Uma bebê com doença terminal na Inglaterra deverá ser retirada hoje (9) do aparelho de suporte vital, após a decisão de um juiz, apesar do pedido de seus pais para permitir que um hospital infantil do Vaticano trate a criança na Itália.

Indi Gregory, nascida em fevereiro, sofre de uma doença mitocondrial degenerativa rara e tem recebido tratamento de manutenção de vida num ventilador no Queen's Medical Center em Nottingham, na Inglaterra.

Os pais de Gregory apelaram repetidamente para que a levassem a Roma para tratamento, depois da Suprema Corte do Reino Unido ter decidido que era do “melhor interesse” da criança ser retirado o aparelho de suporte vital. Em um esforço desesperado para salvar a vida de Gregory, o governo italiano decidiu, em uma reunião de emergência na segunda-feira (6), lhe conceder a cidadania italiana e cobrir os custos do seu tratamento médico no hospital pediátrico Bambino Gesù.

Segundo o grupo de defesa britânico Christian Concern, o juiz Robert Peel decidiu ontem (8), após uma “audiência on-line urgente”, que o aparelho de suporte vital de Gregory deve ser removido às 14h (horário da Inglaterra), de hoje (9), contrariando a vontade dos pais de Gregory e as tentativas de ajuda da Itália.

A família, apoiada pelo Christian Legal Centre, diz que vai recorrer da decisão.

“É vergonhoso que o hospital e os tribunais do Reino Unido simplesmente ignorem a oferta do governo italiano”, disse Dean Gregory, pai de Indi, conforme relatado pela Christian Concern.

“Apelo ao governo britânico para que permita que Indi venha para Itália antes que seja tarde demais. Como pai, nunca pedi ou implorei nada na minha vida, mas agora imploro ao governo britânico que, por favor, ajude a evitar que a vida da nossa filha seja tirada”.

Além disso, a ordem do juiz estabelece que o suporte vital deve ser removido no hospital ou num hospício, e não na casa da criança, apesar de um Plano de Cuidados Compassivos preparado pelo Nottingham University Hospitals NHS Trust afirmar o contrário.

“Antes da decisão… os chefes [do Serviço Nacional de Saúde] ameaçaram remover o suporte de vida hoje [quarta-feira], sem a presença de familiares, apesar do erro no projeto de sentença ter sido levantado pelos advogados da família”, relatou a Christian Concern .

“O pai, Dean Gregory, não estava no hospital no momento da ameaça e disse que sentiu que ia ter um ataque cardíaco quando foi informado”, continuou o grupo.

O Bambino Gesù, administrado pelo Vaticano, ofereceu-se para tratar outras crianças britânicas com doenças terminais no passado, como Alfie Evans em 2018 e Charlie Gard em 2017, aos quais foi negada a oportunidade de viajar para Itália por tribunais do Reino Unido e morreram dias depois de ser retirado do aparelho de suporte vital.

A Christian Concern publicou uma carta do presidente do hospital Bambino Gesù descrevendo “um plano de tratamento detalhado” para a criança, que inclui “tratamento de manutenção da vida e cuidados paliativos para garantir a sobrevivência e o conforto de Indi enquanto os tratamentos fazem efeito”.

Segundo a Christian Concern, o cônsul italiano em Manchester, Matteo Corradini, na qualidade de juiz de tutela de Gregory, emitiu ontem (8) uma medida de emergência reconhecendo a autoridade dos tribunais italianos neste caso. A medida autoriza a adoção do plano de tratamento especializado do Bambino Gesù e assume a proteção de Gregory, nomeando o gerente geral do hospital italiano, Antonio Perno, como tutor da criança. A ordem autoriza sua transferência imediata para Bambino Gesù, informou o grupo.

A ordem judicial foi comunicada pelo novo tutor ao diretor-gerente do Queen's Medical Center em Nottingham “para facilitar a colaboração construtiva entre as autoridades de saúde italianas e inglesas, a fim de evitar questões jurídicas sobre conflitos de jurisdição”, diz o grupo.

Perno vai solicitar uma reunião com médicos no Queen's Medical Centre, continuou o grupo, no que se acredita ser a primeira vez que tal medida foi emitida em um caso de fim de vida no Reino Unido.

O tratamento de Indi Gregory no Bambino Gesù seria feito sem nenhum custo para os contribuintes do Reino Unido ou para o NHS (Serviço Nacional de Saúde, na sigla em inglês).

“Dizem que não há muita esperança para a pequena Indi, mas até o fim farei o que puder para defender sua vida e para defender o direito de sua mãe e seu pai de fazerem tudo o que puderem por ela”, escreveu a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, escreveu nas redes sociais após conceder a cidadania italiana a Gregory na segunda-feira (6).

Em resposta à decisão do governo italiano, Gregory disse: “Meu coração se enche de alegria porque os italianos devolveram a Claire e a mim a esperança e a fé na humanidade. Os italianos nos mostraram carinho e apoio amoroso e gostaria que as autoridades do Reino Unido fizessem o mesmo”.

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