“O povo sírio está condenado a morrer sem poder dizer nada”, disse o arcebispo de Homs, dom Jacques Mourad, em entrevista a Vatican News, agência de informação da Santa Sé.

Há um ano, dom Mourad é arcebispo de Homs, a terceira cidade mais importante e populosa da Síria, depois da capital Damasco e de Aleppo. A Vatican News, o arcebispo disse que o plano de ajuda alimentar das Nações Unidas (ONU) na Síria foi cortado à metade há seis meses e completamente cancelado em 1º de janeiro7.

Mais de 5 milhões de pessoas afetadas por conflitos dependiam desta ajuda, que incluía não só alimentos, mas também necessidades básicas. O arcebispo considera uma medida “terrível e injusta”.

Além da guerra civil que já dura 13 anos, a Síria também foi gravemente afetada pelo terremoto do ano passado, especialmente nas zonas fronteiriças com a Turquia. Dom Mourad acrescentou que a decisão de cancelar a ajuda alimentar “foi tomada para lançar o povo sírio no desespero total, para apagar todas as luzes que pudessem permanecer acesas graças à nossa fé e graças à esperança”.

O arcebispo disse que a Igreja e as organizações não governamentais que trabalham na Síria fizeram verdadeiros milagres para satisfazer as necessidades urgentes da população ao longo dos anos de guerra. Agora, com a interrupção da assistência humanitária da ONU, que beneficiou dois terços dos sírios, dom Mourad pergunta-se “se ainda existe uma esperança de que se possa evitar que as pessoas morram de fome”.

Segundo Mourad, a Igreja não pode servir todas as pessoas que precisam de ajuda, realidade que se agrava consideravelmente porque é muito difícil enviar dinheiro do exterior para o país, devido às sanções impostas ao país pela ONU e pelos EUA.

"Então, o que fazemos? Como pode o povo sírio viver? Muitas famílias sírias já comem uma vez por dia, apenas uma vez por dia. Esquecemos o que significa aquecimento, porque não podemos comprar diesel ou lenha, esquecemos o que é água quente, esquecemos o que é uma sociedade”, disse.

Para o arcebispo de Homs, a única solução não é só a Igreja Católica, mas também a União Europeia. Ele tem esperança de que a UE assuma uma posição clara, marcada por “uma sensibilidade sincera e humana”.

“Por que se quer fazer esse povo morrer? Não é possível que o mundo inteiro abandone o povo sírio, o que fizemos de errado para sermos condenados à morte?”, concluiu dom Mourad.

Em 2024 a Igreja Católica continuará ajudando o povo sírio

Regina Lynch, presidente executiva da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), disse que durante 2024 a Síria será um dos principais países ajudados pela organização.

“Na Síria não podemos falar de perseguição em si, mas estamos entrando no décimo terceiro ano de guerra, ainda há muitos conflitos e o terremoto tornou tudo ainda mais difícil. Há sempre o perigo de a Síria desaparecer do radar, por isso para nós é importante continuar a concentrar-nos neste país e lembrar às pessoas o que está acontecendo lá”, disse Lynch.

O trabalho da ACN no país, como disse dom Mourad, tem sido contínuo durante toda a guerra. Em dezembro passado, a fundação pontifícia enviou mais de meio milhão de euros à Síria e ao Líbano “para dar alegria aos pequeninos na véspera de Natal e mostrar-lhes que não estão esquecidos”. Graças a esta iniciativa, 35 mil crianças sírias receberam agasalhos urgentemente necessários no Natal.