Há rumores de que uma delegação da China visita o Vaticano no fim deste mês para discutir as relações sino-vaticanas e o andamento do acordo sobre nomeação de bispos. A notícia ainda não é oficial, mas o jornal National Catholic Register, da EWTN, confirmou a informação por meio de uma fonte da Santa Sé e de uma fonte da China.

A reunião faz parte de uma série regular de encontros, que agora são feitos duas vezes por ano — um no Vaticano e outro na China — estabelecidos como rotina depois da assinatura do acordo para a nomeação de bispos em 2022. Esse acordo já foi renovado três vezes, mas seu conteúdo permanece confidencial.

Essa é a primeira vez que o encontro ocorre no pontificado de Leão XIV e, por isso, há muita curiosidade para entender como ele se desenvolverá.

As autoridades chinesas, que obtiveram uma extensão de quatro anos na última renovação, em vez dos dois anos concedidos anteriormente, querem tornar o acordo permanente. A Santa Sé não se opôs a isso até agora, pois um acordo definitivo, ou quase, permitiria a publicação das condições, tornando todo o processo mais transparente.

Controvérsias

A questão é se é apropriado tornar o processo mais transparente. No período entre a morte do papa Francisco e a eleição de Leão XIV, período de sede vacante, autoridades chinesas anunciaram a eleição de dois bispos auxiliares, efetivamente ignorando a Santa Sé. Em 16 de maio, o secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, disse que, de qualquer modo, essas nomeações faziam parte dos acordos. Portanto, não se tratava de ignorar a autoridade papal. No entanto, na sede vacante, as nomeações episcopais são suspensas porque não há um papa para fazê-las.

A China, no entanto, alterna esses sinais de "imposição", se é que podem ser chamados assim, com alguns sinais de abertura. Na semana passada, as autoridades chinesas reconheceram o bispo Lin Yuntuan, de 73 anos de idade, bispo clandestino desde 2017 que foi nomeado bispo auxiliar da arquidiocese de Fuzhou por Leão XIV.

O reconhecimento do bispo Lin, disse Asia News, agência católica de notícias da Ásia, veio com o objetivo de trazer unidade à comunidade de Fuzhou, uma das mais significativas para o catolicismo chinês e ainda marcada por profundas divisões.

Em 2017, por ocasião da nomeação do bispo de Fuzhou, Joseph Cai Bingrui, de 57 anos, que era muito mais jovem que ele e já havia sido bispo de Xiamen, o bispo Lin pediu "cooperação ativa para orientar o clero, as freiras e os fiéis de Fuzhou a serem obedientes e apoiarem o bispo Cai", aceitando, no fim, a nomeação e prometendo não causar desunião em sua diocese.

O site China Catholic, da Associação Patriótica, a igreja autorizada pelo Estado na China, falou sobre a cerimônia de instalação.

O evento foi celebrado pelo bispo de Mindong, Vincenzo Zhan Silu, um dos dois bispos chineses que participaram do Sínodo da Sinodalidade no Vaticano em outubro do ano passado, junto com o bispo Cai e o bispo Peter Wu Yishun, da prefeitura de Shaowu, em Minbei, no norte de Fujian, um dos últimos bispos nomeados no ano passado sob o acordo.

Como de costume, o China Catholic disse que o bispo auxiliar prometeu "respeitar a Constituição e as leis do país, salvaguardar a unidade da pátria e a harmonia social, amar o país e a religião, aderir ao princípio de independência e autogestão da Igreja, seguir a direção da sinicização do catolicismo em nosso país e contribuir para a construção geral de um país socialista moderno e a promoção integral do grande renascimento da nação chinesa".

A atitude chinesa

Diante dessas garantias formais, há um fato crucial: a China reconheceu — ou pelo menos pareceu reconhecer — a importância das comunidades "clandestinas", especialmente em Fujian. Até mesmo o antecessor de Cai, o bispo Peter Lin Jiashan, que morreu aos 88 anos de idade em 2023, era um ex-bispo "clandestino" que também havia sido submetido a trabalhos forçados e foi então reconhecido pelas autoridades em 2020, novamente sob o acordo entre Pequim e a Santa Sé.

