O bispo emérito de Hong Kong (China), cardeal Joseph Zen Ze-kiun, lançou uma nova crítica ao Sínodo da Sinodalidade, alegando que o processo de debate e discernimento em curso oferece “duas visões opostas” da natureza, organização e papel da Igreja Católica.

“Por um lado, a Igreja é apresentada como fundada por Jesus sobre os apóstolos e seus sucessores, com uma hierarquia de ministros ordenados que guiam os fiéis no caminho para a Jerusalém celeste”, disse o cardeal de 92 anos, em um comentário de quase 3,6 mil palavras publicado na quinta feira (15) e intitulado “Como o sínodo continuará e como será concluído?”.

“Por outro lado, fala-se de uma sinodalidade indefinida, de uma ‘democracia dos batizados’”, continuou. Em seguida, ele perguntou: “Quais batizados? Ao menos vão à Igreja com regularidade? Tiram a sua fé da Bíblia e a sua força dos sacramentos?”.

O cardeal disse que “esta outra visão, se legitimada, pode mudar tudo: a doutrina da fé e a disciplina da vida moral”.

Aprofundando ainda mais nessas visões da eclesiologia, o cardeal chinês escreveu que "para não ver isso como uma contradição, devemos entender esse convite à sinodalidade não como ter que fazer algo completamente novo, mas como dar um novo impulso ao que sempre existiu na Igreja”.

O cardeal Zen reconheceu que os sínodos têm sido uma “realidade histórica” na Igreja. No entanto, enquanto os sínodos anteriores decorreram no quadro da tradição apostólica e estavam guiados pela “hierarquia de ministros ordenados que guiam os fiéis no caminho para a Jerusalém celeste”, o atual sínodo é caracterizado por uma “sinodalidade indefinida” e por uma democracia dos batizados.

“Dizem-nos que a sinodalidade é um elemento constitutivo fundamental da vida da Igreja, mas ao mesmo tempo destacam que a sinodalidade é o que o Senhor espera de nós hoje”, continua.

“A participação e a comunhão são evidentemente características permanentes da Igreja una, santa, católica e apostólica. Mas dizer que a sinodalidade é ‘o que o Senhor espera de nós hoje’, não significa que seja algo novo?”, escreveu o cardeal chinês.

“Para não ver uma contradição nisso, devemos entender este convite à sinodalidade não como ter que fazer algo completamente novo, mas como dar um novo impulso a algo que sempre existiu na Igreja”.

Uma das principais preocupações do cardeal Zen é como o Sínodo da Sinodalidade está sendo feito a nível global, começando com a assembleia inicial no Vaticano em outubro de 2023 e culminando no final deste ano com uma segunda assembleia em outubro.

Referindo-se ao chamado do Sínodo da Sinodalidade a “caminhar juntos”, o cardeal questionou: “Qual é o objetivo deste caminho? Existe um guia que garanta a direção correta?”

Em seu artigo, o cardeal também discorda da incorporação pelo sínodo do método de “conversação espiritual”, modalidade de diálogo que, segundo ele, foi iniciada pelos jesuítas no Canadá.

“Impor este método aos procedimentos sinodais é uma manipulação que visa evitar discussões”, alertou. “É tudo psicologia e sociologia, nada de fé ou teologia”, lamentou o cardeal.

Os organizadores do sínodo e o papa Francisco disseram que na “conversação espiritual” deve haver uma escuta atenta ao Espírito Santo para que Ele seja o protagonista.

Zen já expressou a sua preocupação com a trajetória do Sínodo da Sinodalidade numa carta aos bispos que foi enviada poucos dias antes do início da primeira sessão do sínodo em outubro.