O patriarca latino de Jerusalém, cardeal Pierbattista Pizzaballa, manifestou a esperança de que a libertação de um primeiro grupo de reféns, iniciada na sexta-feira (24), ajude a encontrar soluções para acabar com a guerra entre Israel e o grupo radical muçulmano Hamas.

Na sexta-feira (24) entrou em vigor o cessar-fogo de quatro dias acordado entre Israel e o Hamas, com o objetivo de a organização islâmica libertar 50 reféns sequestrados em Israel no dia 7 de outubro em troca de 150 mulheres e menores palestinos presos em Israel por ataques contra israelenses.

O cessar-fogo também permitirá a entrada de ajuda humanitária para cuidar da população da Faixa de Gaza.

Numa entrevista publicada no Vatican News, site de notícias oficial da Santa Sé, o cardeal disse que chegar “a um acordo sobre a libertação de ao menos alguns dos reféns é positivo, porque até agora o único canal de comunicação era o militar.”.

“Em vez disso, esse é um primeiro passo para aliviar a tensão interna e internacional. Além disso, é também uma maneira de começar a iniciar outras soluções além das militares: quero dizer, soluções para acabar com o conflito”, acrescentou.

O cardeal disse que “a solução não pode ser deixada apenas para os militares” e que “a política deve retomar a situação em suas próprias mãos, dar acima de tudo perspectivas, porque os militares não as têm”.

“Portanto, está claro que as negociações, a libertação dos reféns, são os primeiros passos para iniciar os caminhos das perspectivas políticas para Gaza após essa guerra. Isso é necessário”, disse ele.

Durante a entrevista, o cardeal Pizzaballa reconheceu que “não é fácil” derrotar uma ideologia como a do Hamas, cujo objetivo é destruir o Estado de Israel.

Para conseguir isso, “é preciso remover, pouco a pouco, com paciência - os tempos são longos - tudo o que alimenta essa ideologia. Portanto, é preciso remover as raízes. É inútil cortar os galhos, porque eles podem voltar a crescer.”

Para Pizzaballa, “antes de tudo, é preciso dar uma perspectiva aos palestinos. Eu já disse isso e sei que muitas pessoas não gostaram: é preciso dar a eles uma perspectiva nacional que eles ainda não têm”.

O Estado de Israel nasceu em 1948, no então Mandato Britânico da Palestina. A resolução da ONU de 1947 estabeleceu que seriam criados dois Estados no território, um judeu e um árabe. Israel aceitou a resolução e declarou sua independência. Os países árabes, especialmente Egito, Jordânia e Síria, não aceitaram, invadiram os territórios destinados ao país árabe e deram início a uma série de guerras com Israel.

Hamas, que desde 2007 controla a Faixa de Gaza, não reconhece o acordo de paz do início dos anos 1990 entre Israel e a Organização pela Libertação da Palestina, que deu origem à Palestina, por não reconhecer o Estado de Israel.

“Esta guerra”, lamentou o cardeal, “é um testemunho muito claro de que os dois povos não podem viver juntos, pelo menos não neste momento. Eles precisam ter uma perspectiva clara, definida e precisa, mais do que tem sido o caso até agora”.

“Além disso, há outro aspecto. O Hamas também é uma ideologia religiosa; portanto, o diálogo inter-religioso é muito importante, assim como é muito importante nutrir e desenvolver um discurso religioso que não seja focado no ódio”, disse.