A Procissão do Senhor dos Passos acontecerá em Florianópolis (SC) no dia 17 de março e terá uma programação ampla na semana que a antecede. Segundo os organizadores, a expectativa é reunir mais de 60 mil pessoas para “uma das tradições mais antigas do Estado de Santa Catarina”, com 258 anos.

“É uma tradição de fé muito bonita que faz parte da nossa cidade. No passado, eram 5 mil, 6 mil pessoas. Hoje já são 60 mil participantes. Vêm pessoas de todo o Estado, de diferentes partes do Brasil e até de fora do país. A fé das pessoas é tão profunda que não tem explicação”, disse a  coordenadora da procissão e primeira vice-provedora da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos, Rita Peruchi.

A primeira procissão do Senhor Jesus dos Passos aconteceu em 1766, dois anos depois da chegada na então Vila de Nossa Senhora do Desterro, atualmente Florianópolis, da imagem do Senhor dos Passos, que é atribuída ao escultor baiano Francisco das Chagas.

A imagem representa a primeira queda de Jesus a caminho do Calvário. Em tamanho natural, tem o joelho esquerdo apoiado no chão e as mãos seguram a cruz amparada no ombro esquerdo. A túnica de tecido roxo decorada com bordados dourados deixa a mostra os pés do Senhor dos Passos. No rosto escorrem suor e sangue, provocados pela coroa de espinhos.

Em 1764, a imagem do Senhor dos Passos estava sendo levada de barco da Bahia para a cidade de Rio Grande (RS). O barco fez uma escala para abastecimento na Vila de Nossa Senhora do Desterro. Depois de três tentativas frustradas de seguir viagem para Rio Grande por causa de fortes tempestades, a tripulação tomou como sinal divino de que a imagem deveria permanecer na cidade.

No ano seguinte, 1765, foi criada a Irmandade do Senhor Jesus dos Passos, para proteger a imagem e cultuar seu padroeiro. Em 1766, aconteceu a primeira procissão. Até hoje, a Irmandade é responsável pela procissão que, com o passar dos anos, foi atraindo cada vez mais pessoas. 

A Procissão do Senhor dos Passos foi declarada Bem Cultural de Natureza Imaterial do Estado de Santa Catarina e Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.

Embora a procissão aconteça no dia 17 de março, a programação oficial começa no domingo (10), com missa de investidura dos novos membros da Irmandade. Segundo Rita Peruchi, a programação possui “quatro momentos marcantes”.

O primeiro, disse, é “a lavação da imagem” e acontecerá na quinta-feira (14), às 7h. “A lavação é feita por crianças, que representam a inocência e a pureza. Passam pano umedecido em água perfumada no rosto, pés e mãos da imagem”.

“Outro momento marcante é a procissão do carregador no sábado (16) de manhã após a missa das 7h30. As pessoas levam os objetos usados na procissão, chamados alfaias, da capela Menino Deus para a catedral de Florianópolis”, disse.

No mesmo dia, à noite, “temos a transladação das duas imagens, do Senhor Jesus dos Passos e de Nossa Senhora das Dores da capela Menino Deus para a catedral”. Nessa procissão, disse Peruchi, “as imagens são levadas pelo povo”. O andor da imagem do Senhor Jesus dos Passos é carregado pelos homens e o de Nossa Senhora das Dores, pelas mulheres.

No domingo (17), às 9h30, o arcebispo de Florianópolis, dom Wilson Tadeu Jönck, celebrará a missa com a participação da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos. À tarde, acontecerá a procissão principal, “o quarto momento importante”. “O Senhor dos Passos sai da catedral, desce a rua, volta e se encontra com Nossa Senhora das Dores. As imagens são levadas pelos irmãos da Irmandade”, disse Peruchi.

Em frente à catedral, será feito o sermão do encontro, que neste ano terá como pregador o padre Valdemar Groh, da arquidiocese de Florianópolis.

Rita Peruchi destacou que, na trajeto até a capela Menino Deus, a procissão tem outros momentos significativos, como o canto da Verônica. “Tem cinco paradas, onde a Verônica vai entoar um canto de lamento e dor em latim. Verônica canta sobre uma pequena escada. Do alto, desfralda lentamente um lenço um está estampado o rosto de Jesus e o público observa tudo em profunda reflexão e silêncio”.

Outra tradição, segundo ela, são os tapetes nas ruas Bulcão Viana e Tiradentes. “São como os tapetes de Corpus Christi e é uma tradição dos moradores. No domingo de manhã eles preparam os tapetes com motivação religiosa, desenham pombas, a Eucaristia, palavras relacionadas a paz, amor, solidariedade”, contou.

Para Rita Peruchi, trata-se de uma “tradição religiosa e cultural riquíssima e que temos que manter”.

A programação completa da Procissão do Senhor dos Passos pode ser conferida AQUI.