Amanhã (23), dia de são Jorge, haverá um ato inter-religioso na igreja dedicada ao santo em Porto Alegre (RS), com a lavagem das escadarias do templo por membros da umbanda e do candomblé.

O ato inter-religioso vai acontecer às 19h, depois da missa celebrada às 18h30 pelo bispo auxiliar de Porto Alegre dom Juarez Destro. Segundo publicações da arquidiocese – dirigida pelo arcebispo dom Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – e da igreja de são Jorge, o ato será feito “por nossos irmãos de religiões de matriz afro, liderados pelo Pai Ricardo de Oxum, uma demonstração da devoção e do respeito a todas as religiões, seguido de procissão luminosa pelas ruas do bairro Partenon”.

“São Jorge é um santo do sincretismo religioso, que une diversas crenças na mesma fé”, dizem as publicações.

Segundo a Legenda Áurea, do beato Jacopo da Varazze, são Jorge viveu nos primeiros séculos da cristandade. Nasceu em Capadócia, atual Turquia, então parte do Império Romano. Ele ingressou no exército.

Nessa época, o imperador Diocleciano iniciou uma perseguição aos cristãos e Jorge se colocou ao lado dos cristãos. O imperador mandou todos adorarem ídolos ou deuses falsos, o que Jorge se negou a fazer. Por isso, foi martirizado.

No sincretismo religioso, são Jorge é associado ao orixá Ogum, divindade de origem africana cultuada por religiões afro-brasileiras, como umbanda e candomblé.

Depois da divulgação nas redes sociais da paróquia e da arquidiocese gaúcha, o ato recebeu várias críticas.

“São Jorge não era entidade pagã, era um homem santo que morreu como mártir por sua fé em testemunha da única e verdadeira religião! São Jorge professava só um Deus, e o nome Dele é Jesus Cristo!”, comentou um internauta identificado como Gabriel Dantas na publicação da arquidiocese de Porto Alegre.

“Sincretismo religioso pode, o problema é a missa tridentina...”, comentou Matheus Tavares.

Depois da repercussão, a igreja de são Jorge publicou uma nota de repúdio em suas redes sociais. “Comentários negativos que difundem ódio, intolerância e preconceito, além de demonstrarem total desconhecimento do que é um diálogo inter-religioso e o que a Igreja Católica diz sobre isso. Manifestamos nosso repúdio contra toda a espécie de preconceito e intolerância a qualquer religião e crença”, diz a publicação. E pede que os internautas deixem nas postagens da arquidiocese “seus comentários defendendo a Igreja São Jorge, que traz em sua essência católica a paz, o respeito e o acolhimento a todos”.

Algumas pessoas elogiaram a iniciativa, classificando-a como gesto de fraternidade e respeito.

Segundo a arquidiocese de Porto Alegre, a festa de são Jorge “é a segunda maior celebração religiosa da capital e está inclusa no calendário de eventos de Porto Alegre”. Neste ano, a festa tem como tema “Amigos de São Jorge com fé, amor, igualdade, vivendo a verdade”, baseado na Campanha da Fraternidade 2024, que teve como tema “Fraternidade e Amizade Social”, conceito criado pelo papa Francisco em sua encíclica Fratelli tutti. O lema da campanha era: “Vós sois todos irmãos e irmãs”.

ACI Digital entrou em contato hoje (22) com a arquidiocese de Porto Alegre e foi orientada pela assessoria de imprensa a falar com o pároco de são Jorge, padre Sérgio Belmonte. ACI tentou contato com o sacerdote, mas as ligações não foram atendidas.