Sob certas circunstâncias um católico pode manter uma pequena porção das cinzas de um ente querido que tenha sido cremado em um local pessoal significativo, disse o Dicastério para a Doutrina da Fé.

A orientação está em uma carta escrita pelo prefeito do dicastério, cardeal Victor Manuel Fernández em resposta a uma consulta do arcebispo de Bolonha, cardeal Matteo Maria Zuppi. A carta de Fernández foi publicada no último sábado (9) em resposta à pergunta de Zuppi formulada em 30 de outubro.

Segundo o órgão da Santa Sé responsável pela preservação da doutrina, a autoridade eclesiástica local poderá avaliar o pedido da família “para preservar de forma adequada uma parte mínima das cinzas de seu familiar em um lugar significativo para a história da pessoa que morreu”.

Isso só poderá acontecer se a família rejeitar “todo tipo de mal-entendido panteísta, naturalista ou niilista”, diz a carta. As cinzas do morto “devem ser guardadas em um lugar sagrado”.

"As cinzas do morto… provêm dos restos materiais que fizeram parte do percurso histórico da pessoa – tanto que a Igreja demonstra especial cuidado e devoção pelas relíquias dos santos”, acrescentou Fernández. “Essa atenção e lembrança também nos leva a ter uma atitude de respeito sagrado para com as cinzas do morto, que conservamos em local sagrado adequado à oração, às vezes localizado perto das igrejas visitadas pelos familiares e vizinhos do morto”.

O cardeal disse também que é permitido que as cinzas misturadas de pessoas mortas e batizadas sejam depositadas em um lugar sagrado permanente se os nomes das pessoas forem indicados para não perder a memória deles.

Ao explicar os regulamentos da Igreja para a preservação das cinzas cremadas, Fernández citou um documento da Congregação para a Doutrina da Fé de 2016 que proíbe espalhar as cinzas e exige que elas sejam guardadas num local sagrado designado pela autoridade eclesiástica. O cardeal observou que estes regulamentos ainda são válidos.

“A reserva das cinzas dos defuntos em local sagrado garante que não sejam excluídos das orações e da lembrança da sua família ou da comunidade cristã” no caso de cremação, segundo a instrução Ad resurgendum cum Christo, Relativa ao Enterro dos Mortos e à conservação das cinzas no caso de cremação, que o cardeal citou na sua carta.

“Evita que os fiéis mortos sejam esquecidos, ou que os seus restos mortais sejam desrespeitados, o que é possível, sobretudo quando a geração imediatamente subsequente também já morreu”, acrescenta o documento de 2016. “Também evita quaisquer práticas impróprias ou supersticiosas.”

Fernández, em sua carta deste mês, referiu-se à doutrina católica de que “seremos ressuscitados [dos mortos] com a mesma identidade corporal, que é material,… embora essa matéria seja transfigurada, libertada das limitações deste mundo”.

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Disse que esta doutrina evita “qualquer dualismo prejudicial entre o material e o imaterial”, mas que a transformação “não implica a recuperação das partículas idênticas de matéria que outrora formaram o corpo do ser humano”.

“O corpo do ressuscitado não consistirá necessariamente dos mesmos elementos que tinha antes de morrer”, acrescentou o cardeal. “Como não se trata de uma simples revivificação do cadáver, a ressurreição pode ocorrer mesmo que o corpo tenha sido totalmente destruído ou disperso. Isso nos ajuda a entender por que, em muitas urnas cinerárias, as cinzas dos mortos são conservadas juntas e não armazenadas separadamente.”