O bispo-auxiliar de Toledo, dom César García Magán, porta-voz da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), criticou a "auditoria independente sobre as alegações de abuso sexual no âmbito da igreja católica espanhola" do escritório de advocacia Cremades & Calvo Sotelo entregue em dezembro de 2023.

O porta-voz disse ao jornal espanhol ABC que "o relatório da auditoria do escritório de advocacia Cremades & Calvo Sotelo não é o relatório da igreja. É uma ferramenta da qual nos servimos, como de outras".

García Magán diz que é "um trabalho profissional e sério" realizado por uma equipe escolhida inteiramente pela empresa jurídica, mas aponta questões polêmicas sobre o relatório.

Ele critica a entrega final do documento, pois alguns dos conteúdos "não estavam em conformidade" ao esboço acordado com a CEE quando foi encomendado, ao mesmo tempo em que enfatiza que "houve nove meses de atraso e com repetidas datas de compromisso que não foram cumpridas".

Por outro lado, com relação a acusação de "encobrimento" contida no relatório que aponta as dioceses espanholas, o também secretário-geral da CEE disse que "fazer declarações gerais sempre tem seus riscos". Neste sentido, assegurou ainda que as condenações civis por responsabilidade civil subsidiária contra os bispados são "mínimas".

Dom García Magán também revelou que, embora o escritório de advocacia tenha assumido o trabalho voluntário (na prática, sem pagamento de honorários), a CEE pagou mais de um milhão de euros ao escritório de advocacia.

"O pedido, como dito no início, era voluntário. A situação não mudou de jure (legalmente), mas de facto (de verdade). Pagamos mais de um milhão de euros", ele reconheceu.

"Em setembro passado, como o relatório da auditoria deveria ser entregue em 23 de março e já haviam se passado seis meses, foi acertado e por escrito que essas eram as últimas faturas e o assunto estava encerrado", especificou, apesar de o escritório continuar a enviar faturas ao órgão da coordenação episcopal.

Aberto a um ato público de perdão

Dom García Magán, para quem o plano de reparação econômica deverá ser aprovado no próximo mês de março, descartou, por enquanto, um ato público de perdão, embora tenha admitido que "é um assunto que está em aberto".

Por outro lado, o porta-voz episcopal mostra-se convencido de que, apesar do interesse informativo pelo número de vítimas, "uma conclusão que se tira dos diversos relatórios, é que é muito difícil determinar o número exato".

Disputa com o Defensor Público

O bispo também comentou sobre outro relatório sobre abusos, e que foi apresentado pelo Defensor Público em outubro de 2023, que inclui uma pesquisa segundo a qual, com dados extrapolados, haveria 400 mil vítimas de abusos perpetrados dentro da igreja católica.

O porta-voz especificou que, tanto o autor da pesquisa quanto o escritório do Defensor Público "disseram que não cabiam essas extrapolações".

Além disso, denunciou, em relação ao inquérito, que "faltam dados técnicos da amostragem, do tipo de perguntas que foram feitas" e que, apesar de terem sido solicitados, não lhes foram fornecidos. "[O Gabinete] Transparência e o Defensor Público disseram que não nos deram nada e que podemos recorrer à Audiência Nacional", concluiu.