A Polícia da Nicarágua prendeu ontem (20) o bispo de Siuna, Nicarágua, dom Isidoro del Carmen Mora Ortega. É o segundo bispo preso pelo governo liderado por Daniel Ortega , ex-líder guerrilheiro de esquerda que soma 30 anos no poder.

Dom Mora Ortega, de 63 anos, foi preso um dia depois de o bispo ter celebrado uma missa em Matagalpa e ter pedido para rezar pelo bispo de lá, dom Rolando Álvarez, preso em agosto de 2022 e condenado a 26 anos de prisão em fevereiro deste ano.

Atualmente, dom Álvarez está preso na prisão conhecida como “La Modelo”, para onde comumente são enviados os presos políticos do regime.

A notícia da prisão de dom Mora Ortega foi divulgada por diversos meios de comunicação locais independentes, como La Prensa e El Confidencial, Mosaico CSI e 100% Noticias.

Segundo fonte citada pelo Mosaico CSI, o bispo teria sido preso pela polícia quando ia para a paróquia de Santa Cruz, que fica no município de La Cruz, em Río Grande. Sua intenção era celebrar o sacramento da crisma a 230 fiéis.

Não se sabe para onde o bispo foi levado se foi levado.

Arturo McFields Yescas, ex-embaixador da Nicarágua na Organização dos Estados Americanos (OEA), disse na rede social X (antigo Twitter) que dom Mora Ortega "foi detido por enviar uma mensagem e orações em favor do bispo do povo dom Rolando Álvarez, que está preso há mais de 500 dias".

Na missa que rezou em Matagalpa, dom Mora elogiou o apoio e as orações oferecidas pela Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN) em favor de dom Rolando Álvarez.

“Gostaria de expressar as saudações da Conferência Episcopal da Nicarágua. Estamos sempre unidos por esta maravilhosa diocese de Matagalpa, rezando por dom Rolando e pela jornada de cada um de vocês, estamos unidos na oração, na comunhão, na fé, no amor e na ternura”, disse o bispo de Siuna em sua homilia de terça-feira (19), na missa celebrada na catedral de São Pedro, em Matagalpa.

Ele também disse que a diocese de Matagalpa é considerada um “canteiro de fé”. “Não há paróquia onde não veja um Matagalpino, um irmão de Río Blanco, Matigués, Esquipulas, San Dionisio, Rancho Grande, Muy Muy, até de Cacao”.

Martha Patricia Molina, pesquisadora nicaraguense e autora do estudo Nicarágua: Uma Igreja Perseguida?, disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, hoje (21) que além de dom Mora, “também foram sequestrados os seminaristas Alester Saenz e Tony Palacio”.

“Todos iam para uma atividade pastoral (crisma). Não há informações sobre seu paradeiro”, disse.

Dom Mora Ortega nasceu em Matagalpa e recebeu a ordenação sacerdotal em 20 de setembro de 2003. Antes de ser nomeado bispo de Siuna pelo papa Francisco, em 8 de abril de 2021, foi vigário-geral da diocese de Matagalpa.

Na Nicarágua, Daniel Ortega, no poder ininterruptamente desde 2007, dirigiu os seus ataques contra instituições católicas e vários membros do clero. Os ataques intensificaram-se desde 2018, ano em que o governo reprimiu com violência os protestos civis massivos contra o regime, recebendo duras críticas de líderes católicos, como dom Rolando Álvarez.

Segundo a última atualização do estudo de Molina, de 2018 a 2023 a Igreja na Nicarágua sofreu 740 ataques contra ela. Só em 2023, foram feitos 275 ataques, tornando-o o ano com mais ataques contra a Igreja nos últimos cinco anos.

Dom Álvarez, conhecido defensor dos direitos humanos e considerado um dos mais proeminentes críticos do governo, está preso injustamente. No início deste ano, foi condenado a 26 anos de prisão por suposta traição, depois de se recusar a ser deportado para os EUA juntamente com outros presos políticos.