O papa Francisco falou ontem (14) da importância de defender vozes indígenas e incorporar a “sabedoria ancestral” como parte do esforço para reduzir os efeitos das mudanças climáticas.

“O diálogo aberto entre o conhecimento indígena e as ciências, entre as comunidades de sabedoria ancestral e as das ciências, pode ajudar a enfrentar questões cruciais como a água, as mudanças climáticas, a fome e a biodiversidade de uma forma nova, mais integral e mais eficaz”, disse ontem (14) o papa no Vaticano. “Essas questões, como sabemos muito bem, estão todas interligadas.”

As observações foram dirigidas aos participantes da conferência “O Conhecimento dos Povos Indígenas e as Ciências”, patrocinada pela Pontifícia Academia das Ciências e pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais, que ocorreu entre ontem (14) e hoje (15) no Vaticano. 

O evento reuniu uma pluralidade de vozes das academias pontifícias, grupos indígenas, acadêmicos e organizações internacionais, a fim de avaliar como os ensinamentos e metodologias indígenas tradicionais podem ser harmonizados com a ciência convencional para compor a política global sobre mudanças climáticas, perda de biodiversidade, saúde e segurança alimentar. 

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os povos indígenas são definidos como aqueles que “habitavam um país ou uma região geográfica no momento em que chegaram pessoas de diferentes culturas ou origens étnicas” e mantêm “características sociais, culturais, econômicas e políticas”. 

Papa Francisco com participante da conferência “O Conhecimento dos Povos Indígenas e as Ciências”, que ocorreu entre ontem (14) e hoje (15) no Vaticano. Vatican Media
Papa Francisco com participante da conferência “O Conhecimento dos Povos Indígenas e as Ciências”, que ocorreu entre ontem (14) e hoje (15) no Vaticano. Vatican Media


“A Igreja está convosco, uma aliada dos povos indígenas e da sua sabedoria, e uma aliada da ciência no esforço para tornar o nosso mundo um mundo de fraternidade e amizade social cada vez maior”, disse ontem (14) o papa. 

No discurso, Francisco apontou para um estudo de 2021 da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) que examinou tanto os sistemas alimentares indígenas como a inclusão do conhecimento indígena como um componente central da Década Internacional das Ciências para o Desenvolvimento Sustentável (IDSSD, na sigla em inglês), de 2024 a 2033.

O papa citou esses dois exemplos concretos como evidências concretas de como a representação indígena foi desenvolvida no cenário internacional. 

O papa destacou a importância de proteger as “culturas, tradições, espiritualidades e línguas” indígenas, uma vez que fazem parte do “tecido da humanidade”, e disse que a sua perda “representaria um empobrecimento do conhecimento, da identidade e da memória para todos nós”.

“Por essa razão”, continuou o papa, “os projetos de investigação científica e, consequentemente, os investimentos, devem ser direcionados decisivamente para a promoção da fraternidade humana, da justiça e da paz, para que os recursos possam ser coordenados e alocados para responder com urgência a desafios que enfrentados pela terra, a nossa casa comum e a família dos povos”.

Os temas da proteção ecológica e da fraternidade humana tiveram destaque no pontificado de Francisco. 

Na sua encíclica sobre o clima Laudato Si', publicada em 2015, o papa Francisco enfatizou a urgência de incorporar as vozes indígenas na discussão mais ampla sobre a redução dos efeitos das mudanças climáticas, observando que esses indivíduos “não são apenas uma minoria entre outros, mas devem ser os principais parceiros de diálogo, especialmente quando são propostos grandes projetos que afetam suas terras.” 

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a população indígena global representa 370 milhões de pessoas - ou 5% da população mundial - e está entre os grupos mais vulneráveis ​​aos efeitos das mudanças climáticas causadas pelo homem e aos riscos associados a elas, como a desertificação e a escassez de alimentos, perda de biodiversidade e migrações forçadas.