Na Vigília com os jovens no parque do Tejo de Lisboa no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2023, o papa Francisco fez um discurso improvisado, deixando de lado o texto que tinha preparado inicialmente.

Abaixo, a íntegra do discurso:

Queridos irmãos e irmãs: Boa noite!

Eu me alegro em vê-los. Obrigado por ter viajado, por ter caminhado, obrigado por estar aqui! E penso que também a Virgem Maria teve de viajar para ver Isabel: "Levantou-se e partiu apressadamente" (Lc 1,39). Perguntamo-nos: por que Maria se levanta e vai depressa para ver a sua prima? Claro, ela acabou de descobrir que a prima está grávida, mas ela também está. Por que, então, ela vai se ninguém lhe pediu? Maria faz um gesto não solicitado, não obrigatório. Maria vai porque ama, e "quem ama voa, corre e se alegra" (Imitação de Cristo, III, 5). Isso é o que o amor nos faz fazer. A alegria de Maria é dupla, ela acabara de receber o anúncio do anjo de que iria receber o Redentor, e também a notícia de que sua prima estava grávida.

É curioso, em vez de pensar nela, pensa na outra. Por quê? Porque a alegria é missionária, a alegria não é para si, é para levar alguma coisa e eu pergunto a vocês: vocês que estão aqui, que vieram para se encontrar, para buscar a mensagem de Cristo, para buscar um belo sentido na vida. Vocês vão ficar com isso para vocês, ou vão levar aos outros? O que acham? Não ouço.

É para levá-lo aos outros, porque a alegria é missionária. Repitamos todos juntos: a alegria é missionária. Então eu tenho que levar essa alegria aos outros.

Mas essa alegria que nós temos também os outros nos prepararam para recebê-la. Agora olhemos para trás, tudo o que recebemos. O que recebemos e prepararam, tudo isso preparou nosso coração para a alegria.

Todos, se olharmos para trás, temos pessoas que foram um raio de luz para a vida: pais, avós, amigos, sacerdotes, religiosos, catequistas, animadores, professores. Eles são como as raízes da nossa alegria.

Agora, fazemos um segundo de silêncio e cada um pensa naqueles que nos deram algo na vida que são como as raízes da alegria.

Encontraram? Encontraram rostos, encontraram histórias? Essa alegria que veio por essas raízes é o que nós temos para dar. Porque nós temos raízes de alegria, raízes de alegria. E nós também podemos ser para os outros raízes de alegria. Não se trata de levar uma alegria passageira, uma alegria momentânea. Trata-se de levar uma alegria que crie raízes. E eu me pergunto: como podemos nos converter em raízes de alegria?

A alegria não está trancada na biblioteca — embora seja preciso estudar, hein — mas está em outro lugar, não está guardada com chave. A alegria deve ser procurada, deve ser descoberta, deve ser descoberta no nosso diálogo com os outros, onde temos que dar aquelas raízes de alegria que nós recebemos. E isso às vezes cansa.

Eu lhes faço uma pergunta: vocês já se cansaram alguma vez? Não. Sim? Não ouço. Vocês se cansaram alguma vez? Pensem no que acontece quando você está cansado: você não sente vontade de fazer nada. Como dizemos em espanhol, você ‘joga a esponja’, porque não tem vontade de continuar. E, então, você se abandona, deixa de caminhar e cai. Vocês acham que uma pessoa que cai na vida, que tem um fracasso, que comete até erros pesados, fortes, está acabada? Não. Não consigo ouvir. Não! O que é preciso fazer? Não ouço. Levantar-se.

E há uma coisa muito linda, que eu gostaria que vocês levassem de lembrança hoje: os alpinos, que gostam de escalar montanhas, têm uma cantiga muito bonita, que diz assim: na arte de subir a montanha, o que importa não é não cair, mas não ficar no chão. Coisa linda.

Aquele que fica caído já se aposentou da vida, fechou, fechou a esperança, fechou a ilusão e aí continua caído. Quando vemos algum de nossos amigos caídos, o que devemos fazer? Levantá-lo. Forte! Levantá-lo.

Olhem, quando você tem que levantar ou ajudar a levantar uma pessoa, que gesto você faz? Olha-o de cima para baixo. A única oportunidade, o único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é para ajudar a levantá-la.

Quantas vezes, quantas vezes vemos gente que olha para nós assim, por cima dos ombros, de cima para baixo. É triste. A única forma em que é lícito, a única situação em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é – digam-no vocês- é? Forte! Para ajudar a levantar-se.

Bom, esse é um pouco o caminho, a constância na caminhada e na vida, para conseguir as coisas, tem que treinar no caminho.

Às vezes não temos vontade de caminhar, não temos vontade de fazer esforço, colamos nas provas porque não queremos estudar e não chegamos ao sucesso.

Não sei se alguns gostam de futebol. Eu gosto. Por trás de um gol, o que há? Muito treinamento. Por trás de uma vitória, o que há? Muito treinamento. Na vida, nem sempre se pode fazer o que se quer, mas aquilo que a vocação que tenho dentro — cada um tem a sua vocação — nos leva a fazer. Caminhar, se eu cair, levantar-me ou que me ajudem a levantar-me, não permanecer caído e treinar, treinar no caminho. E tudo isso é possível não porque fazemos cursos sobre o caminho, não há nenhum curso que nos ensine a caminhar na vida, isso se aprende, se aprende com os pais, se aprende com os avós, se aprende com os amigos, pegando na mão uns dos outros.

Na vida você aprende e isso é treinamento no caminho. Eu os deixo com esta ideia: caminhar e, se cair, levantar-se, caminhar com uma meta, treinar todos os dias na vida. Nada na vida é de graça, tudo se paga.

Mais em

Só há uma coisa grátis: o amor de Jesus. Então, com esta gratuidade que temos, o amor de Jesus, e com vontade de caminhar, caminhemos na esperança, olhemos para as nossas raízes e sigamos adiante, sem medo, sem medo. Não tenham medo. Obrigado. Tchau.

Confira também: