Cerca de 37 paróquias da arquidiocese de Porto Alegre se tornaram abrigos de acolhimento às pessoas que ficaram desabrigadas pelas enchentes que assolam o Rio Grande do Sul há um mês. Segundo a comunicação da arquidiocese, esse número pode ser maior porque algumas destas paróquias têm capelas que podem ter recebido pessoas, como no caso das paróquias Nossa Senhora de Fátima, em Guaíba, Nossa Senhora da Glória, em Porto Alegre e Santa Luzia, em Canoas.

O pároco da paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Guaíba, padre Diego da Silva Corrêa disse à ACI Digital que sua paróquia e as suas comunidades se tornaram abrigos para vários gaúchos “desde o dia 3 de maio”, quando começaram as enchentes na região.

“Foi um momento muito difícil, conturbado, cenas de guerra, assim poderia dizer. Nunca tinha visto isso na minha vida, as pessoas chegando em caçambas de caminhão, trazendo a história de suas vidas em uma sacola, famílias, enfim, situações muito tristes, mas graças a Deus aqui os nossos paroquianos e nós, conseguimos dar um apoio e resgatar, trazer um pouco de dignidade a esse povo”, contou padre Diego Corrêa.

Segundo o sacerdote, já foram acolhidos “220 pessoas” na igreja Nossa Senhora de Fátima, “mais 80 na comunidade São Francisco”, no bairro São Francisco e “18 na comunidade São Francisco, em Pedras Brancas”. Segundo o pároco, estas pessoas foram acolhidas “dentro da igreja e no salão paroquial” e foi feita “uma cozinha” para as refeições delas.

O padre conta que chegaram a fazer 2,5 mil refeições ao longo do dia, entre o almoço e o jantar, café-da-manhã e lanche da tarde. “Acolhemos essas pessoas, conseguimos com a graça de Deus e o apoio dos paroquianos, exclusivamente dos nossos paroquianos”, ressaltou o padre. “Nós não tivemos nenhuma ajuda dos poderes públicos”.

Ele também disse que algumas “casas de famílias” também acolheram pessoas desabrigadas, e “a graça de Deus, a bondade de Deus se manifestou nas pessoas, em cada um dos paroquianos, em cada uma das pessoas que acolheram em seus lares os diversos voluntários que com carinho e com amor, contribuíram para trazer um pouco de dignidade” a esses irmãos. Segundo o sacerdote, hoje a paróquia acolhe “33 pessoas”, vindas de Eldorado do Sul, pois “a maioria que estava no bairro Santa Rita, Cohab de Guaíba, já voltaram aos seus lares” e alguns ainda fazem suas fazer refeições e dormem no abrigo, pois “passam o dia limpando as casas”.

Sobre as doações, padre Diego Corrêa informou que elas ainda “vêm chegando dos diversos lugares”, e que a paróquia continua com uma campanha pelas redes sociais através da chave pix da igreja: 92.858.000/0129-09 (CNPJ), mas o que eles mais precisam no momento são “roupas de inverno” porque já “entrou uma frente fria” no Rio grande do Sul.

As chuvas tinham diminuído na maioria dos municípios do Rio Grande do Sul, fazendo com que as enchentes baixassem e alguns moradores tinham conseguido voltar às suas casas, como o padre Diego Corrêa contou, mas as fortes chuvas retornaram nesta semana e ontem (23), uma nova onda de frio chegou ao Sul do país.

Hoje (24) o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu dois novos alertas de chuvas para o Rio Grande do Sul. Com relação aos estragos no Sul do Brasil, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul também informou hoje (24), às 9h, em seu boletim diário, que as fortes chuvas já afetaram 469 dos seus 497 municípios, cerca de 94% do Estado. Os registros atuais indicaram: 163 mortes, 806 pessoas feridas, 65 desaparecidas e mais de 581 mil desabrigadas. Foram resgatadas mais de 82 mil pessoas e mais de 12 mil animais.

Abrigo na paróquia Nossa Senhora da Glória, no bairro Cascata, em Porto Alegre. Arquivo pessoal
Abrigo na paróquia Nossa Senhora da Glória, no bairro Cascata, em Porto Alegre. Arquivo pessoal

Outra igreja que se tornou um abrigo junto com suas capelas foi a paróquia Nossa Senhora da Glória, no bairro Cascata, em Porto Alegre. Ela tem “cinco abrigos” que acolhem atualmente “311 pessoas”, a maioria “famílias de Eldorado do Sul”.

