O governo de Daniel Ortega, ex-líder guerrilheiro de esquerda que soma 30 anos no poder, prendeu mais três padres na Nicarágua. Trata-se do monsenhor Carlos Avilés, vigário-geral da arquidiocese de Manágua; do padre Héctor Treminio, pároco da igreja de Santo Cristo de Esquipulas, na mesma arquidiocese; e do padre Fernando Calero, pároco de Nossa Senhora de Fátima Rancho Grande, na diocese de Matagalpa.

O paradeiro dos três padres é desconhecido.

O bispo-auxiliar de Manágua, dom Silvio José Báez, exilado nos EUA por causa da perseguição do regime de Ortega, disse ontem (28): "Estou indignado com o sequestro injusto de três amados sacerdotes de Manágua pela criminosa ditadura sandinista".

Estes novos casos se somam ao do padre Pablo Villafranca, pároco da igreja de Nosso Senhor de Veracruz em Nindirí, Masaya, também na arquidiocese de Manágua, preso em 26 de dezembro. Até o momento não há informações sobre seu paradeiro.

O bispo de Siuna, dom Isidoro del Carmen Mora Ortega, também foi preso em dezembro. Dois seminaristas foram levados pelas autoridades junto com dom Mora, sem que houvesse mais informações sobre eles. Monsenhor Óscar Escoto, vigário-geral da diocese de Matagalpa, foi preso durante algumas horas.

O padre Jader Guido, foi preso no dia 24 de dezembro e logo libertado.

A perseguição contra a Igreja Católica por parte do regime de Daniel Ortega intensificou-se nos últimos meses. O caso mais emblemático é o do bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, preso em agosto de 2022 e condenado em fevereiro deste ano a mais de 26 anos de prisão por “traição à pátria”.

 

2023: O ano de “mais ataques” contra a Igreja Católica na Nicarágua

Martha Patricia Molina, pesquisadora nicaraguense e autora do estudo Nicarágua: Uma Igreja Perseguida?, disse à ACI Prensa ontem (28) que os presos “são sacerdotes com uma longa vida pastoral e muito queridos pelos leigos”. Ela também disse que o governo os prende “sem motivo, sem mandado de prisão e em veículos paramilitares privados”.

“De 2018 a 2023, a Igreja Católica sofreu 756 ataques contra ela [na Nicarágua]. Só em 2023, foram feitos 291 ataques. Podemos descrever este último ano como o ano com mais ataques contra a Igreja Católica nos últimos cinco anos. Só no mês de dezembro de 2023 foram registradas 25 hostilidades provocadas”, disse Molina.

Aos casos de desaparecimentos forçados somam-se os de 177 religiosos que foram diretamente impedidos de exercer o seu ministério pastoral, e forçados ao exílio.

Molina lembrou que o papa Francisco falou em várias ocasiões sobre a grave crise que passa a Igreja Católica na Nicarágua desde abril de 2018. Este ano, o papa comparou o regime sandinista às “grosseiras” ditaduras do início do século XX. Também se referiu a Daniel Ortega como uma pessoa que sofre de “desequilíbrio”.

A pesquisadora nicaraguense disse que “a Santa Sé continua as negociações com a ditadura, mas o que acontece é que a família Ortega-Murillo quer ter o controle absoluto na nomeação de bispos ou cardeais”. Rosario Murillo é a mulher do ´presidente Ortega e tem o cargo de vice-presidente do país.