especialistas.
“Estou convencido de que os seminários católicos americanos estão em ótima forma, melhores do que em muitas décadas”, disse o padre Carter Griffin, reitor do Seminário São João Paulo II em Washington, D.C. “Embora existam estatísticas sobre a formação nos seminários, minha própria conclusão se baseia na minha experiência pessoal e em conversas com muitos outros reitores e formadores de seminários em meus 14 anos nesta função”.
“Eu até chamaria isso de uma era de ouro da formação nos seminários”, diz também Griffin.
“Alguns seminários ainda precisam de reformas, mas... na maior parte, os seminários americanos estão no seu melhor momento em décadas”, concordou George Weigel, autor católico e membro do Centro de Ética e Políticas Públicas nos EUA.
Weigel, palestrante frequente em seminários americanos, diz que observou “um nível de maturidade entre os seminaristas e o envolvimento do corpo docente na formação que teria sido surpreendente há 40 anos, talvez até 25”.
No ano acadêmico de 2023-2024, a matrícula em programas de formação sacerdotal de pós-graduação chegou a 2.920 seminaristas, um aumento de 6%, embora, no geral, represente uma "continuação de um declínio relativamente lento e de longo prazo" dos últimos 40 anos, quando o número comparável era o dobro, 6.426, segundo um relatório anual sobre seminários dos EUA publicado pelo Centro de Pesquisa Aplicada no Apostolado da Universidade de Georgetown.
Esses números não estão errados, mas eles não significam mais o que costumavam significar.
"Métricas podem ser uma armadilha e um engano, pois não conseguem medir matematicamente a maturidade espiritual e intelectual, nem o comprometimento pastoral", disse Weigel. “Na verdade, números mais baixos podem, às vezes, ser um sinal de saúde".
“Vou sugerir um indicador que considero encorajador: o número de jovens que são convidados a deixar os seminários porque, na opinião de formadores sábios e experientes, simplesmente não possuem as qualidades necessárias para um bom desempenho no ministério ordenado”, disse também o autor. “Os dias em que a admissão no seminário era praticamente uma garantia de ordenação estão quase no fim”.
Muitos situam essa mudança por volta dos anos 2000.
“Vinte anos atrás, os seminários só estavam começando”, diz Carmina Chapp, reitora da Escola de Estudos Teológicos do Seminário Saint Charles Borromeo, nos arredores da Filadélfia, Pensilvânia.
"Acredito que, a partir daí, os seminários começaram a melhorar na qualidade do ensino, no desenvolvimento intelectual e na atenção ao desenvolvimento humano", diz ela.
“Com relação à reforma do seminário, a crise de abusos de 2002 concentrou profundamente a atenção dos bispos”, diz Weigel.
"A crise dos abusos", diz ele, "deixou inequivocamente claro que o aumento nos casos de abuso ocorreu na esteira do colapso da disciplina teológica e formativa nos seminários em meados e no fim da década de 1960".
Depois da crise de abusos, a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês) deu maior ênfase à "formação humana" dos padres e à disciplina do celibato no Programa de Formação Sacerdotal (PPF, na sigla em inglês), que estabelece diretrizes para preparar todos os seminaristas dos EUA para o sacerdócio.
Por exemplo, a primeira edição, publicada em 1971, só tinha quatro parágrafos sobre celibato, segundo um artigo na revista jesuíta America. A segunda edição, publicada em 1976, acrescentou um parágrafo, e a edição de 1981 acrescentou vários outros, segundo uma apresentação da irmã franciscana Katarina Schuth na Escola de Teologia do Seminário St. Paul da Universidade de St. Thomas, publicada no site da USCCB.
A edição seguinte, em 1992, ampliou significativamente o tratamento do celibato. Naquele mesmo ano, o papa são João Paulo II publicou Pastores dabo vobis, uma exortação apostólica pós-sinodal sobre a formação dos sacerdotes, o primeiro documento papal depois de uma geração. (A anterior foi a encíclica Sacerdotalis caelibatus, de 1967, do papa são Paulo VI, sobre o celibato sacerdotal).
