A fase arquidiocesana do processo de beatificação Marcelo Câmara será encerrada no sábado (6), na arquidiocese de Florianópolis (SC). O servo de Deus Marcelo Henrique Câmara era promotor de Justiça e membro do Opus Dei. Morreu de câncer em 20 de março de 2008, uma Quinta-feira Santa, e foi enterrado no dia seguinte, Sexta-feira Santa.

“O Marcelo era uma pessoa muito amadurecida, era um jovem que vivia as virtudes de uma forma muito plena para a idade dele. Era alguém que realmente tinha uma constância no agir, no modo de ser e de viver que impressionava todos, tanto nas circunstâncias favoráveis, nas circunstâncias desfavoráveis, ele sempre transmitia muita paz, muita serenidade, muita confiança em Deus”, disse à ACI Digital Maria Zoê Bellani Lyra Espindola, autora da biografia “No Caminho da Santidade: a vida de Marcelo Câmara, um Promotor de Justiça” e membro da Associação Marcelo Henrique Câmara.

Marcelo Henrique Câmara nasceu em 28 de junho de 1979 e foi batizado em 11 de agosto do mesmo ano. Quando tinha dez anos, seus pais se separaram e, morando com a mãe e o irmão mais novo, “passou a ter atitudes de um verdadeiro adulto na condução da família (preocupando-se com o trabalho da mãe, com os gastos da casa, etc.) sentindo-se responsável pelo futuro dos familiares, preocupação que o acompanhou por toda a vida”, diz sua biografia publicada no site da Associação Marcelo Henrique Câmara.

Em março de 1997, ingressou no curso de Direito na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), concluindo-o em dezembro de 2001 e obtendo o grau de bacharel em fevereiro de 2002. Iniciou o mestrado em Direito na mesma universidade em março de 2003.

Foi na escola, aos seis anos, que Maria Zoê conheceu Marcelo Câmara. “Depois, nos reencontramos na faculdade de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina. Eu me formei com ele e depois fiz o mestrado em Direito junto com ele também”, contou a biógrafa.

Quando estava no segundo semestre da faculdade, Marcelo aceitou um convite para participar de um encontro do Movimento Emaús, “um movimento de jovens da arquidiocese de Florianópolis”, disse Maria Zoê, destacando que esse foi um momento “de grande conversão”. “Ali, ele se encontrou realmente com o rosto de Cristo”.

“Depois, foi avançando na sua busca espiritual e encontrou a espiritualidade da Opus Deis, de são Josemaria Escrivá, que vai confirmar para ele a sua vocação laical, de que realmente ele poderia buscar a santidade vivendo as realidade cotidianas, as realidades temporais de sua vida familiar, profissional, que todos esses locais poderia ser locais de encontro com Cristo”, disse a biógrafa.

Ele foi ministro extraordinário da Sagrada Comunhão, auxiliou os trabalhos de catequese de adultos e a organização de eventos litúrgicos como orações ao Santíssimo, Cerco de Jericó, celebrações de Natal e da Paixão de Cristo, na paróquia Sagrado Coração de Jesus, no bairro dos Ingleses. Também passou a participar da missa diária.

Foi professor substituto da UFSC nos cursos de Direito e Economia e professor contratado pelo curso de Direito do Instituto de Ensino Superior da Grande Florianópolis (IES) e Faculdade de Santa Catarina (FASC).

Em setembro de 2004, foi diagnosticado com leucemia e passou por várias internações. “Aqueles que o visitavam no hospital saíam confortados e impressionados com sua paz e seu otimismo”, diz sua biografia.

Mesmo doente, continuou trabalhando e estudando. Passou em quinto lugar no concurso para o Ministério Público Estadual e foi nomeado em 20 de março de 2007. Mas, diz a biografia, “em virtude da piora do estado de saúde, Dr. Marcelo somente pôde atuar como Promotor de Justiça por cerca de 90 dias, tempo suficiente para demonstrar sua acurada consciência profissional”, o seu “otimismo que o mantinha sereno e confiante ante os desafios e o cotidiano penoso da Vara Criminal de São José” e, “sobretudo, seu profundo amor ao ser humano, a quem enxergava a imagem do Senhor”.

