Durante um encontro inter-religioso hoje (22) em Marselha, França, o papa Francisco prestou homenagem aos migrantes que morreram no Mar Mediterrâneo. “Não podemos nos resignar a ver seres humanos tratados como mercadoria de troca, encarcerados e torturados de maneira atroz”, disse Francisco. “Não podemos mais assistir às tragédias dos naufrágios, devido a tráficos odiosos e ao fanatismo da indiferença”, continuou.

Hoje (22), por volta das 18h (hora local), o papa Francisco conduziu um momento de reflexão, acompanhado por líderes religiosos locais, em torno de um memorial que fica a 200 metros da basílica de Notre-Dame de la Garde, templo onde minutos antes se encontrou com o clero diocesano. O memorial é uma Cruz de Camargue, que recebe esse nome por ter sido feita nesta região na década de 1920.

Durante o encontro estiveram presentes delegações da associação de líderes religiosos Marseille Espérance, do apostolado do Mar “Stella Maris”, da Cáritas Gap-Briançon, do serviço pastoral diocesano para os migrantes e da Sociedade Nacional de Salva-vidas no Mar.

Depois de um canto inicial diante do memorial, o arcebispo de Marselha, cardeal Jean-Marc Aveline, dirigiu uma saudação de boas-vindas ao papa, agradecendo-lhe “a coragem e a tenacidade com que, durante 10 anos, desde a sua primeira viagem a Lampedusa [Itália], defende a causa dos imigrantes, diante de tudo e contra tudo.”

O cardeal, apesar de descrever o Mar Mediterrâneo como “belo e pacífico”, lamentou que possa tornar-se “um cemitério cruel”, onde homens, mulheres e crianças “que fogem da pobreza e da guerra são despojados dos seus bens por traficantes desonestos, que os condenam à morte, colocando-os a bordo de navios velhos e perigosos.”

“Isto é um crime!”, disse.

Ao concluir o seu discurso, o papa Francisco disse que este encontro inter-religioso acontece “em memória daqueles que não sobreviveram, que não foram salvos”.

“Não nos habituemos a considerar os naufrágios como meras notícias de jornal, nem os mortos no mar como números: são nomes e sobrenomes, são rostos e histórias, são vidas despedaçadas e sonhos desfeitos”, disse.

Segundo Francisco, hoje é necessário humanidade, isto é, “silêncio, pranto, compaixão e oração”. Em seguida, convidou os presentes para um momento de silêncio.

“As pessoas que correm o risco de se afogar, quando são abandonadas no meio das ondas, devem ser socorridas. É um dever de humanidade, é um dever de civilização!”, disse o papa.

“O Céu abençoar-nos-á se soubermos, em terra e no mar, cuidar dos mais frágeis, se soubermos superar a paralisia do medo e o desinteresse”, disse.

Para o papa, os representantes das diferentes religiões são chamados a dar o exemplo “no acolhimento recíproco e fraterno”.

Concluiu a sua mensagem com outro convite: “Irmãos, irmãs, enfrentemos, unidos, os problemas, não façamos naufragar a esperança, juntos componhamos um mosaico de paz!”

Após a participação do papa Francisco, um migrante contou o seu testemunho de sobrevivência em alto mar, o coral cantou uma música e os representantes das organizações participantes apresentaram as petições.

Francisco concluiu o momento de reflexão com uma oração e, juntamente com dois migrantes e os líderes religiosos, dirigiu-se ao memorial dos desaparecidos no mar, onde colocou uma oferenda de flores. Enquanto o coral cantava o canto de saída, o papa despediu-se dos líderes religiosos.

No final do evento, o papa foi de carro para a sede da arquidiocese de Marselha, para ser recebido pelos funcionários e depois jantar.