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O padre Griffin descreve Pastores dabo vobis como a “magna carta” da formação do seminário, pois se concentra “nas quatro áreas da formação sacerdotal, entre elas, mais importante, a formação humana”.
“Incrivelmente, embora a formação humana fosse ensinada nos seminários antes disso, não havia um foco explícito”, diz Griffin. “Estamos agora na segunda ou terceira geração de padres formados sob a Pastores dabo vobis, e isso fez uma enorme diferença. As profundas divisões geracionais que atormentavam os seminários no passado não existem mais”.
A quinta edição do Programa de Formação Sacerdotal, publicada em 2005, reflete a influência de Pastores dabo vobis, e o celibato é abordado cerca de 20 vezes ao longo do documento principal.
Segundo Chapp, as múltiplas atualizações do programa aprimoraram a "formação humana" dos seminaristas.
"Também acho que eles têm se mostrado atentos à cultura e aos pressupostos que os homens trazem para o seminário, que precisam ser abordados, reafirmados ou não", diz Chapp. "Muitos homens chegam ao seminário com uma ferida na cultura geral que precisa ser curada para que possam ser capacitados a curar outros como padres".
"Os avisos da história estão sobre nós", diz o padre Griffin.
“A crise dos abusos sexuais do clero surgiu, na minha interpretação, porque muitos homens entraram no seminário e foram ordenados quando nunca deveriam ter sido”, diz também o padre. “Embora longe de serem perfeitos, os padrões de admissão são mais rigorosos hoje em dia, os instrumentos usados (como testes psicológicos extensivos) são mais rigorosos, e aqueles que tomam decisões sobre admissões e promoções estão mais cientes dos perigos de ordenar os homens errados”.
Não se trata só de formação humana e de uma maior ênfase no celibato sacerdotal.
Os seminários também mudaram a maneira como treinam teologicamente os futuros padres, passando de um currículo baseado nas obras de Karl Rahner para um currículo influenciado pelos escritos de Hans Urs von Balthasar e do papa Bento XVI, segundo Chapp.
A abordagem mais recente é baseada no movimento de ressourcement: uma renovação teológica por meio de um "volta às fontes", particularmente às Escrituras e aos Padres da Igreja.
A riqueza teológica parece andar de mãos dadas com o rigor moral e a solidez espiritual.
"O tipo de homem que se prepara para discernir o sacerdócio, em nossa era cada vez mais secular, não está interessado em um cristianismo diluído”, diz o padre Griffin. “Não conheço nenhum seminarista que deseje uma mensagem evangélica requentada que anseie pela aprovação da cultura mais ampla".
"Acompanhei de perto 250 seminaristas ao longo destes 14 anos, e quase todos desejam uma proclamação poderosa, confiante e clara da mensagem completa do Evangelho, tanto nas partes agradáveis quanto nas mais difíceis”, diz também Griffin. “São fiéis à Igreja, sinceros e abertos à formação. Essa tem sido não só a minha experiência, mas a de praticamente todos os formadores que conheço".
Agora, com a eleição de um papa americano, os seminários podem receber um impulso adicional.
“É muito cedo para dizer, visto que a maior parte do discernimento e das inscrições para o seminário deste ano já estavam em andamento quando o papa Leão foi eleito”, diz o padre. “No entanto, tenho certeza de que um papa americano só pode ter uma influência positiva nas inscrições para o seminário. Eu ficaria surpreso se ele não colocasse o sacerdócio no mapa para muitos jovens americanos”.
"Imagino que, com o tempo, fará uma diferença considerável o fato de o atual papa já ter deixado claro seu apreço por padres e seminaristas, algo que não era uma característica proeminente de seu antecessor imediato", diz Weigel, concordando.
Embora seja muito cedo para prever o efeito de Leão XIV nas futuras vocações ao sacerdócio, Chapp diz que os atuais seminaristas da St. Charles Borromeo estão "muito animados".
"Eles estão muito otimistas e esperançosos porque o papa é americano", diz ela.



