O papa Leão XIV acusou hoje (26) violações do direito internacional e humanitário em Gaza e na Ucrânia.

Em discurso no Encontro das Organizações de Ajuda às Igrejas Orientais, braço operacional da Santa Sé para auxiliar as Igrejas orientais, o papa lamentou "a imposição da lei do mais forte" nesses territórios, "com base na qual são legitimados os próprios interesses".

“É desolador ver que a força do direito internacional e do direito humanitário parece não ter mais efeitos vinculantes, substituída pelo suposto direito de obrigar os outros pela força”, disse Leão XIV. “Isso é indigno do homem, é vergonhoso para a humanidade e para os responsáveis​​ pelas nações”.

O papa pediu também à comunidade internacional olhe os conflitos para "verificar as causas reais e tentar superá-las, e a rejeitar os espúrios, fruto de simulações emocionais e retóricas, desmascarando-os resolutamente".

"As pessoas não podem morrer por causa de fake news", denunciou ele, sem dizer a que tipo de informação se referia.

"Como se pode continuar a trair os desejos de paz dos povos com a falsa propaganda do rearmamento, na vã ilusão de que a supremacia resolve os problemas em vez de alimentar o ódio e a vingança?", perguntou Leão XIV.

Dois dias depois dos 32 membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) assinarem um compromisso de aumentar os gastos com defesa para 5% do produto interno bruto (PIB) dos países membros em dez anos, o papa disse que os gastos com armas de defesa não são a solução para conter conflitos.

Dinheiro que vai parar nos bolsos dos mercadores da morte

"As pessoas desconhecem cada vez mais a quantidade de dinheiro que vai para os bolsos dos mercadores da morte e com a qual hospitais e escolas poderiam ser construídos; e, em vez disso, os que já foram construídos são destruídos", disse ele.

A audiência no Vaticano, que se seguiu à 98ª assembleia da Encontro das Organizações de Ajuda às Igrejas Orientais, realizada na última terça-feira (24) e ontem (25), que analisou a situação na Terra Santa (especialmente na Faixa de Gaza), Armênia, Síria, Etiópia, Ucrânia e outras áreas onde a ação diplomática da Santa Sé está concentrada, teve a presença do prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais, cardeal Claudio Gugerotti, presidente desta organização; e de representantes de agências católicas.

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Leão XIV lamentou "a ausência física daqueles que deveriam ter vindo da Terra Santa, mas não puderam fazer a viagem", devido a restrições de voo causadas pelo conflito.

O papa agradeceu a todos pelo trabalho que a ROACO está fazendo nesses países, que estão "envoltos num manto de ódio que torna o ar irrespirável e tóxico", e criticou a violência da guerra que está acontecendo "com uma veemência diabólica nunca vista antes".

Ele disse também que a história das Igrejas Católicas orientais também foi marcada por "opressão e incompreensão dentro da própria estrutura católica, incapaz de reconhecer e apreciar o valor de outras tradições além da ocidental".

Leão XIV disse que, além de serem pacificadores e promotores do diálogo, os cristãos devem orar verdadeiramente e dar testemunho.

"Cabe a nós fazer de cada notícia e imagem trágica que nos atinge um grito de intercessão a Deus", disse o papa.

Ele pediu também aos cristãos que permaneçam fiéis a Jesus, "sem se deixarem capturar pelos tentáculos do poder".

Leão XIV falou também sobre as tradições orientais, mas lamentou que na Igreja "ainda haja muita ignorância sobre elas".

"O seu sentido do sagrado, a sua fé cristalina, tornada granítica pelas provações, e a sua espiritualidade que exala o perfume do mistério divino, podem beneficiar a sede de Deus latente mas presente no Ocidente", disse o papa.

Por isso, ele disse que é necessário "organizar cursos básicos sobre as Igrejas Orientais nos seminários, faculdades de teologia e centros universitários católicos".

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"Os católicos orientais de hoje já não são primos distantes que celebram ritos desconhecidos, mas irmãos e irmãs que, devido à migração forçada, vivem ao nosso lado", disse Leão XIV.