Uma imagem de Sant’Ana Guia do século XVIII furtada há 17 anos da paróquia Senhora Sant'Ana, em Piraí (RJ), foi encontrada no Museu de Sant'Ana, em Tiradentes (MG) e devolvida ontem (4), à diocese de Barra do Piraí, em Volta Redonda (RJ).

A imagem voltará a paróquia no dia 14 de abril, depois da missa das 18h, celebrada pelo bispo de Barra do Piraí, dom Luiz Henrique da Silva Brito, na prefeitura municipal de Piraí.

“Estamos testemunhando um momento histórico para a nossa diocese e, também, para a paróquia de Sant’Ana, em Piraí. Em 2007, a imagem histórica de origem portuguesa foi furtada. Desde então, empenhamo-nos em todas as frentes para recuperá-la, registrando o furto e reconhecendo que a imagem estava tombada pelo INEPAC. Estamos extremamente felizes por tê-la recuperado e devolvê-la à igreja de Piraí, onde sempre deveria ter permanecido", disse dom Luiz Henrique.

A imagem foi furtada no dia 15 de janeiro de 2007 por um homem de mais de 30 anos, segundo o boletim de ocorrência da paróquia Senhora Sant'Ana. Na época o homem se identificou como padre e tirou algumas fotos da imagem e depois a furtou.

Com o furto, a imagem foi cadastrada no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) para que ela fosse encontrada, mas ela só foi achada com a ajuda da equipe organizadora da festa da padroeira da paróquia Senhora Sant'Ana, em Piraí que procurava uma imagem na internet para fazer os materiais da festa de 2023.

Em uma destas pesquisas, encontraram uma foto de uma imagem igual à que foi furtada em 2007, no museu de Tiradentes. Com isso, a paróquia informou a cúria da diocese sobre a possibilidade de a imagem ser a de Piraí e criaram um comitê interno com alguns profissionais especializados em obras sacras. Segundo a diocese, um laudo técnico realizado pela perita em artes sacras da D’Gusmão Conservação e Restauração de Obras de Arte, Elaine Gusmão “analisa de forma comparativa os registros históricos e os dados provenientes do museu”. Ela também destacou no documento “que a imagem é a mesma furtada em Piraí, com evidências de ter passado por um processo de remoção de repinturas, recuperando a policromia original”. 

Além disso, o “Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) confirmaram a veracidade do laudo técnico apresentado pela diocese”, relatou a diocese. 

Depois disso, o chanceler da diocese, padre Daniel Cezar e a advogada da cúria, Lucila Gouveia relataram o caso na 94ª delegacia da Polícia Civil de Piraí para recuperar a imagem. O delegado da 94ª DP, José de Moraes Ferreira disse que depois da entrega do laudo pericial “em que ficou constatada” que a imagem “furtada da igreja de Piraí” era a mesma “que estava em exposição” no museu de Tiradentes e com o mandado de busca e apreensão expedido pelo juiz Fellippe Bastos Silva Alves, da Vara Única da Comarca de Piraí,  eles contataram “o delegado da área” e a imagem foi recuperada “e depositada imediatamente na diocese”.

“Quanto ao desdobramento das investigações, nos reservamos, uma vez que estas ainda estão em andamento”, explicou o delegado.

Em nota sobre o caso, a administração do Museu de Sant’Ana, em Tiradentes informou que “foi surpreendida com a informação de que uma das imagens de Senhora Sant’Ana, exposta no museu, teria sido furtada em 2007, da igreja da cidade de Piraí (RJ)” e ressaltou que, “antes do Museu ser inaugurado, há cerca de dez anos, todas as peças do acervo foram submetidas a uma análise do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e doadas para esta autarquia, que foi imediatamente comunicada do ocorrido”.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também declarou em nota “que a avaliação do acervo do museu” de Sant’Ana foi realizado “utilizando os instrumentos disponíveis naquele momento, entre os quais o Banco de Dados de Bens Culturais Procurados (BCP), que é um repositório de informações de peças roubadas que sejam tombadas em nível federal pelo Instituto” e ainda  ressaltou “que não é o caso da peça Sant'Ana Guia, que atualmente é apenas tombada em nível estadual pelo INEPAC, órgão responsável pela preservação do patrimônio no estado do Rio de Janeiro”.

“Embora o Iphan convide os institutos estaduais a reportarem para o BCP casos de bens culturais roubados, o Instituto não é o responsável pela busca de todos os casos a serem registrados, apenas de peças tombadas em nível federal. Além do mais, considerando que o BCP foi criado em 2007, mesmo ano do roubo da peça, é possível que ela não estivesse incluída no repositório naquele momento”, relatou o Iphan.