O arcebispo de Winona-Rochester, EUA, Robert Barron, disse estar “francamente em desacordo” com a afirmação do relatório final do Sínodo da Sinodalidade de que os avanços nas ciências exigem uma evolução na doutrina moral da Igreja sobre a sexualidade humana.

Numa reflexão publicada esta semana, o bispo disse que é “preocupante” ver como os membros da conferência episcopal alemã já estão “usando a linguagem do relatório do Sínodo para justificar grandes reformulações da doutrina sexual da Igreja."

Barron questionou particularmente a sugestão do documento de síntese de que “os avanços na nossa compreensão científica exigirão um repensar da nossa doutrina sexual, cujas categorias são, aparentemente, inadequadas para descrever as complexidades da sexualidade humana”.

Ele chamou esta linguagem de “condescendente com a tradição ricamente articulada de reflexão moral no catolicismo”, incluindo a teologia do corpo desenvolvida pelo papa são João Paulo II.

“Dizer que este sistema multifacetado, filosoficamente informado e teologicamente denso é incapaz de lidar com as sutilezas da sexualidade humana é simplesmente absurdo”, disse Barron.

“Mas o problema mais profundo que tenho é que esta forma de argumentação se baseia num erro de categoria – nomeadamente, que os avanços nas ciências, como tais, exigem uma evolução na doutrina moral”, acrescentou.

“Tomemos o exemplo da homossexualidade. A biologia evolutiva, a antropologia e a química podem dar-nos uma nova visão sobre a etiologia (estudo das causas e origens) e a dimensão física da atração pelo mesmo sexo, mas não nos dirão nada sobre se o comportamento homossexual é certo ou errado. A consideração dessa questão pertence a outro modo de discurso”.

Uma 'tensão entre amor e verdade' mal compreendida

O bispo também disse que, durante as discussões na assembleia sinodal de outubro, houve uma “tensão percebida entre o amor e a verdade”, particularmente em torno da questão do alcance da comunidade LGBT.

“Praticamente todos no sínodo defenderam que aqueles cujas vidas sexuais estão fora da norma deveriam ser tratados com amor e respeito e, mais uma vez, parabéns ao sínodo por defender este ponto pastoral de forma tão enfática. Mas muitos participantes do sínodo também sentiram que a verdade da doutrina moral da Igreja em relação à sexualidade nunca deveria ser posta de lado”, disse Barron.

Acrescentou que seria mais correto dizer que pode haver “uma tensão entre acolhimento e verdade” porque “quando os termos são corretamente entendidos, não há tensão real entre amor e verdade, pois o amor não é um sentimento, mas o ato pelo qual um deseja o bem do outro”.

“Portanto, não se pode amar autenticamente outra pessoa, a menos que tenha uma percepção verdadeira do que é realmente bom para essa pessoa”, disse ele.

Barron não foi o único bispo a destacar a tensão entre amor e verdade no Sínodo da Sinodalidade esta semana.

O arcebispo de Sydney, na Austrália, Anthony Fisher, publicou uma carta pastoral de sete páginas sobre o Sínodo da Sinodalidade em 20 de novembro, um dia antes da reflexão de Barron.

“O amor e a verdade, sabemos, encontram a sua perfeição não em filosofias abstratas ou estudos empíricos, mas na pessoa concreta de Jesus Cristo. Nele o amor e a verdade se encontram. Sabemos o que é amar quando conhecemos Aquele que é a verdade”, disse Fisher.

“Durante todo o seu ministério terreno, Jesus esteve sempre aberto ao outro. Ele encontrou todo tipo de pessoa e as convidou à plenitude da vida (Jo 10,10). Mas esta comunidade de fé cada vez mais inclusiva é também chamada a uma conversão cada vez mais profunda (Mt 4,17). (…) Incluída na sua família, a Igreja exige de nós uma resposta. Vá, ele diz, você está perdoado. Sua dignidade foi restaurada. Você é amado de toda a eternidade em toda a eternidade. Então vá – e não peque mais (Jo 8:11)”.

O arcebispo australiano também observou alguns dos limites do método de discernimento comunitário do Sínodo da Sinodalidade, conhecido como “conversação no Espírito”.

“Ouvir profundamente uns aos outros, expressar sentimentos, ressoar em grupos de mesa nem sempre nos ajudará a encontrar o que é verdadeiro e certo”, disse Fisher.

“Como me disse um eminente teólogo: Dos muitos sínodos dos quais ele participou, este foi o humanamente melhor, mas teologicamente o mais fraco”.

Ele também citou a observação do padre jesuíta Anthony Lusvardi de que, embora o método de conversação seja excelente para ajudar as pessoas a compreenderem-se melhor, “não é adequado para um raciocínio teológico ou prático cuidadoso ou complexo”.

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“Fazer isso exige um pensamento crítico, que pondere os prós e os contras do que as pessoas dizem. Também requer um grau de objetividade que este método não é adequado para fornecer. A teologia sã precisa sempre fazer a pergunta: Isso pode parecer bom, mas é verdade?”

Fisher disse que “mais trabalho precisa ser feito para garantir uma compreensão genuinamente católica da sinodalidade, inclusão e discernimento”.

Ele considerou providencial que a assembleia sinodal de quase um mês coincidisse com as festas de tantos grandes santos do calendário litúrgico de rito latino como são Lucas, santo Inácio de Antioquia, santa Teresa de Ávila, são João Paulo II, e santa Faustina Kowalska.

“Fomos acompanhados por uma grande nuvem de testemunhas no sínodo, lembrando-nos para que serve a Igreja: chamar os pecadores à salvação e todos à cura e à santidade em Cristo, apoiar cada um na vida da sua vocação pessoal e unir-nos com e como a comunhão dos santos”, disse Fisher.

“Portanto, um critério útil para julgar cada proposta sinodal é: é provável, pela graça de Deus, gerar mais apóstolos e pastores, evangelistas e missionários, religiosos e professores, mártires e místicos, homens e mulheres santos, como a nossa Igreja e o mundo tão urgentemente precisa?”