Na tarde de hoje (22), teve início a 44ª Viagem Apostólica do papa Francisco a Marselha, cidade francesa atingida pela crise migratória onde participará na conclusão dos Encontros do Mediterrâneo.

Pouco depois das 17h, os sinos da imponente basílica de Notre Dame de la Garde, situada no alto da cidade, tocaram quando o carro do papa Francisco chegou para participar de uma oração mariana com o clero diocesano, onde 250 pessoas o esperavam.

Francisco entrou no templo numa cadeira de rodas enquanto o coro cantava canções em francês. Depois de alguns emocionantes momentos de oração silenciosa diante da imagem de Nossa Senhora, o papa ouviu as palavras de boas-vindas do cardeal Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha. O papa respondeu-lhe com algumas palavras em francês e ambos viveram um momento feliz e descontraído.

Após as leituras, dirigiu seu primeiro discurso ao clero da cidade. O papa Francisco manifestou a sua alegria por ter iniciado a sua visita a Marselha com um momento de oração e recordou a história desta imponente basílica, que “não foi fundada em recordação dum milagre ou duma aparição particular”.

Ele disse que foi construída “porque, desde o século XIII, o santo Povo de Deus procurou e encontrou aqui, na colina de La Garde, a presença do Senhor através dos olhos da sua Santa Mãe”.

“Neste cruzamento de povos que é Marselha”, continuou, “quero refletir convosco precisamente sobre este cruzamento de olhares, porque me parece que nele esteja bem expressa a dimensão mariana do nosso ministério”.

Levar as pessoas ao “olhar de Jesus”

Para Francisco, os padres e as pessoas consagradas “somos chamados a fazer sentir ao povo o olhar de Jesus e, ao mesmo tempo, levar a Jesus o olhar dos irmãos”. Ele disse neste sentido que “somos instrumentos de misericórdia” e “instrumentos de intercessão”. Como em ocasiões anteriores, recordou que o “estilo” de Deus é “proximidade, compaixão e ternura”.

O papa referiu-se ao “primeiro olhar” de Jesus, “que acaricia o homem”. “É um olhar que se dirige de cima para baixo, não para julgar, mas para erguer quem está por terra. É um olhar cheio de ternura, que transparece nos olhos de Maria”.

“E nós, chamados a transmitir este olhar, somos obrigados a abaixar-nos, a sentir compaixão, a assumir «a paciente e encorajante benevolência do Bom Pastor, que não censura a ovelha perdida, mas carrega-a aos ombros e faz uma festa pelo seu regresso ao rebanho”, continuou.

O papa Francisco pediu ao clero que aprenda com esta visão e não deixe “passar um dia sem nos lembrar de quando o recebemos sobre nós e assumamo-lo para sermos homens e mulheres de compaixão”.

“Abramos as portas das igrejas e das casas paroquiais, mas sobretudo as do coração para mostrar, através da nossa mansidão, gentileza e acolhimento, o rosto de Nosso Senhor”, exortou o papa.

Ele também pediu que “quem se aproxima de vós, não encontre indiferença e julgamento, mas o testemunho duma alegria humilde, mais frutuosa do que toda a capacidade que possais ostentar”.

“Os feridos da vida encontrem um porto seguro no vosso olhar, um encorajamento no vosso abraço, uma carícia nas vossas mãos, capazes de enxugar lágrimas. Nas muitas ocupações de cada dia, não deixeis, por favor, diminuir o calor do olhar paterno e materno de Deus”.

Ele pediu aos padres que “sempre” perdoem e sejam generosos no sacramento da penitência.

O papa Francisco disse que “É bom que o façais distribuindo o seu perdão sempre, sempre com generosidade, para, através da graça, desligar os homens das cadeias do pecado e libertá-los de bloqueios, remorsos, rancores e medos, contra os quais, sozinhos, não podem prevalecer”.

“É bom redescobrir em cada idade, maravilhados, a alegria de iluminar os momentos felizes e tristes da vida com os Sacramentos e transmitir, em nome de Deus, esperanças inesperadas: a sua proximidade que consola, a sua compaixão que cura, a sua ternura que comove”, continuou.

Francisco exortou-os a estar “próximos de todos”, especialmente “dos mais frágeis e menos afortunados”, para que “nunca falte, aos que sofrem, a vossa proximidade cuidadosa e discreta”.

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Para o papa, só existe um momento na vida em que se pode olhar as pessoas de cima, para ajudá-las a se levantar. O contrário, advertiu ele, “é um pecado de soberba”.

“Assim neles, mas também em vós, crescerão a fé que anima o presente, a esperança que abre para o futuro e a caridade que dura para sempre. Tal é o primeiro movimento: levar aos irmãos o olhar de Jesus”, disse.

“Sejam intercessores”

Em segundo lugar, Francisco disse ao clero que também eles são chamados a ser intercessores. “Convosco levareis os seus olhos, as suas vozes, os seus interrogativos, para a Mesa Eucarística, diante do Sacrário ou no silêncio do vosso quarto onde o Pai vê (cf. Mt 6, 6)”.

“Tornar-vos-eis o seu eco fiel, como intercessores, como «anjos na terra», mensageiros que tudo apresentam «diante da glória do Senhor (Tb 12,12)”, disse. Pediu também para recuperar o significado e o valor da Adoração.

As 3 imagens de Maria

Por fim, o papa falou das três imagens de Maria que são veneradas na basílica.

A primeira é a grande estátua que se ergue no seu cume, “que a representa segurando o Menino Jesus que abençoa: como Maria, levemos a bênção e a paz de Jesus a toda a parte, a cada família e a cada coração”, pediu o papa.

A segunda imagem está por baixo de nós, na cripta. Ela é a Vierge au bouquet (Virgem do buquê), pois segura um buquê de flores.

Para o papa Francisco, isto “faz-nos pensar em Maria como modelo da Igreja, ao mesmo tempo que nos apresenta o seu Filho, a Ele nos apresenta também a nós como um ramo de flores, no qual cada pessoa é única, bela e preciosa aos olhos do Pai. É o olhar de intercessão”.

Ao referir-se à terceira imagem da Virgem, “que impacta pelo esplendor que irradia”, reiterou que “também nós nos tornamos Evangelho vivo na medida em que O damos, saindo de nós mesmos, refletindo a sua luz e beleza com uma vida humilde, alegre, rica de zelo apostólico”.

“Caríssimos, levemos aos irmãos o olhar de Deus, levemos a Deus a sede dos irmãos, espalhemos a alegria do Evangelho. Esta é a nossa vida que é incrivelmente bela, não obstante as canseiras e as quedas”, concluiu o papa Francisco.

Depois de um canto à Virgem Maria, o papa Francisco foi ao memorial dedicado aos marinheiros e migrantes perdidos no mar, onde teve um encontro com líderes religiosos.