O bispo emérito de Broome, na Austrália, dom Christopher Saunders, foi preso sob acusação de estupro e outras com base, ao menos em parte, nas conclusões de uma investigação da Santa Sé sobre acusações de abuso de jovens vulneráveis.

As autoridades anunciaram ontem (22) que estavam acusando o bispo de 74 anos de duas acusações de estupro, 14 acusações de agressão ilegal e indecente e três acusações de tratar indecentemente uma criança, o que teria ocorrido nas cidades de Broome, Kununurra e a comunidade aborígine de Kalumburu entre 2008 e 2014.

A empresa de rádio e televisão Australian Broadcasting Corporation disse que Saunders vai se declarar inocente das acusações feitas contra ele. Saunders foi libertado ontem (21) sob fiança sob fiança de AU$ 10 mil (cerca de R$ 33 mil) e foi ordenado pelo Tribunal de Magistrados de Broome a residir nesta casa até a audiência inicial em junho.

Num comunicado de imprensa publicado ontem (21), o presidente da Conferência dos Bispos Católicos Australianos, dom Timothy Costelloe, disse que as alegações feitas contra Saunders “são muito sérias e profundamente angustiantes, especialmente para os que fazem essas alegações”.

É “certo e apropriado, e na verdade necessário, que todas essas alegações sejam minuciosamente investigadas”, disse Costelloe. A Igreja “continuará a cooperar plenamente com a polícia e a tomar todas as medidas necessárias para evitar quaisquer ações que possam comprometer a integridade e autonomia da investigação policial.”

Saunders foi ordenado sacerdote em 1976. Antes de ser nomeado bispo de Broome em 1996, ele teve várias atribuições em paróquias indígenas.

A diocese de Broome, uma diocese sufragânea da arquidiocese de Perth, está localizada na remota região noroeste de Kimberley, no estado da Austrália Ocidental.

As primeiras acusações contra Saundes foram feitas em 2020, ano em que se afastou da governança ativa da diocese. No ano seguinte ele renunciou formalmente alegando “problemas de saúde”.

Depois de uma investigação policial inicial não ter resultado em quaisquer acusações contra Saunders, o papa Francisco ordenou uma investigação canônica – a primeira do tipo na Austrália – na sequência do seu motu proprio Vos Estis Lux Mundi de 2019 , que estabeleceu um novo conjunto de normas para a Igreja relativa ao tratamento processual de casos de abuso sexual.

A investigação foi supervisionada pelo arcebispo de Brisbane, Mark Coleridge, mas conduzida por investigadores privados, gerando um relatório de 200 páginas.

Uma nova investigação foi aberta sobre as acusações feitas contra Saunders depois que o relatório foi entregue à polícia australiana. Em janeiro, detetives do Esquadrão de Abuso Infantil invadiram a antiga casa de Saunders.

O canal de notícias australiano 7NEWS obteve em setembro de 2023 o relatório da investigação, que detalhou um padrão de preparação de homens jovens e ocasiões de coação de homens jovens a se despir e praticar atos sexuais. O relatório também observou que Saunders organizava festas, às quais compareciam apenas homens jovens.

O relatório explosivo afirmou que Saunders “gastou centenas de milhares de dólares cuidando de jovens aborígenes vulneráveis ​​do sexo masculino, fornecendo-lhes presentes como álcool, telefones, dinheiro e viagens”.

“O bispo foi descrito de várias maneiras pelas testemunhas como… um predador sexual que procura atacar homens e meninos aborígenes vulneráveis”, disse o relatório.