Um primeiro relatório sobre abuso sexual na Igreja Católica na Suíça, revelado na terça-feira (12) após um ano de trabalho, registou mais de mil casos de abuso que remontam a meados do século XX.

A Conferência Episcopal Suíça encomendou o estudo ao Seminário Histórico da Universidade de Zurique, segundo a CNA Deutsch, a agência em alemão do Grupo ACI.

“As descobertas expõem questões profundamente enraizadas que vão além das ações dos perpetradores individuais e atingem causas sistêmicas pelas quais os líderes da Igreja devem responder”, disse dom Felix Gmür, bispo de Basileia e presidente da Conferência Episcopal Suíça, após a publicação do relatório.

O trabalho de 136 páginas registra 1.002 casos de abuso desde meados do século XX, com 510 acusados ​​e 921 vítimas. A equipe de investigação alerta que estes números representam “apenas a ponta do iceberg”, uma vez que muitos arquivos continuam sendo avaliados.

O estudo também revela um encobrimento sistemático dentro da comunidade eclesial: “A lei penal da Igreja quase não foi aplicada durante grande parte do período do estudo. Em vez disso, muitos casos foram deliberadamente ocultados ou minimizados”, lê-se no relatório.

O relatório mostra ainda que os líderes da Igreja transferiam frequentemente padres acusados, por vezes para outros países, para evitar processos seculares.

O resumo do relatório mostra que 56% das vítimas eram homens e 39%, mulheres; os 5% restantes dos casos não puderam ter a vítima claramente determinada. “Com poucas exceções, os acusados eram homens e dos arquivos avaliados durante o projeto piloto, 74% revelaram abusos sexuais de menores”, acrescenta o documento.

Dom Gmür falou da necessidade de fazer estudos futuros para explorar “detalhes específicos” que possam ter contribuído para o abuso, como a moral sexual e o celibato. “Essa culpa não pode ser simplesmente apagada. É preciso enfrentá-la, concentrando-se nos mecanismos de poder, na imagem das mulheres, na imagem dos padres e na moralidade sexual da Igreja", disse ele.

A Conferência Episcopal Suíça manifestou o seu compromisso de agir com base nos resultados do estudo. “Estabeleceremos e financiaremos centros de denúncia independentes para facilitar a denúncia de abusos”, disse dom Gmür, segundo a CNA Deutsch, agência em alemão do grupo ACI.

“Queremos enfrentar a realidade compreendendo profundamente as causas e mecanismos específicos do abuso sexual no ambiente eclesial e abordar as necessárias reestruturações e reformas da Igreja”, disse o presidente da Conferência Episcopal Suíça. “Estamos comprometidos com uma mudança cultural fundamental para deixar às gerações futuras uma Igreja mais humana e digna”.

O bispo disse ainda que todos os documentos relacionados serão preservados indefinidamente para evitar novos encobrimentos.

No domingo, 10 de Setembro, a Conferência dos Bispos Suíços revelou uma investigação em curso ordenada pela Santa Sé sobre o tratamento das acusações de abuso sexual por parte de bispos, que deverá ser concluída até ao final do ano.

As acusações contra vários membros da Conferência Episcopal Suíça foram enviadas ao Dicastério para os Bispos de Roma, que nomeou o bispo de Chur, dom Joseph Bonnemain, para liderar a investigação.