“No mundo evoluído de hoje, paradoxalmente, tornou-se prioritário defender a vida humana, posta em risco por derivas utilitaristas que a usam e descartam”, disse o papa Francisco hoje (2) em seu primeiro discurso em Lisboa, Portugal, durante o encontro com as autoridades, sociedade civil e corpo diplomático no Centro Cultural Belém.

“Peregrino da esperança” durante a sua 42ª viagem apostólica internacional, por ocasião da XXXVII Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o papa Francisco também falou da importância de defender a paz na Ucrânia.

Francisco refletiu sobre a defesa de “tantas crianças não-nascidas e idosos abandonados”.

Diante das cerca de mil pessoas que representam as autoridades políticas e religiosas de Portugal, Francisco falou da "a dificuldade de acolher, proteger, promover e integrar quem vem de longe e bate às nossas portas, no desamparo em que são deixadas muitas famílias com dificuldade para trazer ao mundo e fazer crescer os filhos”.

“Para onde navegais, Europa e Ocidente, com o descarte dos idosos, os muros de arame farpado, as mortandades no mar e os berços vazios?”

“Para onde ides se, perante o tormento de viver, vos limitais a oferecer remédios rápidos e errados como o fácil acesso à morte, solução cômoda que parece doce, mas na realidade é mais amarga que as águas do mar?”

A juventude da JMJ não grita raiva, mas esperança

No contexto da celebração da JMJ, que acontece de 2 a 6 de agosto de 2023 sob o tema “Maria levantou-se e saiu apressadamente” (Lc 1,39), o papa disse esperar que a JMJ seja um impulso de abertura universal para o continente europeu.

“Jovens de todo o mundo não andam pelas ruas a gritar sua raiva, mas a partilhar a esperança do Evangelho”.

A guerra na Ucrânia e os armamentos

De Lisboa, a capital mais ocidental da Europa continental, Francisco fez um apelo pela paz na Ucrânia.

“No oceano da história” na Europa e no Ocidente, o papa disse que “sente-se a falta de rotas corajosas de paz”.

"Olhando com grande afeto" para a Europa, Francisco perguntou: "Para onde navegas, se não ofereces percursos de paz, vias inovadoras para acabar com a guerra na Ucrânia e com tantos conflitos que ensanguentam o mundo?”

Francisco criticou que a tecnologia no Ocidente, sinal de progresso, "sozinha não basta; muito menos bastam as armas mais sofisticadas, que não representam investimentos para o futuro, mas o empobrecimento do verdadeiro capital humano, que é a educação, a saúde o estado de bem-estar”.

“Fica-se preocupado ao ler que, em muitos lugares, se investem continuamente os recursos em armas e não no futuro dos filhos”, acrescentou. "Mais se investe em armas do que no futuro das crianças".

O papa recordou o Tratado de Lisboa assinado em 2007 nesta cidade. O tratado com o qual a União Europeia “visa promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos seus povos”.

"Sonho uma Europa, coração do Ocidente, que use o seu engenho para apagar focos de guerra e acender luzes de esperança; uma Europa que saiba reencontrar o seu ânimo jovem, sonhando a grandeza do conjunto e indo além das necessidades imediatas”, disse. Que a Europa “inclua povos e pessoas, sem correr atrás de teorias e colonizações ideológicas”.

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Laboratório de esperança

Francisco disse que o oceano “recorda as origens da vida” e representa a "necessidade de proteger a criação" e o "ambiente". Portugal e a Europa têm demonstrado esforços exemplares, mas "a poluição e o aquecimento global continuam a ser problemas graves”, disse o papa

Ele exortou a cuidar do meio ambiente para as gerações futuras e oferecer "esperança" para que os jovens possam liderar essa mudança.

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O papa convidou a construir um “laboratório” de esperança para “os jovens” que “são fundamentais”. Francisco disse que os jovens enfrentam desafios como a falta de trabalho, o ritmo de vida agitado e o medo de constituir família.

A boa política pode gerar esperança corrigindo os desequilíbrios econômicos e promovendo alianças intergeracionais, disse o papa.

O terceiro laboratório da esperança é a "fraternidade. A solidariedade e o sentido de comunidade são essenciais num mundo globalizado, mas muitas vezes carente de proximidade fraterna, disse Francisco.

O presente do papa ao presidente de Portugal

Durante o encontro no Centro Cultural de Belém, o papa Francisco presenteou o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de 75 anos, com a Medalha Comemorativa da JMJ 2023.

A medalha representa os símbolos da fé do país, como a Catedral Patriarcal de Santa Maria Maior, em Lisboa, e as efígies dos 13 Padroeiros da JMJ, todos santos ou beatos, que dedicaram a vida ao serviço dos jovens.

No final do encontro, depois de se despedir do presidente Rebelo de Sousa, o papa foi de carro para a Nunciatura Apostólica, em Lisboa, onde terá um almoço privado.

Francisco viajou pela segunda vez a Portugal, depois da visita ao Santuário de Fátima que aconteceu de 12 a 13 de maio de 2017, por ocasião do centenário das Aparições da Virgem Maria na Cova da Iria.

Francisco é o quarto papa a visitar o país, depois de Paulo VI (1967), são João Paulo II (1982, 1991 e 2000) e Bento XVI (2010).

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