A causa diocesana de beatificação e canonização do servo de Deus padre Bento Manuel Nogueira foi aberta na sexta-feira (5), em Lisboa, Portugal. Sacerdote da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, ele foi missionário em Moçambique, África.

O padre Bento Manuel Nogueira nasceu em 5 de abril de 1927, em Carvalhal de Além, no concelho de Pombal, então diocese de Leiria. Em 1º de setembro de 1941, entrou para o aspirantado na Escola Hospitalar do Sagrado Coração de Jesus da Província Portuguesa da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, na Casa de Saúde do Telhal, em Sintra. Fez a profissão solene em 26 de abril de 1951.

Em 12 de abril de 1950, obteve o diploma do curso geral de Enfermagem, pela Escola de Enfermagem Artur Ravara, em Lisboa. Entre 1953 e 1956, estudou Humanidades e Filosofia no Seminário Diocesano de Angra do Heroísmo e, de 1956 a 1960, estudou Teologia na Universidade Lateranense, em Roma, Itália.

Foi ordenado padre em 14 de agosto de 1960. Em 1972, partiu como missionário para a diocese de Quelimane, em Moçambique, que então era uma colônia portuguesa.

O livro “Servo de Deus Padre Bento Manuel Nogueira – missionário hospitaleiro” conta que “durante a época de transição para a independência, que ocorreria a 25 de junho de 1975, os Irmãos Hospitaleiros presentes no o território, revelaram heroísmo e persistência perante estas dificuldades impostas pela conjuntura sociopolítica que se vivia, demonstrando um forte espírito, sacrifício e uma dedicação sem precedentes pelos interesses dos doentes, da população e da Igreja”.

“O padre Nogueira foi um dos que assistiu ao aumento da violência em Nampula, como se fosse uma onda que levava tudo à frente, lançando na miséria muitas famílias. Porém, apesar dos problemas, não esquecia a sua missão como Irmão de S. João de Deus, cumprindo as suas obrigações para com a Igreja e a Ordem Hospitaleira, na esperança de ajudar o povo a ultrapassar as dificuldades, através da evangelização e do conhecimento da mensagem de Jesus Cristo”, narra o livro.

Segundo a obra, “à medida que a a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) ia espalhando a sua ideologia comunista, também os responsáveis da Igreja moçambicana, contrários a essas ideias, iam procurando organizar pequenas comunidades de cristãos”. O padre Nogueira formou uma espécie de “célula clandestina organizada” de cristãos, onde “batizou crianças, ensinou a catequese a jovens e adultos, formou catequistas, organizou sessões de formação cristã, bênção do Santíssimo Sacramento e participação no terço”.

Sua atuação o colocou na mira das autoridades como “entidade perigosa e subversiva”. Foi preso mais de uma vez e submetido a interrogatórias e humilhações. Entre 11 de maio e 7 de junho de 1979, foi preso pela primeira vez na cadeia de Nampula. Um mês mais tarde, em 8 de julho e até 4 de outubro, foi preso uma segunda vez. Em 4 de outubro daquele ano, foi transferido para a prisão política de Machava, em Maputo, onde ficou encarcerado até 15 de novembro de 1979. Desde esta data até 25 de maio de 1980, ficou detido com residência fixa em Maputo, residindo no Seminário Maior dessa cidade, juntamente com dois colegas.

Os irmãos de São João de Deus perderam a capela e a residência comunitária em Nampula, abril de 1980. O padre Nogueira continuou morando na casa paroquial, junto com outros missionários. Em 14 de agosto de 1984, ele e outros irmãos se mudaram para uma nova casa em Nampula, para viver em comunidade.

O padre Nogueira desenvolveu intensa atividade sacerdotal, hospitaleira e missionária na arquidiocese de Nampula e ocupou diversos cargos.

Por questões de saúde, foi transferido em maio de 2003 de Nampula para Lisboa, onde morreu em 26 de outubro, na residência S. João de Ávila.

“Estamos ainda na oitava da Páscoa e a vida do padre Bento foi uma vida pascal. Ele não viveu para estar em função de si próprio, ele não viveu para se servir, ele nunca usou, nem nunca se aproveitou, nem nunca canalizou as situações, o lugar onde estava, a sua atividade em benefício, em vantagem ou em proveito próprio”, disse o patriarca de Lisboa, dom Rui Valério durante a abertura da causa de beatificação de padre Bento Manuel Nogueira, no sábado, na Igreja da Casa de Saúde do Telhal.

O patriarca destacou que, “mais do que do que a salvação de si – no sentido humano da palavra –, ao padre Bento interessava a salvação dos outros”.

Para dom Rui Valério, a abertura da causa de beatificação do missionário hospitaleiro marcou “um dia grande para a Igreja de Portugal, para a Ordem Hospitaleira e para o patriarcado de Lisboa”.