15 de jun de 2025 às 10:47
O papa Leão XIV falou da prática de esportes coletivos como meio para “encontrar” a Trindade no mundo, dizendo que Deus “não é estático, nem está fechado em si mesmo”.
“O desporto pode ajudar-nos a encontrar o Deus Trino: porque exige um movimento do eu para o outro, que é certamente exterior, mas também e sobretudo interior. Sem isso, ele se reduz a uma estéril competição de egoísmos”, disse o papa na Basílica de São Pedro repleta de atletas, treinadores e peregrinos que viajaram a Roma para o Jubileu do Esporte.
O binômio Trindade-esporte não é "descabida"
Na homilia da missa da solenidade da Santíssima Trindade, que coincidiu justamente com este evento programado para o Jubileu da Esperança, ele reconheceu que o "O binômio Trindade-desporto não é usado com muita frequência, mas a associação não é descabida".
"Toda boa atividade humana traz em si um reflexo da beleza de Deus, e certamente o desporto está entre elas", disse na homilia.
Leão XIV descreveu a Trindade como uma "dança de amor recíproco", citando a noção de pericoresis, o termo teológico que descreve a relação íntima, dinâmica e mútua entre as três pessoas da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
Este é um dos conceitos centrais da teologia trinitária cristã, especialmente na tradição patrística grega.
Para explicar isso, o papa falou do “dinamismo divino do qual brota a vida” e se inspirou na imagem do Deus ludens, um Deus que “brinca”, que se deleita com a criação. Ele afirmou: “Fomos criados por um Deus que se compraz e se alegra em dar a existência às suas criaturas”.
Em um mundo ferido pelo individualismo e pela solidão, o esporte “ensina o valor da colaboração, do caminhar juntos”, diz o papa Leão XIV.
“Dá-lhe!”: O imperativo de se entregar aos outros
Em sua homilia, o papa citou uma expressão popular italiana usada para incentivar os atletas: “Dai!”, que se traduz em português como “Dá-lhe”.
“Este é um imperativo precioso”, disse. “É o imperativo do verbo ‘dar’.”
Assim, ele explicou que se trata de “dar-se aos outros – para o próprio crescimento, para os torcedores, para os entes queridos, para os treinadores, para os colaboradores, para o público, até mesmo para os adversários”. Algo que “vale além do resultado”.
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Leão XIV recordou as palavras de são João Paulo II, que falou de Jesus como "o verdadeiro atleta de Deus" e descreveu o esporte como "a alegria da vida", um "jogo" e uma "festa".
O papa falou dos valores do esporte, desde que se liberte da lógica do rendimento e do utilitarismo e recupere sua dimensão de gratuidade, de estreitar vínculos de amizade e de formar. Ele estruturou sua homilia em torno de três grandes contribuições que o esporte pode dar à sociedade contemporânea.
Num mundo ferido pelo individualismo e pela solidão, o esporte, especialmente quando praticado em equipe, "ensina o valor da colaboração, do caminhar juntos, de partilhar". Segundo o papa, isso o torna "um instrumento de encontro e reconciliação" nas escolas, comunidades, locais de trabalho e famílias.
Ele também disse que, diante de uma cultura cada vez mais digital e virtual, o esporte "valoriza a concretude do estar juntos, o sentido do corpo, do espaço, do esforço, do tempo real" e representa "um antídoto contra a tentação de fugir para mundos virtuais”.
A Pedagogia da Derrota
Segundo o papa Leão XIV, em uma sociedade competitiva que idolatra os vencedores, o esporte nos ensina a perder. "Ele nos lembra da nossa fragilidade", disse Leão XIV, "do nosso limite. Os campeões não são máquinas infalíveis, mas homens e mulheres que, mesmo derrotados, encontram a coragem para se reerguer”.
O Papa não perdeu a oportunidade de destacar o papel do esporte na vida espiritual de muitos santos modernos. Assim, lembrou o beato Pier Giorgio Frassati, padroeiro dos atletas, que será canonizado em 7 de setembro, juntamente com Carlo Acutis. “A sua vida, simples e luminosa, recorda-nos que assim como ninguém nasce campeão, ninguém nasce santo. É o treinamento diário do amor que nos aproxima da vitória definitiva”, disse.
Esporte, uma forma de “elevação espiritual”
Ele também citou são Paulo VI, que em 1965 reconheceu como o esporte havia ajudado a reconstruir a esperança na Europa após a Segunda Guerra Mundial. Citando suas palavras, disse que o esporte pode ser um “instrumento muito útil para a elevação espiritual”, uma “condição primeira e indispensável para uma sociedade ordenada, serena e construtiva”.
Leão XIV também fez um apelo direto aos atletas, convidando-os a se comprometerem com a sociedade: “a Igreja confia-vos uma missão maravilhosa: ser reflexo do amor de Deus Trino nas vossas atividades”.
“O Papa Francisco adorava sublinhar que, no Evangelho, Maria aparece ativa, em movimento, até mesmo a correr pronta a partir para socorrer os seus filhos – como sabem fazer as mães – ao menor sinal de Deus”, disse o papa Leão, pedindo à Virgem que acompanhe os atletas “para o melhor, até à vitória definitiva: a da eternidade, o campo infinito onde o jogo não terá fim e a alegria será plena”.
Por causa das altas temperaturas em Roma, a celebração ocorreu dentro da Basílica de São Pedro, e não na Praça do Vaticano. Ao final da cerimônia solene, o papa percorreu a Praça de São Pedro no papamóvel para saudar e abençoar os fiéis que, apesar do calor, não quiseram perder a oportunidade de cumprimentá-lo de perto.