No final de fevereiro de 2008, foi internado pela última vez e morreu em 20 de março, um ano depois de sua nomeação como promotor de Justiça.

Segundo Maria Zoê, ultimamente se tem “percebido cada vez mais a devoção ao Marcelo no meio jurídico, nos estudantes, nas pessoas que se preparam para concurso, para fazer prova da Ordem dos Advogados” e isso vai “justamente confirmando que a vocação do leigo é transformar as suas realidades temporais”.

A biógrafa contou que “o próprio Ministério Público de Santa Catarina tem apoiado de uma forma muito bonita e respeitosa a causa do Marcelo” e a ideia é apresentá-la “aos integrantes do Ministério Público, independentemente de sua fé, mas que possam ter acesso ao testemunho de vida do Marcelo para que possam ali encontrar inspiração tanto para o exercício da sua profissão, quanto para as situações da vida”. “O Marcelo tem um testemunho muito bonito, muito completo para oferecer para o Ministério Público. E a instituição já percebeu que a vida do Marcelo é uma riqueza e que é um privilégio para o Ministério Público no Brasil ter tido nos seus quadros um jovem que está em processo de beatificação”, acrescentou.

De modo particular, Maria Zoê também considera algo “bem marcante” para a sua vida o fato de ter conhecido Marcelo Câmara e hoje acompanhar o processo de beatificação. “Porque a santidade às vezes pode ser tão simples, pode estar tão perto de nós, que corremos o risco de não enxergar”, disse. “Então, conviver com uma pessoa que é o testemunho dessa santidade ordinária, da vida comum, é uma grande motivação, uma grande alegria e também uma grande responsabilidade de continuar transmitindo para o mundo”, acrescentou.

Maria Zoê destacou que, atualmente, a devoção ao servo de Deus Marcelo Câmara “é uma devoção privada, porque ainda não é o culto oficial da Igreja”. “Mas, o fato de ser devoção privada não significa que a vida da pessoa não possa se tornar conhecida em outros horizontes”.

No caso de Marcelo Câmara, a associação tem recebido relatos de graças, pedidos de oração e dos materiais de divulgação “de todo o estado de Santa Catarina, da maioria dos estados do Brasil e de muitos países”, disse Maria Zoê, citando “Peru, Argentina, México, Canadá, EUA, Portugal, Espanha, Inglaterra, Itália, Timor Leste, Eslovênia, Japão, Austrália e República do Fiji”.

“Vemos, então, que realmente a santidade não tem fronteiras, ela vai tocando a vida das pessoas e despertando nas pessoas dos mais diversos lugares uma mudança de vida”, completou.

Em 8 de março de 2020, foi instaurada a sessão solene do Tribunal Eclesiástico para abertura do processo de beatificação. O encerramento da fase arquidiocesana do processo de será no sábado (6), às 16h, no santuário Sagrado Coração de Jesus, em Florianópolis.

Depois, “o processo deve seguir ainda no mês de abril para o Vaticano”. Então, o dicastério para a Causa dos Santos analisará “a validade jurídica dos documentos” e depois fará “o julgamento da vida de virtudes do Marcelo para pronunciar o decreto das virtudes heroicas”.  A fase seguinte será a análise de um milagre pela intercessão de Marcelo Câmara para a beatificação e, depois disso, análise de outro milagre para a canonização. “O processo é longo, rigoroso e tem que ser. Acreditamos que toda essa cautela, esse rigor da Igreja é necessário e é para o bem da Igreja”, disse Maria Zoê.

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A biógrafa destacou que “todas as graças, favores, milagres que as pessoas acreditam ter recebido pela intercessão do Marcelo, podem ser enviadas através do site www.marcelocamara.org.br e também para o e-mail depoimento@marcelocamara.org.br”.