O pároco, padre Jacenir Donizetti contou a ACI Digital que “muitas famílias perderam tudo, inclusive suas casas”, muitos agora só tem “o terreno”, ou seja, “eles têm precisado de tudo”: moradia, alimento, roupas, produto de higiene, produto pessoal e outros. “A gente tem tentado ajudar de modo especial a todos que a gente consegue, através das doações, temos o pix da paróquia: 92.858.000/0121-51 (CNPJ) pela qual eu sou responsável, e a qual nós estamos também fazendo as retiradas, ajudando como a gente pode”, disse o sacerdote.

Donizetti ainda falou que “muitas doações tem vindo, de modo especial de outros Estados” de “muitas instituições religiosas” e que “o povo tem sido muito caridoso para com os necessitados”, “foi um tempo difícil, mas também é um tempo bonito de solidariedade”, mas ele acha que as doações devem “ser contínuas, porque eles não vão precisar só agora, eles vão precisar por um bom tempo até se reestruturar melhor”.

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Abrigo na paróquia Santa Luzia, em Canoas (RS). Arquivo pessoal
Abrigo na paróquia Santa Luzia, em Canoas (RS). Arquivo pessoal

A paróquia Santa Luzia, em Canoas também virou um local de abrigo à população gaúcha desde 3 de maio. No início foram acolhidas quase “300 pessoas”, atualmente tem “130 pessoas”, visto que a maioria já conseguiu retornar às suas casas, informou à ACI Digital, o pároco, padre Diego Jobim.

O sacerdote disse que na época, 60% de Canoa “foi tomada pela água”, mas a sua paróquia não foi inundada pois está em um ponto alto da cidade e com isso pode acolher as pessoas. Além da hospedagem, a paróquia também tem auxiliado essas pessoas com doações de “cestas básicas, produtos de limpeza e rações de animais para aqueles que têm bichos de estimação.

“Centenas de kits são entregues diariamente, mas com poucos voluntários, não há como fazer esses atendimentos”, disse padre Diego Jobim, que ainda contou que no início das acolhidas haviam muitos voluntários, mas agora, muitos retornaram às suas atividades cotidianas.

O padre também ressaltou que os gaúchos têm precisado muito de alimentos perecíveis e materiais de limpeza, além da ajuda presencial para limpar as casas que estão cheias de lama. Além disso, ele disponibilizou a chave pix da paróquia para receber doações financeiras: 92.858.000/0108-84 (CNPJ).

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Igreja vira abrigo para pacientes oncológicos

A paróquia São Jorge, no bairro Partenon, zona leste de Porto Alegre (RS) cedeu seu salão paroquial para abrigar pacientes oncológicos.  O “Abrigo São Jorge”, como foi chamado, inaugurou no dia 15 de maio e tem “60 lugares”. O pároco da paróquia São Jorge, padre Sérgio Augusto Belmonte disse à ACI Digital que foi feito “todo um trabalho de preparação do ambiente”, e os pacientes serão atendidos “por médicos oncologistas da Santa Casa de Porto Alegre”, mas “também por estudantes universitários de medicina, por enfermeiros, por cuidadores e por cerca de mais de 50 voluntários”.

O sacerdote ainda destacou que o local da igreja é favorável aos pacientes, pois fica “perto da PUC-RS e está muito perto também do hospital São Lucas da PUC, do hospital Divina Providência, das irmãs da Divina Providência; do hospital Independência que também é das irmãs da Divina Providência e até do hospital Mãe de Deus que agora no momento está fechado por causa das inundações”.

Abrigo para pacientes oncológicos na paróquia São Jorge, em Porto Alegre. Arquivo pessoal
Abrigo para pacientes oncológicos na paróquia São Jorge, em Porto Alegre. Arquivo pessoal

O “Abrigo São Jorge” é uma iniciativa de cinco “organizações da sociedade civil” que trabalham pelos direitos de pacientes oncológicos: Instituto E Se Fosse Você ?, Instituto de Governança e Controle do Câncer , Instituto Camaleão, Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale)  e Liga de Combate ao câncer, disse padre Sérgio Augusto Belmonte e surgiu “ao mesmo tempo em que segmentavam abrigos para mulheres e crianças” em uma escola em Porto Alegre. A ideia foi levada ao padre Sérgio junto com sua comunidade que, “prontamente” acolheram a iniciativa e com isso, “a igreja católica” em Porto Alegre e com o “apoio da arquidiocese” formaram uma parceria com as instituições, através da “estrutura com luz, água, com os banheiros, com a cozinha”, contou padre Sérgio Augusto.