“Os ditadores dizem amar a Deus, enquanto eles próprios tomam seu lugar acreditando ser deuses”, disse o bispo auxiliar de Manágua, Nicarágua, dom Silvio Báez, exilado há alguns anos. A declaração foi feita durante a homilia na missa de domingo (29), na Igreja Santa Ágata, no bairro Sweetwater, em Miami,  EUA, onde vivem muitos nicaraguenses,.

Segundo dom Báez, crítico do presidente Daniel Ortega na Nicarágua, os ditadores “enriquecem à custa dos pobres, desrespeitam os direitos e liberdades das pessoas ,e oprimem o seu povo, e falam de Deus, e dizem que creem em Deus e amam a Deus””

“Esse ‘deus’ de que falam os ditadores do nosso povo não é o verdadeiro Deus, que não pode ser amado se não amamos, se não respeitamos o ser humano”, continuou.

O bispo disse que “aqueles que exploram os pobres e oprimem as pessoas não só não conhecem nem amam a Deus, mas – como disse o papa Francisco esta manhã na missa de encerramento do sínodo em Roma – cometem um grande pecado: corroem a fraternidade e devastam a sociedade”.

Durante a missa final do Sínodo da Sinodalidade, que aconteceu de 4 a 29 de outubro em Roma, o papa Francisco disse afirmou: “É um pecado grave explorar os mais frágeis, pecado grave que corrói a fraternidade e destrói a sociedade”.

Na homilia em Miami, o bispo auxiliar de Manágua encorajou a “amar a Deus e ao próximo sempre e em todo lugar, também na sociedade”. Ele disse que o amor pode ser esponsal, familiar, fraterno e amigo.

“O amor também tem uma dimensão social e política. É por isso que os tiranos são mentirosos que, cinicamente, enchem a boca invocando e falando de Deus, e até descrevendo os seus crimes, ilegalidades e atos de corrupção como bênçãos divinas. Há terroristas que matam em nome de Deus”, advertiu o bispo nicaraguense.

Dom Báez também disse que “pode parecer banal falar de amor, mas, para Jesus saber, amar é a única coisa necessária na vida, a única coisa que importa: amar a Deus e amar o próximo”.

“Por trás de tantas insatisfações e depressões que sofremos há grandes vazios de amor”, disse. Segundo ele, em muitos dos problemas que as pessoas têm “há uma escandalosa falta de amor a Deus e ao próximo”.

Protesto em Miami

Um dia antes, no sábado (28), um grupo de jovens fez uma manifestação no Consulado da Nicarágua em Miami, pedindo a liberdade de do bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, preso desde fevereiro em Manágua, acusado de “traição à pátria” e condenado injustamente pela ditadura a 26 anos e 4 meses de prisão.

Segundo o jornal 100% Noticias, os jovens da Aliança Universitária Nicaraguense (AUN) também pediram a libertação dos demais presos políticos, entoando frases como “Rolando, amigo, o povo está contigo” e “Liberdade para todos os presos políticos”.

A AUN é formada por estudantes que se organizaram para protestar contra o governo de Ortega em 2018. Muitos deles são ex-presos políticos e vivem no exílio.