No dia 8 de dezembro, dia da Imaculada Conceição, padroeira da Espanha, os espanhóis foram convocados a rezar o santo rosário “pela unidade da Espanha” em mais de 50 cidades do país.

A iniciativa é promovida por leigos católicos preocupados com a situação política, social e moral na Espanha e em resposta à pressão do governo do presidente Pedro Sánchez, para impedir expressões de fé em vias públicas.

Pactos de governo “imorais”

No final de outubro e início de novembro, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) anunciou os acordos políticos necessários para continuar no poder depois das eleições gerais de 23 de julho.

Os partidos que se uniram para promover este acordo são de esquerda, ou separatistas.

Entre eles está o EH Bildu, que apoia o terrorismo do grupo separatista basco ETA, que matou mais de 800 pessoas ao longo de 40 anos. Fazem também parte desta aliança política duas organizações: a Esquerra Republicana de Cataluña (ERC) e a Junts per Catalunya (JxC), que promoveram a tentativa de golpe de Estado separatista na Catalunha em 2017.

Os pactos firmados incluem uma lei de anistia para os líderes separatistas catalães condenados.

Alguns bispos disseram que esses pactos são “imorais” e denunciaram que, neles, aqueles que “ofenderam grave e violentamente a coexistência, destruindo um Estado de direito, determinam com a sua moeda o futuro de um povo”.

A Conferência Episcopal Espanhola (CEE) manifestou recentemente a sua preocupação com a crise social e política que se vive no país numa mensagem intitulada O encontro e a concórdia ainda são possíveis.

O Rosário pela Espanha une-se à mobilização cidadã

No dia 3 de novembro, quando o pacto que incluía a amnistia dos golpistas na Catalunha já era dado como certo, começaram a ocorrer protestos perto da sede nacional do PSOE, que foram reprimidos pela Polícia Nacional.

Pouco mais de uma semana depois, alguns leigos começaram a rezar o santo rosário na escadaria do Santuário da Imaculada Conceição, a poucos metros do local dos protestos. Era domingo, 12 de novembro.

Assim, durante duas semanas, às 19h30, o santo rosário foi rezado sem problemas ou incidentes. No final, alguns aderiram livremente às manifestações civis contra o governo.

A oração do Rrosário pela Espanha foi proibida pelo governo

A Lei Orgânica que regula o direito fundamental de reunião prevê que os eventos públicos devem ser comunicados à Delegação do Governo, na forma ordinária, com 10 dias de antecedência. No entanto, prevê a comunicação por meios extraordinários com um prazo mínimo de 24 horas caso sejam invocados motivos urgentes.

Todas as convocatórias para rezar o santo rosário durante as duas semanas anteriores à segunda-feira, 27 de novembro, foram comunicados e a autoridade governamental optou pelo silêncio administrativo. Isso significa que, caso não haja resposta da administração, entende-se que nada impede que a convocatória aconteça.

Mas na segunda-feira, dia 27, a Delegação do Governo deu ordem para impedir a oração do santo rosário. No horário habitual, muitos agentes das Unidades de Intervenção Policial (UIP), tropa de choque da polícia em Madri, subiram as escadas do templo onde estava acontecendo a oração.

 

Segundo as testemunhas, a polícia informou que o ato não poderia acontecer, mas os fiéis continuaram com a oração do santo rosário. O organizador do evento, José Andrés Calderón, foi identificado e uma mulher foi presa.

Nessa mesma noite, Calderón tornou pública outra resolução da Delegação do Governo, pela qual eram proibidas as convocatórias para rezar o rosário marcadas para os dias 28, 29 e 30 de novembro.

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Oração do rosário em frente aos policiais

A notícia da proibição de segunda-feira fez com que na teleconferência de terça-feira, dia 28, o clima fosse um pouco mais tenso do que o normal. Assim, centenas de pessoas reuniram-se no local, desafiando a proibição do governo.

A oração transcorreu sem incidentes, até que, ao final, os responsáveis ​​​​pela tropa de choque foram falar com Calderón para informá-lo de que iriam propor que ele fosse multado por não cumprir a proibição da Delegação do Governo.