A Santa Sé recebeu bem a notícia, mas ainda não se sabe qual será o papel real do bispo Lin — e se ele poderá ajudar a diminuir a distância entre as comunidades oficial e clandestina.

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Há um precedente. Em 2018, imediatamente depois do acordo, a Santa Sé nomeou o bispo "oficial", Zhan Silu, ordinário de Mindong, ao lado do "clandestino" Vincenzo Guo Xijin como auxiliar. No entanto, Guo foi marginalizado e, depois de dois anos, renunciou ao cargo, sofrendo severas restrições até recentemente.

Mais em

Leão XIV, no entanto, também foi chamado para lidar com a eleição de dois candidatos a bispos que ocorreu no período de sede vacante, com um novo auxiliar em Xangai e um novo ordinário de Xinjiang.

Em 28 de abril, o vigário-geral de Xangai, Wu Jianlin, foi "eleito" bispo auxiliar de Xangai por uma reunião dos membros, enquanto em 29 de abril, o padre Li Jianlin foi eleito bispo de Xinjiang. Em Xinjiang, aliás, já há um bispo, Joseph Zhang Weizhu, que foi nomeado clandestinamente pelo papa são João Paulo II em 1991 e foi preso em várias ocasiões por se dedicar ao ministério por décadas sem a aprovação do Estado chinês. Desde 2021, ele está detido num local não revelado.

O cardeal Parolin disse que essa não é uma nomeação "unilateral", mas sim uma forma de abuso, pois, numa cátedra vacante, os bispos não são nomeados. Além disso, a nomeação de um auxiliar para Xangai é problemática.

Em 2023, as autoridades chinesas anunciaram a decisão unilateral de transferir o bispo Joseph Shen Bin de Haimen para a diocese vacante de Xangai, cujo auxiliar, Thaddeus Ma Daqin, estava em prisão domiciliar desde 2012 por se recusar a permanecer na Associação Patriótica. Nessa organização estatal, Pequim quer que os padres se registrem em nome da sinicização. O papa Francisco decidiu posteriormente "curar" a nomeação, mas a ruptura persistiu.

A mão da Santa Sé estendida à China

O papa Francisco procurou agradar a China várias vezes. Em 7 de março, Meng Anming, professor de biologia do desenvolvimento na Universidade Tsinghua, em Pequim, foi nomeado membro da Pontifícia Academia de Ciências.

Meng Anming não foi o primeiro chinês a ser membro da Academia da Santa Sé. Antes dele, no início de junho de 2023, Bai Tongdong, cientista político chinês que falar sobre geopolítica segundo os princípios do neoconfucionismo, era da academia.

No final do mesmo mês, a mesma Pontifícia Academia organizou um workshop, intitulado Diálogo entre Civilizações e Bens Comuns, com o objetivo de compreender realidades emergentes no campo geopolítico, como a China e a Índia, a partir da perspectiva de suas próprias culturas.

Mas a manobra de aproximação já havia começado antes. Em 2017, uma conferência internacional sobre tráfico de órgãos foi feita na Casina Pio IV, sede da academia, com a presença de dois delegados chineses, entre eles Huang Jiefu, presidente do Comitê Nacional Chinês de Doação e Transplante de Órgãos e ex-vice-ministro da Saúde da China.

Católicos na China

Onze bispos chineses foram nomeados sob o acordo, com graus variados de sucesso. Em 24 de maio, por ocasião do Dia de Oração pelos Cristãos na China, instituído por Bento XVI, o Asia News publicou uma carta de um padre clandestino sobre a delicada questão do "registro oficial" que as autoridades chinesas agora exigem de todos os padres.

O padre disse que "para alguns padres, o registro parece um compromisso com o poder político, gerando um sentimento de culpa por traição à fé, que se acumula ao longo do tempo", dizendo como há também uma espécie de "ambiguidade na relação com o papa" e que os espaços pastorais são ampliados, mas com várias limitações. Entre elas, as celebrações públicas são controladas; há liberdade administrativa limitada, o clero passa por forte fadiga mental devido à necessidade de renovar continuamente as certificações, enquanto os fiéis devotos da Igreja clandestina/oficial perdem a confiança e se distanciam.

Estas são todas as questões em pauta para a próxima reunião. Resta saber qual será a posição de Leão XIV sobre o assunto depois das aberturas feitas pelo papa Francisco.