A ênfase dos elementos culturais em detrimento dos cristãos nas celebrações litúrgicas é uma distorção do mistério pascal que define a liturgia, disse o cardeal Robert Sarah.

Em sua homilia na missa de abertura do primeiro Congresso Internacional de Liturgistas Africanos, que começou em Dakar, Senegal, na segunda-feira (4), o cardeal Sarah sublinhou a importância da liturgia para os cristãos.

“Estamos trabalhando para adicionar elementos africanos e asiáticos à liturgia, distorcendo assim o mistério pascal que celebramos”, lamentou. “Colocamos tanta ênfase nestes elementos culturais que as nossas celebrações às vezes duram seis horas."

"Nossas liturgias são muitas vezes muito banais e muito barulhentas, muito africanas e menos cristãs", lamentou o cardeal guineense, que foi prefeito da congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos até fevereiro de 2021.

"Se olharmos para a liturgia como uma questão prática de eficiência pastoral, corremos o risco de transformá-la numa obra humana, uma série de cerimônias mais ou menos bem sucedidas", advertiu Sarah.

O congresso em Dakar, com o tema: "O estado da questão litúrgica em África: realizações, desafios e perspectivas”, vai de 4 a 8 de dezembro, examinando a constituição Sacrosanctum concilium, do Concílio Vaticano II, 60 anos após ser promulgada pelo papa são Paulo VI em 4 de dezembro de 1963.

Ao refletir por ocasião do jubileu de diamante da publicação do documento, o cardeal Sarah criticou o crescente "improviso da criatividade", que ele diz não contribuir para a renovação do povo de Deus.

"Por 60 anos notamos que anos após ano a reforma litúrgica aliada a muito idealismo e grandes esperanças de muitos sacerdotes e leigos acaba por ser uma avalanche de improvisação de criatividade e uma desolação litúrgica em vez da renovação da Igreja e da vida eclesial", lamentou.

"Estamos testemunhando hoje, especialmente no Ocidente, um desmantelamento dos valores de fé e piedade que nos foram transmitidos e, em vez de uma renovação frequente da liturgia, estamos testemunhando uma destruição das formas da missa”, disse olhando além da África.

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“Rezemos, queridos irmãos e irmãs, para que possamos redescobrir a origem trinitária da liturgia”, disse o cardeal de 78 anos, que iniciou o seu ministério episcopal em 8 de dezembro de 1979 como arcebispo de Conacri, na Guiné.

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O cardeal prosseguiu elogiando o congresso de liturgistas africanos de cinco dias como “histórico” e um marco importante para o futuro do povo de Deus no segundo maior e mais populoso continente do mundo.

“Este encontro é histórico e de vital importância para o futuro da Igreja de Jesus Cristo na África, porque a liturgia é vital para a religião cristã, e estes especialistas litúrgicos estão aqui não apenas como especialistas, mas sob o olhar atento de Deus, eles querem ajudar-nos a viver plenamente a nossa fé e a nossa religião cristã”, disse o cardeal Sarah.

“60 anos após a promulgação da Constituição sobre a Sagrada Liturgia, os liturgistas africanos organizam este primeiro congresso internacional de liturgistas africanos para comparar os seus pensamentos sobre a prática litúrgica e a fidelidade das comunidades africanas à tradição cristã e aos valores autênticos das culturas africanas", acrescentou.

O cardeal destacou três coisas que disse serem “necessárias para constituir uma religião: em primeiro lugar, as crenças; em segundo lugar, regras de vida; e em terceiro lugar, ritos de adoração.”

"Quando as crenças atingem um estágio de alta perfeição, elas se tornam dogmas ou verdades de fé. Quando as regras de vida são precisas e justas, constituem uma lei divina, e quando os ritos são fixos e definidos, não estão sujeitos à improvisação, à criatividade ou à imaginação dos sacerdotes, eles formam uma liturgia", explicou.

"Cada religião deve ser julgada por estas coisas: a sua moralidade e a sua liturgia. Neste triplo aspecto, a religião cristã não teme comparações; é muito superior a todas as outras”, disse o cardeal.

Sarah foi um dos cinco cardeais responsáveis pelas dubia, perguntas apresentadas ao papa Francisco antes da abertura do Sínodo da Sinodalidade, cuja primeira fase ocorreu de 4 a 29 de outubro, no Vaticano.

O congresso que se encerra na sexta-feira (8), solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, deverá examinar o caminho do povo de Deus na África em relação à constituição Sacrosanctum concilium.

Segundo o Secretário da Comissão Científica do congresso, o padre Josaphat Wasukindi Mbindule, os participantes no congresso deverão também refletir sobre “a prática litúrgica e a fidelidade das comunidades eclesiais da África em relação à tradição cristã e aos valores autênticos das culturas africanas”.