O papa Francisco ordenou uma investigação sobre as acusações de abuso sexual contra o arcebispo de Quebec, cardeal Gerald Lacroix, acusações que o cardeal nega “categoricamente”, informou a arquidiocese de Quebec, Canadá.

Num comunicado de 4 de março, a arquidiocese disse ter sido informada “no último dia 8 de fevereiro de que o papa Francisco encarregou o senhor André Denis, juiz aposentado do Tribunal Superior de Quebec, de conduzir uma investigação” sobre as acusações contra o cardeal Lacroix.

Do que é acusado o cardeal Lacroix?

Lacroix, membro do Conselho de Cardeais que assessora o papa Francisco, foi acusado de abusar de uma adolescente de 17 anos em 1987 e 1988, segundo o advogado Alain Arsenault, que cuida ação contra a arquidiocese, iniciada em 2022.

Segundo a agência francesa de notícias AFP, a acusação contra o cardeal canadense de 66 anos está contida em documentos mostrados pelo tribunal que julga o caso no dia 25 de janeiro.

Como será a investigação sobre o suposto abuso sexual do cardeal Lacroix?

Segundo o comunicado de segunda-feira (4) da arquidiocese de Quebec, a investigação do juiz André Denis deve ser feita “de acordo com as disposições do motu proprio Vos estis Lux mundi sobre o tratamento das acusações relativas a um bispo, um arcebispo ou um cardeal”.

Vos estis lux mundi (Vós sois a luz do mundo) é um documento do papa Francisco publicado em maio de 2019, que estabelece novos procedimentos para prevenir e denunciar casos de abuso sexual e seu encobrimento na Igreja.

O comunicado da arquidiocese de Quebec também diz que “André Denis é o único responsável pela investigação e poderia tornar público este mandato se considerasse apropriado. Esta manhã soubemos que foi isso que ele decidiu fazer e respeitamos a sua decisão”.

“A diocese oferecerá toda a sua colaboração ao senhor Denis a seu pedido, mas não intervirá no curso da investigação nem em suas investigações”, continua o texto.

“Não faremos mais comentários sobre este processo que se realiza sem qualquer intervenção da nossa parte”, conclui.

Segundo a Radio-Canada Ici Québec, o juiz escreveu, no dia 19 de fevereiro, uma carta às partes envolvidas na qual diz que o que fará é “uma investigação preliminar na qual não decidimos sobre a culpa ou inocência da parte interessada, mas sobre a plausibilidade ou não dos fatos”.

A emissora de rádio disse que o juiz pretendia reunir-se com a denunciante, mas esta recusou, decisão que o magistrado disse que respeitará, dizendo que a investigação continuará.

“Tenho a intenção de fazer o meu trabalho com respeito pelas pessoas e ao mesmo tempo garantir a confidencialidade de quaisquer comentários que elas possam me reportar. É por isso que não desejo fazer mais comentários públicos”, escreveu André Denis em e-mail à CBC.

Alain Arsenault, advogado que lidera a ação coletiva movida por mais de 140 pessoas contra a arquidiocese de Quebec e da qual participa a mulher que acusa o cardeal Lacroix, ressalta que não dá nenhum valor à investigação anunciada pela Igreja.

A resposta do cardeal Lacroix às acusações de abuso sexual

“Nego categoricamente as acusações que foram tornadas públicas. Nunca, que eu saiba, tomei atitudes inadequadas em relação a ninguém, sejam menores ou adultos. Minha alma e minha consciência estão em paz diante dessas acusações que refuto”, disse o cardeal Lacroix num vídeo publicado pela arquidiocese de Quebec em 30 de janeiro.

No entanto, depois de consultar os seus colaboradores mais próximos, o arcebispo disse: “Decidi retirar-me temporariamente das atividades na minha diocese. Não se trata de uma renúncia, mas sim uma retirada temporária que nos permite avaliar melhor os próximos passos a seguir e considerar as decisões que devem ser tomadas”.

“Permitam-me ser claro: a nossa diocese continua resolutamente empenhada em garantir que as vítimas de abuso recebam reparação financeira, além de outros meios à sua disposição para alcançar a cura. Para mim, para nós, isso é fundamental”, acrescentou.

O arcebispo de Quebec ofereceu então a sua oração por todas as vítimas de abuso sexual na Igreja e exortou a garantir “que nenhuma situação de abuso ocorra novamente”.

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