As vocações sacerdotais na Espanha não estão mais em queda livre, mostram os dados mais recentes da subcomissão de seminários da Conferência Episcopal Espanhola (CEE).

Depois de três anos consecutivos de queda, 1.036 seminaristas estão sendo formados no ano acadêmico de 2024-2025, em comparação com 956 no ano anterior.

Parte do segredo desse aumento de 8,37% está no padre Florentino Pérez Vaquero, que coordena um projeto de renovação da pastoral vocacional da CEE desde junho do ano passado.

"Mais do que um projeto, é uma realidade que oferece uma resposta ao contexto histórico e social em que nos encontramos", disse o padre à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI.

Sacerdotes felizes

Hoje (26) o padre Vaquero fala sobre os detalhes do projeto com Leão XIV no encontro internacional Sacerdotes Felizes, promovido pelo Dicastério para o Clero. O evento acontece num auditório a poucos metros do Vaticano, como parte do Jubileu dos Sacerdotes que é celebrado esta semana.

Sua apresentação é uma das cinco propostas de boas práticas na pastoral vocacional. Ela se concentra, por um lado, no modelo de "seminário familiar", que já está sendo implementado na Espanha e consiste em orientação vocacional desde a infância, mas sem fazer parte de uma comunidade eclesial isolada.

"A partir dos 12 ou 13 anos, a vocação sacerdotal é apresentada explicitamente às crianças e adolescentes, mas dentro de um processo de acompanhamento familiar”, diz o padre espanhol. “Além disso, há um contato muito próximo com a paróquia de origem e o centro educacional em que recebem formação acadêmica".

Esses jovens seminaristas vivem em suas casas e continuam frequentando suas escolas e, nos fins de semana, participam de atividades comunitárias de formação, oração e discernimento.

O modelo, diz o padre, busca responder às novas realidades familiares e sociais.

"Hoje, principalmente quando falamos de menores de idade, lidamos com uma questão complexa”, diz Vaquero. “As famílias têm dificuldade em se desapegar dos filhos, e vimos que não é incompatível fazer um processo vocacional em conjunto com a família".

Esse novo sistema também responde a uma mudança cultural e emocional. O concílio de Trento, no século XVI, decretou a criação de seminários em cada diocese para a formação de padres. Essa proposta é hoje amplamente negligenciada, também devido às circunstâncias econômicas das dioceses que se veem incapazes de arcar com os custos de manutenção das aulas do seminário.

"Economicamente, é um investimento muito significativo que nem todas as dioceses conseguem sustentar ao longo do tempo”, diz o padre. “Na Igreja, os métodos que nos serviram bem no passado não se adaptam mais à realidade social atual".

O padre de Zamora, Espanha, fala especificamente sobre a chamada "geração alfa", ou seja, adolescentes nascidos depois de 2010 que estão imersos na era digital desde que nasceram.

"Isso molda os padrões psicológicos, relacionais e de pensamento das próprias crianças", diz o padre espanhol.

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A isso se soma a profunda transformação demográfica que a Espanha sofreu nos últimos anos, marcada pelo envelhecimento da população e baixas taxas de natalidade.

"Cada vez vemos menos crianças e menos jovens em nossas comunidades cristãs", diz Pérez.

Seminários interdiocesanos

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Diante da escassez de vocações em muitas dioceses pequenas, a Espanha está passando por uma transformação estrutural que permite que seminaristas de diferentes dioceses sejam formados "num único projeto educativo, de forma muito sinodal e em comunhão". São seminários interdiocesanos. Por exemplo, em Madri, seminaristas da diocese de Sigüenza-Guadalajara também são acolhidos; e em Valência, seminaristas de Ibiza e Menorca.

Neste contexto, o padre fala sobre uma vocação sacerdotal entendida como uma resposta alegre e alternativa num mundo marcado pela fragmentação e pelo narcisismo.

"A vocação sacerdotal se apresenta como uma opção de estilo de vida um tanto contracorrente”, diz ele. “É um estilo de vida alternativo, contrário ao estilo de vida promovido num mundo marcado pelo individualismo, pelo materialismo e pela incapacidade de doação de si".

Como Leão XIV destacou em seu encontro de ontem com jovens seminaristas de 57 países, é muito importante dar formação emocional.

"Nos seminários, é necessária maturidade emocional que permita ao padre responder aos desafios do mundo de hoje", diz também Vaquero.

Leigos e mulheres na formação

Em consonância com as diretrizes do Sínodo da Sinodalidade e da Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, publicada em 2016, esse modelo de formação promove ampla participação de leigos, mulheres e homens consagrados.

"Um padre se torna padre por meio de relacionamentos”, diz o padre Pérez. “Por isso é tão importante que o processo de formação tenha pessoas com as quais eles estarão em contato constante em seu ambiente pastoral".

O padre espanhol diz que a formação não pode ser um processo fechado, clerical e isolado, mas sim aberto e plural.

"Quando os seminaristas são formados nessa experiência de comunhão, eles também aprendem a trabalhar na comunhão da Igreja”, diz o padre. “Como uma equipe, em comunhão com outras vocações e carismas".