17 de jul de 2025 às 15:52
O padre Yusuf Asad, de 49 anos de idade, vice-pároco da igreja da Sagrada Família em Gaza há seis anos, tinha acabado de celebrar a missa matinal quando se ouviu um forte estrondo. Por volta das 10h20, um projétil atingiu o prédio.
"Caiu diretamente no telhado”, disse Anton Asfar, diretor da Cáritas Jerusalém, à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI. “A explosão ocorreu próximo à cruz da igreja e espalhou estilhaços por todo o pátio". Logo depois do ataque, ele recebeu uma ligação de Gaza alertando-o sobre o incidente.
“Posteriormente, fomos esclarecidos que, no momento da explosão, havia algumas pessoas no pátio externo, embora o padre Gabriele Romanelli, pároco, tivesse alertado todos para ficarem dentro da igreja”, diz Asfar.
“Sem os avisos do padre Romanelli para ficarmos do lado de dentro, poderíamos ter perdido 50 ou 60 pessoas”, disse também o padre, abalado. “Teria sido um massacre”.
O prédio da única igreja católica na faixa de Gaza tem uma igreja, uma escola, um convento, um centro multiuso e um prédio para as missionárias da Caridade. No início do confronto entre as Forças de Defesa de Israel e o grupo terrorista muçulmano Hamas, que controla a faixa de Gaza, em outubro de 2023, a igreja tornou-se um abrigo improvisado para cerca de 500 deslocados.
A maioria é composta por cristãos ortodoxos, protestantes e católicos, mas também há cerca de 50 crianças muçulmanas com deficiências vivendo lá com suas famílias.
"Estamos avaliando a situação em conjunto com o patriarcado latino de Jerusalém para entender o que aconteceu”, diz o padre Asfar. “As pessoas estão em choque".
Ele diz que o exército israelense emite ordens de evacuação ou deslocamento todos os dias.
"Há uma ameaça constante”, diz o padre. “Há dois domingos, houve uma ordem de evacuação para o bairro residencial de al-Zaytun", onde fica a paróquia na Cidade de Gaza.
Os ataques se intensificaram nas últimas semanas, e bombas caíram continuamente ao redor da paróquia, que tinha 1.017 paroquianos antes dos ataques de 7 de outubro de 2023, em que terroristas do Hamas invadiram Israel, mataram cerca de 1,2 mil pessoas e sequestraram centenas de israelenses, 50 dos quais, vivos e mortos, ainda são mantidos reféns por terroristas na faixa de Gaza.
Não há áreas seguras em Gaza
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"É muito difícil transportar as pessoas”, lamenta Asfar. “Todos estão determinados a permanecer nas igrejas e continuar se refugiando lá. Mas a verdade é que não há mais áreas seguras em Gaza".
Até o momento, o patriarcado latino de Jerusalém confirmou três mortes. Um dos mortos é Saad Issa Kostandi Salameh, de 60 anos de idade, que era gerente de manutenção da paróquia e estava no pátio no momento da explosão.
Os outros dois mortos são Foumia Issa Latif Ayyad, uma mulher de 84 anos de idade, e Najwa Abu Daoud, de 70 anos de idade, que estavam recebendo atendimento psicológico na hora do ataque dentro da tenda do projeto de apoio psicossocial da Cáritas.
"As pessoas ficaram apavoradas quando começou a evacuação dos feridos para o hospital”, diz Asfar. “O padre Gabriele [Romanelli] também foi levado para lá porque teve um ferimento leve na perna, mas está fora de perigo".
Além do padre argentino do Instituto do Verbo Encarnado, outras oito pessoas ficaram feridas e foram levadas às pressas para o Hospital Al Mamadami, a um quilômetro da igreja. Mas os bombardeios também sobrecarregaram a capacidade dos centros de saúde, que estão sem eletricidade e suprimentos médicos.
"Não há remédios, nem água potável”, diz o padre Asfar. “Há uma grave escassez de combustível, essencial para hospitais e centros médicos".
O último fluxo significativo de ajuda humanitária para Gaza ocorreu há mais de quatro meses.
"Nada entrou desde 2 de março”, diz Asfar. “Só pequenas quantias de ajuda”.
“A única operação ativa é a Gaza Interim Foundation (Fundação Interina de Gaza), mas não é suficiente”, diz também o padre. “Quatro centros não podem substituir os 400 pontos de distribuição que existiam na trégua".
A situação humanitária é grave. A Cáritas tem atualmente cerca de 120 funcionários atuando em Gaza, distribuídos por dez centros médicos, mas os recursos estão se esgotando. As fronteiras permanecem fechadas, colocando a população numa situação desesperadora.
"As pessoas estão morrendo de fome”, conclui Asfar. “Todas as crianças sofrem de desnutrição".






