Defensores do casamento católico e da família esperam que o papa Leão XIV intervenha para ajudar os pais a proteger seus filhos diante das novas diretrizes de educação sexual impostas numa grande diocese alemã que promovem a agenda LGBT, com tópicos como vestir-se como o sexo oposto e “identidades não-binárias”.

Eles dizem que as novas diretrizes são mais uma prova do abandono da doutrina moral da Igreja na sociedade, fruto do Caminho Sinodal Alemão de 2019-2023, e parte de um "aprisionamento completo" de pais católicos que desejam proteger seus filhos de "doutrinação".

A arquidiocese de Hamburgo publicou em 5 de junho a “novo quadro para a educação sexual nas escolas católicas”, trombeteada como “um sinal claro para uma pedagogia sexual contemporânea, baseada em valores e cientificamente fundamentada”.

Sua implementação, diz o vigário-geral de Hamburgo, o padre palotino Sascha-Philipp Geißler, é “um passo importante em direção ao desenvolvimento de atitudes, de obter justiça em nossas escolas e de fortalecer professores e toda a equipe educacional”.

Ele alega não se introduz uma nova teologia, mas sim "a aceitação da diversidade em relação às orientações sexuais e identidades de gênero". O padre disse também que eles estão defendendo "uma visão da que afirma a vida e, nesse sentido, é positiva, da sexualidade".

A arquidiocese emitiu um comunicado em 5 de junho dizendo que “o reconhecimento de diferentes identidades e orientações sexuais é promovido ativamente” e que “a discriminação e os tabus” devem ser “conscientemente desmantelados”.

Christopher Haep, chefe do departamento da arquidiocese de Hamburgo para escolas e universidades, disse que a arquidiocese quer que as escolas católicas “sejam lugares seguros onde a sexualidade não seja tabu, mas seja reconhecida em toda a sua complexidade e dignidade”.

“As perspectivas e os sistemas de valores mudaram nas últimas décadas”, disse Haep, “e, consequentemente, nós também devemos ser capazes de dar respostas contemporâneas às questões das crianças e dos jovens”.

Resumindo o programa, a arquidiocese falou sobre seus diferentes elementos, como “educação sexual holística” (transmitida de uma forma “sensível ao gênero”), “promoção da competência de relacionamento” (lidar com “os próprios sentimentos e os dos outros”) e capacitação dos jovens para “desenvolver sua identidade”.

“Oportunidades de treinamento e conhecimento externo” serão fornecidos, disse a arquidiocese, enquanto Haep gabou-se de que a arquidiocese está se posicionando “como pioneira na educação sexual voltada para o futuro, que combina valores cristãos com abertura e respeito”.

As novas diretrizes serão implementadas a partir do ano letivo de 2026-2027 em todas as 15 escolas católicas de Hamburgo e “avaliadas regularmente para garantir e desenvolver ainda mais o impacto do quadro”.

O arcebispo de Hamburgo, Stefan Heße, pediu em 2018 que a Igreja adotasse uma abordagem mais aberta à sexualidade e que a questão da homossexualidade fosse reclassificada teologicamente.

O anúncio das diretrizes também ocorre num momento em que a arquidiocese de Hamburgo está perto de ser dissolvida e possivelmente incorporada a outras dioceses, depois de anos sofrendo com sérios problemas financeiros e escassez de vocações. No ano passado, não houve nenhuma ordenação sacerdotal.

Críticas Fortes

Os principais católicos pró-família e casamento criticaram as diretrizes, que eles dizem ser parte da chamada "Educação Sexual Abrangente", baseada no trabalho de Uwe Sielert, professor emérito de "ciências sexuais" na Universidade Christian-Albrechts de Kiel.

Fundador do programa de educação sexual da Alemanha, Sielert foi aluno do professor Helmut Kentler (1928-2008), que, segundo o grupo de defesa da família DemoFürAlle, foi um notório defensor da pedofilia, uma "figura central numa rede de abuso pedófilo" e o criador da "educação sexual emancipatória" que se enraizou em toda a Alemanha.

Kentler "construiu um universo de educação sexual com o Instituto de Educação Sexual, que fundou em 1988", disse Hedwig von Beverfoerde, fundadora do DemoFürAlle. Sielert tornou-se então "o elo entre as visões de educação sexual de Kentler e os patrocinadores e facilitadores políticos", antes de "transformar a agenda de Kentler", complementando a abordagem de Kentler "com a intenção neoemancipatória moderna de romper com as atitudes e imagens heteronormativas das crianças".

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Von Beverfoerde disse ao jornal National Catholic Register, da EWTN, na última quarta-feira (25) que o quadro de Hamburgo "incorpora as ideias altamente questionáveis ​​e não científicas" de Kentler, "que falsamente alegou que as crianças são seres inerentemente sexuais — afirmação perigosa que leva à ideia de que os adultos teriam que introduzir as crianças na sexualidade".

Ela disse que a ideologia dele se infiltrou nos currículos universitários e escolares, e até mesmo nos padrões de educação sexual da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa.  Além disso, Von Beverfoerde disse que o quadro de Hamburgo está "ideologicamente alinhado às ideias do Caminho Sinodal, que busca relativizar a doutrina sexual da Igreja e normalizar as ideologias LGBTQIA+ dentro da Igreja".

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A erosão da doutrina nesse campo "não é acidental", disse também ela. "Faz parte de uma agenda mais ampla, e é por isso que é tão difícil a resistência".

