O papa Francisco vai tirar o salário e a moradia do cardeal Raymond Leo Burke, notícia que surgiu com o site católico italiano La Bussola Quotidiana, foi divulgada pela agência de notícias Associated Press citando fontes anônimas e confirmada por Austen Ivereigh biógrafo e uma das pessoas mais próximas do papa.

Quem é o cardeal Raymond Burke?

Nascido em 30 de junho de 1948, em Richland Center, Wisconsin, EUA, Burke é o mais novo de seis irmãos. Depois de receber sua formação no seminário de La Crosse (Wisconsin), na Universidade Católica da América (Washington D.C.) e na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, foi ordenado sacerdote pelo papa são Paulo VI em 29 de junho de 1975, em uma missa da Solenidade dos Santos Pedro e São Paulo.

Em 6 de janeiro de 1995 foi nomeado bispo de La Crosse pelo papa são João Paulo II. Em dezembro de 2003 foi nomeado arcebispo de Saint Louis, no estado de Missouri, onde serviu até 2008. Em obediência a seu "dever solene", como ele mesmo definiu, de defender a fé, Burke excomungou três mulheres ordenadas ilegalmente em novembro de 2007.

Em maio de 2008, a então Congregação para a Doutrina da Fé emitiu um decreto dizendo que “quem tiver tentado conferir a ordem sacra a uma mulher, ou a mulher que tiver tentado receber a sacra ordem, incorre na excomunhão latae sententiae” ou excomunhão automática, uma vez que a ordem sacerdotal na Igreja Católica é reservada apenas aos homens.

Em junho do mesmo ano, o papa Bento XVI nomeou-o prefeito da Assinatura Apostólica, a mais alta instância judicial da Santa Sé.

O cardeal deu uma entrevista na qual disse que os políticos que defendem publicamente o aborto não deveriam receber a eucaristia.

Dois anos depois, no consistório de 20 de novembro de 2010, foi nomeado cardeal.

O cardeal Burke serviu como prefeito da Assinatura Apostólica até novembro de 2014, quando o papa Francisco o demitiu de seu cargo e o nomeou capelão da Soberana Ordem Militar de Malta.

Crítico do pontificado do papa Francisco

O cardeal norte-americano é um dos quatro signatários das dubia (dúvidas) apresentadas ao papa Francisco a respeito da exortação apostólica Amoris laetitia de 2016. As perguntas centram-se na possibilidade de dar a comunhão aos divorciados que se casaram novamente pelo civil e na validade do ensinamento de são João Paulo II exposto na encíclica Veritatis splendor.

Estas perguntas não receberam resposta do papa.

Em julho de 2021, o cardeal Burke questionou a autoridade do papa Francisco para restringir a missa tradicional em latim com o motu proprio Traditionis custodes.

No texto publicado em seu site, o cardeal questionou: “Pode o Romano Pontífice abolir legalmente (a missa na forma extraordinária)? A plenitude do poder (plenitudo potestatis) do romano pontífice é o poder necessário para defender e promover a doutrina e a disciplina da Igreja”.

No entanto, acrescentou, “não é um ´poder absoluto´, o que incluiria o poder para mudar a doutrina ou para erradicar uma disciplina litúrgica que tem estado viva na Igreja desde o tempo do papa Gregório Magno, e inclusive antes”.

Em outubro de 2023 foi anunciado que o cardeal Burke e os cardeais Juan Sandoval, Robert Sarah, Joseph Zen Ze-kiun e Walter Branmüller haviam enviado novas dubia ao papa Francisco para buscar esclarecimentos sobre temas de doutrina e disciplina, dois dias antes do início do Sínodo da Sinodalidade.

O papa Francisco convocou o Sínodo da Sinodalidade em outubro de 2021 sob o lema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. 365 pessoas participaram da sessão de outubro de 2023 em Roma, incluindo bispos, religiosos, sacerdotes, diáconos e leigos. Pela primeira vez, os não-bispos – incluindo 54 mulheres – tiveram o direito de votar. Alguns dos temas discutidos, como o diaconado feminino, foram aceitos pela maioria dos participantes.

Num evento que aconteceu no dia 3 de outubro em Roma, organizado por La Nuova Bussola Quotidiana, o cardeal Burke disse que as dubia não são um ataque ao papa Francisco, mas “tratam exclusivamente da doutrina e da disciplina perene da Igreja, não de uma agenda do papa”.

Sem casa ou salário para o cardeal Burke?

Nos últimos dias foi noticiado que o papa Francisco decidiu retirar a moradia e o salário do cardeal Burke.

Mais em

Segundo nota da Associated Press (AP) de 28 de novembro, duas fontes anônimas do Vaticano teriam dito que o papa discutiu as ações planejadas contra o cardeal americano numa reunião de chefes de gabinete da Santa Sé, em 20 de novembro. Segundo a nota, o papa disse que o cardeal Burke era uma fonte de “desunião” na Igreja e que estava usando os privilégios concedidos aos cardeais reformados contra a Igreja.

Numa nota publicada no domingo (3), The Pillar disse que o cardeal Burke já foi notificado na sexta-feira (1º), informando-o de que deve começar a pagar o preço de mercado pelo seu apartamento no Vaticano, sem especificar o valor. Caso não possa fazê-lo, deverá deixar a propriedade no dia 29 de fevereiro de 2024.

Segundo a nota, o cardeal Burke deixaria o apartamento que fica num prédio próximo ao Vaticano, onde moram outros cardeais, e procuraria um novo lar em Roma. Até agora, o cardeal americano não falou publicamente sobre este assunto.