Durante o Sínodo da Sinodalidade, é preciso ter cuidado ao “culpar Espírito Santo por tudo”, disse o arcebispo de Sydney, Austrália, dom Anthony Fisher, observando que se uma proposta está radicalmente em desacordo com o Evangelho, então “isso não é do Espírito Santo”.

“O Espírito Santo é o Espírito de Cristo. Ele é o Espírito do Pai e do Filho, e por isso só dirá coisas que sejam consistentes com o que Cristo nos revelou na tradição apostólica”, disse Fisher à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, em uma entrevista em Roma esta semana.

Muita ênfase foi colocada em ouvir a voz do Espírito Santo durante a assembleia de outubro, com os delegados do sínodo se reunindo quase diariamente para “conversas no Espírito” em pequenos grupos, descritas no site do sínodo como “uma dinâmica de discernimento em uma Igreja sinodal”.

O dominicano australiano disse que se alguma proposta sinodal está “radicalmente em desacordo” com o Evangelho e a tradição apostólica, “isso não é do Espírito Santo, porque não podemos ter Cristo e o Espírito Santo em guerra um com o outro”.

“Temos que ter cuidado ao culpar tudo – todas as nossas opiniões, nossos interesses, lobbies e facções – colocando tudo isso no Espírito Santo”, disse Fisher.

“Os católicos gostam de pensar que o Espírito Santo elege o papa, o Espírito Santo escolhe os nossos bispos e padres para nós, o Espírito Santo faz isto e aquilo. E não há dúvida de que a mão de Deus, a providência de Deus, está presente em todas essas coisas importantes em nossas vidas e na vida da Igreja. Mas também tivemos alguns papas terríveis na história. Tivemos alguns padres e bispos horríveis e coisas terríveis aconteceram na vida das pessoas. E o Espírito Santo estava ausente? Não, mas ele permitiu que essas coisas acontecessem”.

“Portanto, não vamos atribuir ao Espírito Santo tudo o que acontece no sínodo ou em qualquer outro lugar de nossas vidas. Acho que é realmente supersticioso fazer isso”, acrescentou.

O desafio do sínodo é ouvir e perguntar o que Deus está dizendo a nós e à Igreja neste momento, disse ele, acrescentando que a Igreja já forneceu “orientações” úteis ao tentar discernir a vontade de Deus.

“Cristo nos deu tudo o que precisamos para a nossa salvação, já revelado. Transmitimos isso de geração em geração, o Evangelho e os ensinamentos da Igreja”, disse.

“Já temos todo um corpo de ensino, de reflexão, de milhares e milhares de pessoas ao longo das gerações, guiadas pelo Espírito Santo em todos os tipos de questões para nos ajudar, o depósito da fé, como o chamamos, está lá para ser minerado”.

“Portanto, não somos deixados à nossa própria sorte, ao nosso próprio pensamento – qualquer que seja o estado de espírito na assembleia sobre um determinado assunto. Na verdade, temos algo sólido em que confiar e testar os humores e as intuições”, disse.

Discussão sinodal sobre a ordenação de mulheres

O arcebispo de Sydney contou que houve “uma longa discussão sobre a ordenação de mulheres” na assembleia sinodal.

“Não creio que isso revele algo que as pessoas já não soubessem”, acrescentou. “E há muita tensão e emoção em torno de uma questão como essa”.

Ele disse que é difícil saber o que a assembleia como um todo pensa sobre esta questão porque as pessoas ouvem um relatório de cada uma das 35 mesas na sala, mas “não se sabe se esse relatório está relatando o que uma pessoa disse ou o que todas as 12 pessoas naquela mesa [disseram]”.

“Então você não sabe se esse é o entusiasmo de uma ou duas pessoas em cada mesa ou um entusiasmo que realmente é mantido por quase toda a sala”, disse.

Em uma entrevista de 25 minutos ao noticiário televisivo “EWTN News In-Depth”, que vai ao ar hoje (20), Fisher disse que acha que o sínodo poderia ser uma oportunidade para falar sobre questões maiores na Igreja hoje, como quantos jovens estão dizendo que não têm religião alguma.

“É muito mais urgente, no final das contas, muito mais sério do que mexer nos limites sobre se 0,001% das mulheres podem ser diaconisas ou mulheres diaconisas”, disse.

“É trivial comparado à enorme perda de fé que estamos testemunhando, especialmente em gerações inteiras neste momento”.

Ele acrescentou que quando as pessoas perdem a fé, elas vão para outro lugar em busca de significado, e “as pessoas vão para muitos lugares muito destrutivos em busca de significado, esperança e felicidade”.

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“Para o bem deles, temos que ser muito mais ativos na evangelização da nossa cultura e especialmente dos nossos jovens”, acrescentou.

“O que eu adoraria que saísse do sínodo seria um entusiasmo em trazer a fé de volta às pessoas que deveriam tê-la e que por qualquer motivo estão desconectadas”, disse.

‘Este Sínodo é uma experiência’

O arcebispo Fisher observou que o Sínodo da Sinodalidade é “bastante diferente” do anterior sínodo dos bispos do qual participou.

Ele descreveu todo o processo como “uma experiência”, acrescentando: “Isso levanta todo tipo de questões teológicas bastante sérias”.

O Sínodo dos Bispos instituído por Paulo VI depois do Concílio Vaticano II “pretendia ser uma expressão da colegialidade episcopal do colégio dos bispos em conjunto”, disse, “como o grupo dos apóstolos juntos… e em particular o seu magistério, ensinando juntos".

Considerou que o Sínodo da Sinodalidade é mais como “um híbrido” do Sínodo dos Bispos e de outros tipos de reuniões da Igreja e reuniões com bispos, padres, religiosas e leigos.

“É ao mesmo tempo ser um Sínodo dos Bispos e ser um encontro eclesial. E há questões que isso levanta. Então, qual é a sua natureza eclesial? Qual é a sua autoridade?… É tentar ser os bispos como a reunião dos apóstolos? Ou está tentando ser a reunião de todos os batizados?”.

“Acho que provavelmente precisamos pensar muito mais sobre, bem, o que tudo isso significa eclesiologicamente, canonicamente, praticamente?”

Fisher disse que também há discussão sobre a proporção de leigos, especialmente mulheres, no Sínodo da Sinodalidade.

“Há mais mulheres do que nunca e, no entanto, [o sínodo] ainda enfrenta muitas críticas de que ainda não tem mulheres suficientes”, disse.

O arcebispo australiano acrescentou que uma das vantagens do Sínodo da Sinodalidade foi a ampla gama de católicos de todo o mundo reunidos no Vaticano este mês.

“Conheci um número maior de bispos nas últimas duas semanas do que provavelmente nos meus 20 anos anteriores. E isso tem que ser positivo”, disse.