Gabriele Kuby, escritora e socióloga católica alemã, também acredita que o quadro de Hamburgo está em "acordo com as resoluções" do Caminho Sinodal Alemão, um debate de quatro anos entre bispos e uma associação de empregados leigos da Igreja na Alemanha, no qual o escândalo de abuso sexual clerical foi usado para introduzir mudanças radicais. Ela também vê isso como consequência não só do que chamou de "recaída na barbárie do paganismo" da sociedade, mas também da incapacidade de combater adequadamente o abandono da moral sexual da Igreja.

O papa Francisco interveio várias vezes para interromper o processo, disse ela, "mas só na questão de dissolver a autoridade do bispo pela intenção de compartilhá-la com os leigos" — ou seja,  com o poderoso Comitê Central de Católicos Alemães (ZdK, na sigla em alemão), chefiado pela cientista social alemã Irme Stetter-Karp, "que defende o aumento de clínicas de aborto".

Von Beverfoerde acredita que essa forma de educação sexual tem "grande probabilidade" de ser replicada em todas as dioceses alemãs, acrescentando que "conceitos e linguagem semelhantes aparecem em documentos de políticas interdiocesanas, o que torna difícil para um único bispo ou diocese discordar e seguir um caminho mais tradicional".

Kuby, que esteve na vanguarda da luta contra a teoria de gênero, escreveu em seu livro Fürchte dich nicht du kleine Herde: wenn die Hirten mit den Wölfen tanzen (Não temas, pequeno rebanho: quando os pastores dançam com os lobos, em tradução livre), publicado em 2023, que a cruz de Cristo foi substituída na Alemanha pela bandeira do arco-íris, símbolo do movimento LGBT.  Sacerdotes e fiéis que desejam permanecer fiéis a Jesus, disse ela, "agora enfrentam uma escolha na maioria das dioceses: lealdade à verdade revelada ou obediência ao bispo — uma alternativa diabólica".

Xeque-mate a cada passo

Thomas Ward, presidente da Academia João Paulo II para a Vida Humana e a Família, disse ao Register que os pais católicos alemães agora enfrentam um "aprisionamento completo": primeiro, eles não podem educar seus filhos em casa, pois é contra a lei na Alemanha, e correm o risco de multas, deportação dos filhos e prisão; e, segundo, eles têm que pagar o imposto eclesiástico, parte do qual é usado para financiar essa "doutrinação" sexual de seus filhos. A falta de pagamento leva a severas penalidades eclesiásticas que equivalem efetivamente à excomunhão, embora não sejam formalmente chamadas assim.

“Por que pais amorosos, os principais educadores que deram vida aos seus filhos, devem ser forçados a pagar por sua corrupção?”,  disse Ward. “Pais católicos enfrentam xeque-mate a cada passo; é uma armadilha absolutamente perversa. São João Paulo II nunca se cansou de ensinar que o futuro da Igreja passa pela família. Ambas foram sequestradas na Alemanha”.

Kuby disse que a Igreja na Alemanha atingiu há muito tempo o "ápice do abandono da doutrina moral da Igreja nas escolas católicas e nos jardins de infância", acrescentando que, por anos, os pais católicos "nunca receberam qualquer apoio de seus bispos", nem mesmo de líderes firmemente ortodoxos da Igreja firmemente, como o falecido arcebispo de Colônia Joachim Meisner. "Os padres evitam o assunto”, disse Kuby.  “Pois provavelmente sofreriam consequências severas se se manifestassem". 

Para combater essa tendência atual, Ward disse que “os pais precisam organizar, por assim dizer, botes salva-vidas” para resgatar suas famílias dessa situação, e os incentivou a “se associarem a outros pais para se oporem a essa usurpação de seus direitos pelo Estado e pela hierarquia”.

Pais têm o direito e o dever irrevogável de dar uma educação moral católica aos seus filhos, disse ele, e, citando a encíclica Mit brennender sorge , publicada pelo papa Pio XI em 1937 , escrita especificamente para famílias católicas na Alemanha então governada por Adolf Hitler, ele acrescentou que, se a educação profana “o templo da alma da criança”, então é “dever de cada um separar sua responsabilidade do campo oposto e libertar sua consciência da cooperação culposa com a corrupção”.

Von Beverfoerde disse que uma tal educação sexual “deve ser removida de todas as instituições educacionais”, dizendo também que ela enfraquece a “verdade científica”, a antropologia cristã e a doutrina moral da Igreja.

Enquanto isso, os pais têm algumas poucas opções disponíveis, disse ela. Eles podem recorrer ao direito canônico, especificamente aos cânones 793, 796 e 803, que sustentam os direitos dos pais católicos em relação à educação de seus filhos; encontrar pais com a mesma mentalidade, como sugere Ward; encaminhar suas preocupações aos administradores escolares; apelar ao seu bispo, à Santa Sé e aos seus direitos constitucionais; e, se tudo isso falhar, encontrar outra escola, "por mais difícil que seja".

“Espero e rezo fortemente para que o novo Santo Padre, Leão XIV, reafirme explicitamente a moral sexual católica tradicional e convoque bispos e padres na Alemanha e no mundo todo a ensiná-la e implementá-la fielmente nas escolas diocesanas e jardins de infância”, disse von Beverfoerde.

“Uma posição clara e corajosa de Roma é essencial para deter esses desvios doutrinários e restaurar a integridade da educação católica”, disse von Beverfoerde. “Especialmente se Roma quiser combater o abuso infantil, é necessário acabar com ideias que destroem a inocência de uma criança”.