É um mandamento da Igreja que todo fiel católico comungue pelo menos na Páscoa da Ressurreição, diz o cânon 920 do Código de Direito Canônico. Para participar da comunhão é preciso se confessar antes, e o cânon 989 diz que o fiel tem que se confessar ao menos uma vez por ano.

Mas, para além da obrigatoriedade da confissão anual, “é muito bom e salutar buscar uma periodicidade na confissão”, diz o padre Alexandre Nunes, da congregação dos Legionários de Cristo. “Sempre caímos”, disse o padre à ACI Digital. “Uma vez que a gente cai no pecado é necessário levantar o quanto antes, e a forma de levantar é a confissão, não tem outra”.

O sacramento da confissão, ou da penitência, foi instituído pelo próprio Jesus Cristo depois da ressurreição, lembra o padre. “O próprio Cristo “sopra sobre os apóstolos eles e diz: ‘receba o Espírito Santo! A quem perdoardes o pecado serão perdoados. A quem não perdoar esse pecado serão retidos’. Então, só o sucessor e os apóstolos e a quem eles delegaram, que é o sacerdócio, segundo a tradição”, podem “perdoar os pecados”.

Para o padre Nunes, “é um momento de lavar a nossa alma e chegar limpo diante de Deus, agradáveis aos seus olhos e sobretudo lavado pelo sangue do cordeiro através do Seu perdão, porque foi por isso que Jesus morreu na cruz, para pagar pelos nossos pecados. E deixa esse caminho de salvação que é o sacramento da reconciliação, da confissão”.

Padre Alexandre diz que existem três formas de celebrar o sacramento da confissão: a confissão individual, com a absolvição individual, que é a mais comum; os mutirões de confissão, sobretudo na Quaresma, tempo de penitência em vista da preparação para a Páscoa, em que várias pessoas enchem a igreja e vários sacerdotes atendem as confissões individualmente; e “a terceira que é a absolvição geral”.

"Mas a Igreja pede que isso se faça em ocasiões em que seja extremamente necessário”, disse o padre. Por exemplo em lugares em que só há um padre visitante ocasional e há muita gente para confessar. Ou em casos de perigo de morte para muita gente, como em uma guerra.

Como se confessar

Para fazer uma boa confissão “é necessário primeiro estar arrependido. É a condição necessária, primordial e primária para poder se confessar”, diz o padre Nunes. “Uma vez que estamos arrependidos dos nossos pecados e sabemos quais são, então, já podemos aproximar-nos da confissão e fazer um bom exame de consciência antes, em clima de oração pedindo perdão a Deus. É o nosso encontro com Deus, aí de coração a coração, onde nós vamos analisar as nossas ações, as nossas omissões e vamos colocar nas mãos de Deus e pedir a Ele o Seu perdão, através do sacramento”.

O momento da confissão “não é o momento para contar os meus problemas, as minhas angústias, aquilo que me faz sofrer, mas sim, como eu respondo esses sofrimentos, essas angústias, essas injustiças, o que seja”, disse o padre. Também “não é momento de direção espiritual ou terapia psicológica”.

“A confissão é um sacramento, é uma celebração litúrgica do sacramento da reconciliação, e aí devemos contar os nossos pecados mortais ou veniais”. Os pecados mortais estão definidos nos dez mandamento. “Os veniais não estão dentro dos mandamentos, mas são imperfeições que é bom confessar, para que sejamos totalmente livres de todo o peso, pequeno ou grande, porque muitos pequenos levam ao grande”.

Ele explicou que a confissão de “forma geral é simples: contar os pecados, quantas vezes cometemos. Se é necessário acrescentar alguma explicação pela ou circunstância com a qual, que seja breve, preciso e direto”.

“Não devemos tirar muito tempo do padre, nem prolongar muito, a não ser que sejam muitos os pecados, mas geralmente quando demora muito é porque quer contar toda uma história. Então não é um momento de contar histórias”, salientou.

Limites da confissão

Há pecados que “não podem ser perdoados durante a confissão, sobretudo aqueles pecados aos quais nós demonstramos que não estamos arrependidos”, como em casos de adultério onde as pessoas “confessam que vivem em pecado, mas querem continuar vivendo em pecado”.

“É um pecado que geralmente as pessoas querem continuar cometendo, então o padre não pode absolver esses pecados, não pode dar a absolvição, porque a pessoa não tem o propósito de emenda, não tem o propósito de não voltar a pecar. É necessário esse desejo de não pecar mais, esse propósito firme de não pecar mais. O sacerdote quando vê que a pessoa não quer livrar-se de um pecado habitual, então ele não pode absolver também, se não absolve não tem efeito, porque não existe esse propósito”, disse.

Há também pecados que “só o bispo ou o papa podem perdoar”, disse Nunes. Pecados como heresia, que são “declarações contra a fé católica, contra a doutrina da Igreja, as verdades da Fé”;  cisma, “quando se rejeita a autoridade do papa”; apostasia, “quando uma pessoa renuncia a própria fé”; “fingir ser sacerdote ou simular a celebração no sacramento”; “Gravar, por qualquer meio, confissões”; fazer “violência física a um bispo ou ao papa também é um pecado reservado”; “denúncia falsa” sobre alguém do clero.

“Depois os sacrilégios, profanação da Eucaristia”, continua o padre Nunes. “Um sacerdote que falta com o sigilo da confissão ou faz uma confissão cúmplice”, ou seja, “se ele tem relações sexuais” “com outra pessoa e absolve essa outra pessoa porque ele é sacerdote”, ele “também está pecando, está excomungado e tem que confessar com um bispo ou alguém que tem a permissão do bispo, do papa para absolver os pecados’, destacou. E o último é o atentado de alguém que tenta fazer ordenação sacerdotal de uma mulher, a absolvição é reservada a Penitenciaria Apostólica”.

Ato de contrição

A recitação de um ato de contrição dentro da celebração do sacramento da penitência é necessária. No ato de contrição, o penitente expressamente pede perdão dos pecados, diz que está arrependido e faz o propósito de não voltar a pecar.

“O sacerdote, depois que dá o seu conselho, determina que tipo de penitência a pessoa deve cumprir e pede que se reze esse ato de contrição”, diz o padre Nunes. “Alguns sacerdotes não fazem? É pecado deles”.

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“O ideal é que o sacerdote dê o tempo para que a pessoa reze o ato de contrição e depois disso, só depois disso, o padre levanta a mão e da absolvição, com a fórmula própria”, explica o padre Nunes.

Ao final de todo sacramento da reconciliação existe uma penitência, e segundo o liturgista, se a penitência for “mais simples”, “se aconselha que cumpra o quanto antes também, para que se complete todo o processo da confissão sacramental”.