Entre os presentes, espalhou-se o boato de que Calderón seria preso, muitos se reuniram em volta dele e dos agentes da Polícia Nacional, defendendo o direito de rezar livremente o rosário.

 

A Polícia notifica uma multa a José Andrés Calderón no meio do terço, na Espanha. Crédito: Nicolás de Cárdenas. /ACI Prensa.

Quando a tropa de choque colocou os capacetes e proteção em preparação para um possível uso da força, os manifestantes ergueram os seus rosários e formaram uma frente diante da qual os agentes recuaram vários metros ao longo da rua Marqués de Urquijo, perpendicular à de Ferraz, onde fica a sede do PSOE.

Depois de 10 minutos de tensão crescente, os manifestantes decidiram, por iniciativa própria, voltar ao local inicial do protesto, para continuar a mostrar a sua rejeição aos acordos pós-eleitorais do presidente Pedro Sánchez.

Rosário pela Unidade da Espanha

Em protesto contra as proibições impostas pela Delegação do Governo em Madri, na mesma terça-feira começou a circular entre os presentes a convocatória para rezar um Rosário Nacional pela Unidade da Espanha no dia 8 de dezembro.

A iniciativa convidava, de forma genérica, a reunir-se para rezar em frente à catedral ou templo principal de cada vila ou cidade no dia da padroeira da Espanha “em comunhão com o rosário de Ferraz”.

Na quarta-feira, 29 de novembro, apesar da proibição, os fiéis se reuniram novamente para rezar. Nessa ocasião, não houve momentos de tensão com a polícia. Mas, pela manhã, o Tribunal Provincial de Madri ratificou a decisão da Delegação do Governo.

 

Cartaz convocando a um Rosário pela Espanha em 2023 no dia da Imaculada Conceição, sua padroeira. Crédito: Rosário em Ferraz

O Rosário pela Espanha em 50 cidades

Na sexta-feira (1º), a convocatória nacional para o dia 8 já havia confirmado as primeiras 15 cidades e, apenas cinco dias depois, foram confirmadas 50 convocatórias espalhadas por todo o país. Há também uma convocatória em Miami (EUA).

Os promotores da oração também tornaram público o manifesto que será lido no dia da Imaculada Conceição em todos os locais onde esta iniciativa é apoiada, que quer ser distinguida nas redes sociais com a hashtag #RosarioPorEspaña.

Quem quiser aderir com um novo local pode adicionar os dados através deste formulário. Os cartazes anunciando cada evento estão disponíveis neste link.

Manifesto do Rosário pela Espanha

Ontem (5) foi publicado o Manifesto do Rosário pela Espanha, que será lido em todas as convocatórias. Nele se denuncia que “a nação espanhola está numa encruzilhada” e que está ameaçada pela “sua balcanização progressiva, pelo sequestro do Parlamento pelas forças anti-espanholas, pela destruição da classe média e pela falta de um verdadeiro projeto nacional”.

Acima de tudo, considera-se que a Espanha “sofre, sobretudo, de uma falência moral e espiritual” porque “falsas religiões seculares” corromperam “as raízes mais profundas do povo espanhol”.

O manifesto também diz que “o Estado usurpou a auctoritas que a Igreja historicamente teve” e que existe uma dupla perseguição religiosa. Uma “violenta” e outra “mais invisível e perigosa” e que entra “em áreas nas quais um governante, a menos que seja um tirano, nunca poderia interferir”.

O manifesto também enfatiza que "a linha entre o governo justo e o tirânico já foi ultrapassada há muito tempo" na Espanha e, entendendo que "a religião é o maior inimigo de todo tirano", lembra que "os católicos têm o dever de dar testemunho de sua fé em todas as áreas".

O manifesto conclui dizendo que o Rosário pela Espanha é convocado “com o propósito de adorar a Deus e venerar a sua Mãe Imaculada. Rezamos pela intercessão e ajuda da Virgem Maria para evitar o desmembramento territorial e espiritual da Espanha. Deus está conosco!".