“Apenas na adoração, só diante do Senhor, é que encontramos o gosto e a paixão pela evangelização”, disse o papa Francisco ontem (2) na homilia das vésperas que rezou no Mosteiro dos Jerónimos, no encontro com bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e seminaristas.

“Gostaria aqui de fazer uma pergunta, mas cada um a responde dentro de si. Como eu rezo? Como um louro bla bla bla bla, ou dormindo, fazendo a sesta na frente do sacrário porque não sei como falar com o Senhor? Rezo? Como eu rezo?”

Depois de dizer que "para nos fiarmos dia a dia no Senhor e na sua Palavra, não bastam palavras", mas "é necessário muita oração", o papa lamentou que a Igreja tenha abandonado a oração diante do Santíssimo Sacramento do Altar.

“Curiosamente, a oração de adoração. Perdemos isso. Todos, sacerdotes, bispos, consagradas, consagrados, leigos, têm que recuperar isso, esse estar em silêncio diante do Senhor”, exortou Francisco.

Francisco convidou a seguir o exemplo de santa Teresa de Calcutá, que, apesar de estar "envolvida em tantas coisas da vida, nunca desistiu da adoração, mesmo nos momentos em que sua fé cambaleava e ela se perguntava se tudo era verdade ou não".

“Então na oração vencemos a tentação de continuar com uma ‘pastoral nostálgica feita de lamentações’”, acrescentou.

O papa contou a anedota de uma freira que “se lamentava de tudo” no seu convento.

“Num convento havia uma freira que ela se lamentava de tudo e não sei que nome tinha, porque mudaram o nome da freira, porque chamavam-na de Irmã Lamentação. Quantas vezes as nossas impotências, as desilusões, as transformamos em lamentações”.

“E deixando essas lamentações ganhamos coragem novamente para navegar mar adentro, sem ideologias nem mundanismos, mundanismo espiritual, o clericalismo não só dos padres; os leigos clericalizados são piores que os padres”, disse.

O papa Francisco disse que o clericalismo é “um dos males mais graves que podem acontecer na Igreja” e, consequentemente, arruiná-la.

Ser pescadores de homens, mas sem "proselitismo"

“Superar essas dificuldades sem ideologias nem mundanismos animados por um único desejo: que chegue a todos o Evangelho”.

A exemplo de um jovem santo de Lisboa, são João de Brito, recordou que todos os católicos "somos chamados a mergulhar as nossas redes no tempo em que vivemos, a dialogar com todos, a tornar compreensível o Evangelho, mesmo que para isso tenhamos de correr o risco dalguma tempestade".

“Tornar-se pescadores de homens. Não ter medo. Isso não é fazer proselitismo, é anunciar o Evangelho que provoca”, pediu o papa.

“Por isso pescar as pessoas e tirá-las para fora da água significa ajudá-las a voltar a subir de onde afundaram, salvá-las do mal que ameaça afogá-las, ressuscitá-las de todas as formas de morte. Porém, sem proselitismo, mas com amor", acrescentou.

Segundo o papa, “um dos sinais de alguns movimentos eclesiais que estão dando errado é o proselitismo”. “Quando um movimento eclesial, ou uma diocese, um bispo, um presbítero, uma freira, um leigo, faz proselitismo, isso não é cristão. Cristão é convidar, acolher, ajudar, porém, sem proselitismo”.

O papa Francisco acrescentou que o “o Evangelho é um anúncio de vida no mar da morte, de liberdade nas voragens da escravidão, de luz no abismo das trevas ".

“A nós, como Igreja, cabe a tarefa de nos fazermos ao largo nas águas deste mar, lançando a rede do Evangelho, sem acusar ninguém, sem apontar o dedo, mas levando às pessoas do nosso tempo uma proposta de vida nova, que é a de Jesus: levar o acolhimento do Evangelho a uma sociedade multicultural; convidá-las à festa", concluiu.

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