“Por vezes, na vida, temos de sujar as mãos para não sujarmos o coração”, disse o papa Francisco hoje (3) a um grupo de jovens da Scholas Ocurrentes.

O papa disse que “nenhum de nós está isento de ser um bom samaritano” e convidou os presentes a refletir sobre este tema: “Quantas vezes a pureza ritual é preferida à proximidade humana?”

Olhando para a figura do protagonista da parábola evangélica, chamou a pensar também na atitude para com os necessitados: “Deixo-vos com a pergunta: que coisas me fazem sentir compaixão? Ou tens um coração tão seco que já não tem compaixão, cada um responde a si próprio".

Antes de dar a catequese, o papa Francisco respondeu perguntas de jovens de várias confissões, membros da Scholas Ocurrentes, sobre diversos assuntos.

Respeito dinâmico

Aladino Dabo, um muçulmano da Guiné-Bissau, quis saber a razão pela qual pessoas de diferentes religiões conseguem se identificar em comum nesta organização de direito pontifício e qual é o motivo de tanta diversidade.

O papa disse que a chave é "um respeito que não é estático", mas dinâmico, "que põe em movimento" para fazer as coisas de maneira que você possa "escutar o outro que tem algo a lhe dizer", e que o outro pode "ouvir você, porque você tem algo a dizer a ele".

"Scholas é um encontro caminhando, todos, seja qual for o país de origem, seja qual for a religião, estão todos olhando para frente e caminhando juntos, isso é construtivo", acrescentou.

As crises dão sabor

Em resposta a Paulo Esaka Oliveira, um evangélico, o papa Francisco disse que “uma vida sem crise é uma vida asséptica”, como a água destilada que “não tem sabor algum”.

As crises, acrescentou ele, “devem ser assumidas e resolvidas, porque ficar na crise também não é bom: é um suicídio contínuo”.

Francisco considera que “as crises devem ser enfrentadas, devem ser assumidas e raramente sozinho”. É por isso que ele animou a "resolver as coisas juntos, seguir em frente e crescer juntos".

"Bom, vá em frente, nem que seja para comer uma feijoada", brincou o papa para finalizar.

Do caos ao cosmos

A católica portuguesa Mariana dos Santos Barradas explicou ao papa o significado do grande mural que decorava a sede da Scholas Ocurrentes que se chama “A vida entre mundos” e que cobre as paredes e o teto do local.

Barradas falou do caos e o papa quis falar sobre o assunto: "Havia alguém que dizia que a vida do homem, a nossa vida humana, é fazer do caos um cosmos, isto é, daquilo que não faz sentido, do que é desordenado, o que é caótico, fazer um cosmos, com sentido, aberto, convidativo, compreensivo”, disse.

Para ele, a mesma coisa acontece na vida cotidiana: "Há momentos de crise - tomo a palavra novamente - que são caóticos, que você não sabe onde está pisando".

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No entanto, continuou Francisco, “uma vida que permanece no caótico é uma vida de fracasso, e uma vida que nunca sentiu o caos é uma vida que é meio destilada. Tudo é perfeito, as vidas destiladas não dão vida, morrem em si mesmas”.

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