16 de jun de 2025 às 10:21
O papa Leão XIV falou ontem (15) sobre Luke Jomo, padre sudanês de 55 anos de idade morto na madrugada da última sexta-feira (13) por uma bala perdida num ataque das milícias paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), que sitiam a cidade em que ele vivia desde abril de 2023.
"Rezemos pelo padre Luke e por todos aqueles que, em contextos de guerra e opressão, continuam a servir o Evangelho com coragem", disse o papa na praça de São Pedro, no Vaticano.
A notícia foi confirmada pela diocese de El Obeid e pela fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
“Caros padres, irmãs e todos os fiéis. É com grande tristeza que escrevo para anunciar a partida do padre Luke Jomo para a Casa do Pai esta madrugada, às 3h, em El Fasher”, disse o padre Abdallah Hussein, vigário-geral de El Obeid.
"A causa da morte foi uma bala perdida que tirou a vida dele e de outros dois jovens. Unamo-nos em oração para pedir a Deus Pai que suas almas descansem em paz", disse também um comunicado.
Nada pôde ser feito para salvar a vida do padre Jomo, padre de El Fasher, capital do estado de Darfur do Norte. Ele não foi a única vítima do tiroteio. Dois outros jovens que estavam com ele em sua casa também morreram.
Embora não se acredite que ele tenha sido o alvo direto, a violência indiscriminada das milícias aumentou exponencialmente o risco para a população civil. "Desde janeiro, tentamos ajudar o padre Luke a sair de lá, mas foi impossível deixar aquela cidade completamente controlada pela guerrilha", disse a organização eclesiástica.
A cidade de El Fasher está sitiada há mais de dois anos pelas Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) — milícia paramilitar que surgiu da temida milícia Janjaweed, liderada por Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como "Hemetti" — e tem sido palco de intensos combates e bloqueios. Apesar dos apelos da Organização das Nações Unidas (ONU) para permitir a entrada de ajuda humanitária, as RSF bloquearam o acesso, agravando a crise humanitária para a população.
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Apesar do contexto de violência, o padre Jomo escolheu permanecer em sua comunidade. Cerca de 300 famílias cristãs vivem em El Fasher, muitas delas compostas por idosos, mulheres e crianças, segundo dados compilados pela AIS.
A diocese de El Obeid manteve abertos seus seis jardins de infância, seis escolas primárias e uma escola secundária, as únicas instituições educacionais ainda em operação na área.
O ataque que matou o padre Jomo ocorreu na ausência do bispo local, Yunan Tombe Trille, que estava em missão pastoral visitando refugiados sudaneses deslocados em Yida Parieng e Abyei.
A diocese de El-Obeid foi uma das mais atingidas pelo conflito: em dezembro do ano passado, o próprio bispo Tombe foi atacado e agredido por membros armados da SRF, e sua catedral, Nossa Senhora Rainha da África, foi atingida por foguetes em maio de 2023.
O conflito sudanês, que coloca as Forças Armadas do Sudão (FAS) lideradas por Abdel Fattah al-Burhan contra a FRS de Hemetti, causou cerca de 100 mil mortes e forçou o deslocamento de cerca de 13 milhões de pessoas dentro e fora do país.
Em mensagem de condolências, o bispo de Tombura-Yambio, Edward Hiiboro Kussala, do Sudão do Sul, país vizinho, expressou sua "profunda tristeza e solidariedade" à Igreja em El-Obeid.
"Intercedemos fervorosamente pelo padre Luke. Seu sacrifício, oferecido por amor a Cristo e ao seu povo, é um testemunho sagrado da dedicação sacerdotal em meio ao conflito", disse Kussala. O bispo disse que toda a sua diocese está unida em oração pelo padre morto e pelo povo de El-Fasher.