O bispo de Xangai, Joseph Shen Bin, defendeu as ações do governo chinês em uma conferência da Santa Sé na terça-feira (21) e pediu que a Igreja na China "siga um caminho de 'sinicização' ".

Um ano depois de ter sido unilateralmente empossado pelas autoridades chinesas como bispo de Xangai, aparentemente violando o acordo entre a Santa Sé e a China, o bispo chinês foi orador numa conferência da Santa Sé ao lado do cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé.

Desde 2018 a Santa Sé e o governo comunista da China renovam um acordo que visa a normalização de suas relações. Os termos do acordo permanecem secretos, mas aparentemente envolvem a nomeação de bispos pelo governo chinês com a anuência da Santa Sé.

O bispo de Xangai fez um discurso de 15 minutos em mandarim em um auditório lotado na Pontifícia Universidade Urbaniana, na colina Janículo, com vista para a basílica de São Pedro.

"A política de liberdade religiosa implementada pelo governo chinês não tem interesse em mudar a fé católica, mas apenas espera que o clero e os fiéis católicos defendam os interesses do povo chinês e se libertem do controle de potências estrangeiras", disse Shen Bin em seu discurso.

Na China, os padres católicos só podem ministrar em locais de culto reconhecidos nos quais menores de 18 anos não podem entrar. Grupos religiosos na China são impedidos de fazer qualquer atividade religiosa online sem antes solicitar e receber aprovação do Departamento Provincial de Assuntos Religiosos.

Desde que chegou ao poder em 2013, o presidente chinês, Xi Jinping, determinou a "sinicização" de todas as religiões na China, uma medida que a Comissão dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional chamou de "uma estratégia de longo alcance para controlar, governar e manipular todos os aspectos da fé em um molde socialista com ‘características chinesas' ".

O bispo de Xangai repetiu o apelo de Xi à "sinicização" do cristianismo em seu discurso na conferência.

"Hoje o povo chinês está realizando o grande renascimento da nação chinesa de forma global com a modernização ao estilo chinês, e a Igreja Católica na China deve se mover na mesma direção, seguindo um caminho de 'sinicização' que está alinhado com a sociedade e a cultura chinesas hoje", disse o bispo.

Shen Bin é presidente de um grupo chamado Conselho dos Bispos Chineses, uma conferência episcopal sancionada pelo Estado não reconhecida pela Santa Sé. Anteriormente, foi vice-presidente da Associação Patriótica Católica Chinesa, criada pelo Partido Comunista Chinês e controlada pelo Departamento de Trabalho da Frente Unida.

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Ele foi consagrado bispo católico em 2010 com o consentimento do papa e das autoridades chinesas, segundo a Santa Sé. Ele foi bispo de Haimen até abril de 2023, quando foi transferido para Xangai "sem o envolvimento da Santa Sé". O papa Francisco confirmou Shen Bin como bispo de Xangai três meses depois.

Em seu discurso na conferência da Santa Sé, Shen Bin citou alguns dos estatutos da conferência episcopal sancionada pelo Estado chinês. No anúncio da Santa Sé da aceitação do papa da transferência de Shen Bin no ano passado, Parolin havia pedido uma conferência episcopal chinesa com "estatutos apropriados à sua natureza eclesial e missão pastoral".

O bispo chinês também usou as Escrituras para defender sua posição de que "o desenvolvimento da Igreja na China deve seguir uma perspectiva chinesa".

"Ao lidar com a relação entre Igreja e Estado, religião e política, devemos retornar ao que a Bíblia diz: 'Dai, portanto, a César as coisas que são de César, e a Deus as coisas que são de Deus' ", disse Shen Bin.

A conferência, intitulada “100 anos do Concilium Sinense: entre a história e o presente”, foi realizada em chinês e italiano no Grande Salão da Pontifícia Universidade Urbaniana.

O evento de um dia marcou o 100º aniversário de um concílio da Igreja que ocorreu em Xangai em 1924 e reuniu 105 missionários católicos, bispos e católicos chineses para estabelecer uma estrutura para uma hierarquia nativa chinesa.

A Comissão Pastoral para a China e a Agência Fides, serviço de informação das Pontifícias Obras Missionárias (POM), organizaram a conferência, que também contou com o cardeal Luis Antonio Tagle e vozes da China continental como oradores. O papa Francisco enviou um vídeo com uma mensagem à conferência na qual disse que os católicos chineses enfrentaram "tempos de paciência e provação" no século passado.

Nenhum dos oradores da conferência da Santa Sé criticou a situação dos direitos humanos ou da liberdade religiosa na China.

O professor Zheng Xiaojun, diretor do Instituto de Religiões Mundiais da Academia Chinesa de Ciências Sociais, em Pequim, disse aos participantes da conferência que a liberdade religiosa está totalmente garantida na China.

Segundo o relatório da Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos EUA publicado este ano, as condições de liberdade religiosa na China se deterioraram no último ano, à medida que o governo intensificou sua implementação de sua política de "sinicização", que "exige que os grupos sigam a interpretação marxista da religião do PCC, inclusive alterando escrituras e doutrinas religiosas para se adequar a essa interpretação".

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