Numa carta dirigida aos "meus irmãos e irmãs judeus em Israel" e divulgada ontem (3), o papa Francisco lamentou o "terrível aumento dos ataques contra judeus em todo o mundo" que ocorreu desde o início da guerra Israel-Hamas, em outubro passado.

As novas declarações do papa Francisco sobre o assunto foram feitas em resposta a um apelo de novembro, assinado por várias centenas de rabinos e estudiosos, que pedia à Igreja "que atuasse como um farol de clareza moral e conceitual em meio a um oceano de desinformação, distorção e engano" e que "distinguisse entre críticas políticas legítimas à política de Israel no passado e no presente e entre a negação odiosa de Israel e dos judeus".

A publicação ocorre no dia seguinte ao encontro do papa com o embaixador de Israel junto à Santa Sé, Raphael Yaakov Schutz, em audiência privada. Este último entregou-lhe um postal desenhado pelo cartunista israelense Zeev Engelmayer para expressar a dor e a angústia sentidas pelo povo israelense.

“O caminho que a Igreja iniciou com vocês, o antigo povo da Aliança, rejeita todas as formas de antijudaísmo e antissemitismo, condenando inequivocamente as manifestações de ódio contra os judeus e o judaísmo, como um pecado contra Deus”, diz a carta do papa Francisco.

Segundo o papa, os católicos “estão muito preocupados com o terrível aumento dos ataques contra os judeus em todo o mundo”.

“Esperávamos que ‘nunca mais’ seria um refrão ouvido pelas novas gerações, mas agora vemos que o caminho a seguir requer uma colaboração cada vez mais estreita para erradicar estes fenômenos”, disse ele.

No início da sua carta, Francisco reconheceu que o mundo está passando por “um momento de grande tribulação” por causa do aumento das “guerras e divisões”. Em particular, referiu-se à guerra entre o grupo jihadista Hamas e Israel na Terra Santa, que desde 7 de outubro até o momento deixou mais de 27 mil mortos.

“Meu coração fica partido quando vejo o que está acontecendo na Terra Santa, por causa do poder de tanta divisão e tanto ódio”, disse ele.

O papa Francisco também lamenta que este conflito bélico tenha gerado atitudes e “posições divisórias na opinião pública mundial, por vezes assumindo a forma de antissemitismo e anti-judaísmo”.

O papa disse que o seu coração está próximo de “todos os povos” que habitam a Terra Santa, incluindo israelenses e palestinos.

“Rezo para que prevaleça sobre todos o desejo de paz. Quero que saibam que estão perto do meu coração e do coração da Igreja”, acrescentou.

O papa Francisco dirigiu-se mais uma vez aos amigos e organizações judaicas para lhes enviar um abraço fraterno.

“Junto com vocês, lamentamos os mortos, os feridos, os traumatizados, rezando para que Deus Pai intervenha e acabe com a guerra e o ódio, esses ciclos incessantes que colocam o mundo inteiro em perigo. De forma especial, rezamos pelo regresso dos reféns, regozijando-nos por aqueles que já regressaram a casa e rezando para que todos os outros se juntem a eles em breve”, continuou.

Em outro momento, disse que “nunca devemos perder a esperança de uma paz possível” e que devemos trabalhar para promovê-la sem “derrotismo” e olhando para Deus.

Finalmente, ele exortou judeus e católicos a se comprometerem num caminho de “amizade, solidariedade e cooperação, procurando formas de reparar um mundo quebrado”.

“Ainda temos muito a fazer juntos para garantir que o mundo que deixamos aos que vêm depois de nós seja melhor, mas estou confiante que poderemos continuar trabalhando juntos para este objetivo”, concluiu.