Na homilia da vigília ecumênica que celebrou hoje (30) na Praça de São Pedro, no Vaticano, o papa Francisco fez votos para que, no Sínodo da Sinodalidade, o Espírito Santo purifique a Igreja.

“Peçamos, na oração comum, para aprender novamente a ficar em silêncio: ouvir a voz do Pai, o chamado de Jesus e o sussurro do Espírito. Peçamos que o Sínodo seja um kairós de fraternidade, um lugar onde o Espírito Santo purifique a Igreja de fofocas, ideologias e polarizações”, disse o papa na vigília Together, um evento organizado pela Comunidade Taizé. Participaram da vigília líderes de diversas confissões cristãs, com cerca de 18 mil pessoas presentes, segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé.

A “pré-vigília” começou com o testemunho de três jovens: Emílio, do Líbano, Ágata, da Indonésia, e Tilen, da Eslovênia, que contaram a sua experiência no processo do caminho sinodal.

O Sínodo da Sinodalidade foi convocado em outubro de 2021 sob o lema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. 365 pessoas estão convidadas para a sessão que acontecerá neste mês de outubro, entre bispos, religiosos, sacerdotes, diáconos e leigos. Pela primeira vez, os não-bispos – incluindo 54 mulheres – terão o direito de voto.

Depois dos testemunhos, houve uma encenação da parábola do Bom Samaritano, durante a qual foi lida o trecho evangélico, seguida de um canto nigeriano.

Em seguida, um jovem refugiado, Wael, da Síria, e a migrante colombiana Daniela fizeram uma reflexão sobre a importância de construir a paz, colaborando com os deslocados em diferentes partes do mundo. Depois, rezaram a oração final da encíclica Fratelli tutti do papa Francisco.

Posteriormente, foi realizada a Via Creationis, composta por sete estações de agradecimento pela criação de Deus, no âmbito do Tempo da Criação, que a Igreja celebra de 1º de setembro a 4 de outubro, festa de são Francisco de Assis.

Em seguida, começou a vigília propriamente dita, com uma invocação do patriarca ortodoxo Bartolomeu I, seguida da leitura do livro da Carta de São Paulo aos Efésios (Ef 4,1-7) feita por Anne Burghardt, da Federação Luterana Mundial. O Evangelho de São Mateus (5,1-12) foi pronunciado por Mar Paulus Benjaminm da Igreja Oriental da Assíria.

Em seguida, houve um momento de silêncio de oito minutos, introduzido pela frase “Durante este tempo de silêncio, permaneçamos diante do Senhor que está presente e nos une”. Neste momento, os presentes também puderam refletir sobre uma das bem-aventuranças.

Depois, algumas “orações de intercessão” foram feitas por vários líderes cristãos.

A vigília pediu “todos aqueles que sofrem violência e guerra na Ucrânia, Afeganistão, Mianmar, Paquistão, Haiti, Nicarágua, Congo, Síria, Sudão, Etiópia e em muitos outros lugares do mundo”.

No final, foi rezado o Pai-Nosso e vários líderes cristãos receberam “algumas sementes, como sinal das sementes da unidade/sinodalidade, para plantá-las em casa e fazê-las crescer (cf. 1Co 3, 6: 'Eu plantei, Apolo regou, mas ‘foi Deus quem a fez crescer’)”, diz o folheto da vigília.

Homilia do papa Francisco

O papa Francisco refletiu sobre a importância do silêncio, em primeiro lugar, como algo “essencial na vida do crente. Na verdade, está no início e no fim da existência terrena de Cristo. O Verbo, a Palavra do Pai, tornou-se ‘silêncio’ na manjedoura e na cruz, na noite da Natividade e na noite de sua Paixão”.

“Esta tarde nós, cristãos, permanecemos em silêncio diante do Crucifixo de São Damião, como discípulos em escuta diante da cruz, a cátedra do Mestre. O nosso silêncio não foi vazio, mas sim um momento cheio de espera e disponibilidade”, acrescentou.

“Nós, como Abraão, como Elias, como Maria, precisamos nos libertar de tantos ruídos para ouvir a sua voz. Porque só no nosso silêncio ressoa a Sua Palavra”, disse o papa.

O papa disse que, “em segundo lugar, o silêncio é essencial na vida da Igreja”. “O silêncio, na comunidade eclesial, torna possível a comunicação fraterna, na qual o Espírito Santo harmoniza pontos de vista. Ser sinodal significa acolher-nos assim, com a convicção de que todos temos algo a testemunhar e a aprender, ouvindo juntos o ‘Espírito da verdade’ (Jo 14,17) para saber o que Ele ‘diz às Igrejas’ (Ap 2,7)”, disse.

“O silêncio permite o verdadeiro discernimento, por meio da escuta atenta dos suspiros do Espírito, profundos demais para as palavras, que ecoam, muitas vezes escondidos, no interior do Povo de Deus”, disse.

Em terceiro lugar, “o silêncio é essencial para a jornada da unidade dos cristãos; Na verdade, isto é fundamental para a oração, e o ecumenismo começa com a oração, sendo estéril sem ela”.

Sobre as sementes recebidas pelos líderes cristãos, o papa Francisco destacou que “serão um sinal para nós, chamados também a morrer silenciosamente para o egoísmo para crescer, através da ação do Espírito Santo, na comunhão com Deus e na fraternidade entre nós”.

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