“A Igreja precisa estar onde o povo está. Se as pessoas estão no shopping, precisamos estar ali para evangelizar também”, diz Handerson de Oliveira, de 28 anos, é consagrado da Comunidade Católica Shalom.

Oliveira é hoje missionário em Manila, Filipinas. “Aqui, existem vários shoppings, onde tem de tudo, lojas, restaurantes, parques, capelas e missas. Então, quando vamos para o shopping, encontramos todos os filipinos, famílias grandes”, conta o missionário. “A experiência que tive me ajuda”, diz Oliveira. “Lembro como no Rio de Janeiro eu ia pelos corredores e falava com pessoas que nunca tinha visto”.

No bairro Irajá, no Rio de Janeiro (RJ), sua comunidade tem uma capela dentro do Shopping Via Brasil. Ali Oliveira cresceu em sua intimidade com Deus e discerniu sua vocação.

A capela do Via Brasil, no Rio de Janeiro, que marcou a vida de Handerson, foi fundada junto com o shopping, em 2011. “Antes de ser aberto o shopping, o dono disse que tinha esse desejo de ter um espaço de oração aqui, como algo a mais para oferecer à população”, contou à ACI Digital o missionário da Shalom Douglas dos Santos, que está há cinco anos na missão no shopping. Ali, além da capela São João Paulo II, a comunidade tem uma loja do Festival Halleluya e “o espaço Lolek – apelido de são João Paulo II na juventude – que tem a dimensão de promover a cultura do encontro, com jogos, espaço para acolher as pessoas e onde os missionários sempre estão à disposição para, a qualquer abertura, evangelizar”.

Para Douglas, a “importância de estar no shopping” se dá pelo fato de ser “um local com grande fluxo de pessoas”. “Então, estamos no meio do povo, por aqui sempre tem gente passando e nós estamos ali atentos”, disse. Ele chamou a atenção para o fato de que os shoppings são locais “onde as pessoas tentam se abastecer daquilo que o mundo oferece, do que as tendências oferecem”. E a presença dos consagrados ali é também uma forma de “consagrar aquele local”, fazendo com que sejam “verdadeiramente testemunhas neste espaço”, disse.

Segundo ele, muitos acabam chegando ao local por curiosidade. “Aqui, só o fato de ter a capela gera a curiosidade nas pessoas”, disse.  Há também pessoas que aproveitam o espaço Lolek para um momento de descanso, como os lojistas nos horários de almoço, e são evangelizadas. Douglas recordou o caso de uma lojista que certo dia estava nesse espaço conversando e jogando com os missionários, quando um deles disse que precisava ir para a capela adorar o Santíssimo. “A jovem perguntou: ‘como assim o Santíssimo?’. Falamos que Jesus estava exposto e ela questionou: ‘Jesus está lá na capela mesmo? Então quero conhecer’. Nós a levamos para a capela e ela disse que nunca tinha visto. Rezamos por ela e depois ela falou da experiência que teve ali da presença viva de Jesus”.

Para Handerson de Oliveira, o percurso até chegar à capela São João Paulo II foi diferente. Ele estudava em uma universidade que fica no mesmo shopping, sabia que existia uma capela ali, mas nunca a visitou, nem por curiosidade. “Eu era católico pelo batismo, tinha primeira comunhão, mas era o tipo de católico não praticante. Na época tinha mais de dez anos que não ia à Igreja”, disse à ACI Digital.

Em 2015, quando voltava para casa de uma festa, sentou ao lado de uma missionária da Comunidade Shalom no ônibus. Ela o convidou para o festival Halleluya, um grande evento de evangelização promovido pela Shalom, com shows, missa, adoração, espaços de confissão, aconselhamentos. Ele decidiu ir ao evento e lá, em um dos intervalos entre shows, dois missionários se aproximaram para conversar e pediram para rezar por ele. “Eu fiquei emocionado e ouvi a voz de Deus por meio da oração que eles fizeram. Quando terminaram, eu perguntei: como faço para ser assim, como vocês? Eles me encaminharam para a confissão. Eu me confessei com dom Orani [Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro] e ele me acolheu como um pastor. Até hoje, lembro o que ele me falou na confissão”, disse.

Uma semana depois, Handerson foi participar do Halleluya Quero Mais, encontro que a comunidade faz sempre após o festival. “Eu fui participar exatamente na capela do shopping Via Brasil e ali foi o meu primeiro contato com aquela capela, embora já frequentasse o shopping”, disse. A partir daquele momento, “a capela se tornou minha casa, eu passava muito tempo lá, porque tive uma experiência muito forte de tudo que ia vivendo ali”, disse.

Handerson passou a participar de um grupo de oração e, alguns meses depois, recebeu “a oportunidade de servir no ministério do primeiro anúncio, que é muito importante, é o ministério da evangelização”.  “Isso para mim foi algo muito interessante, porque já estudava ali no shopping, sabia da capela, mas nunca tinha tido uma motivação para ir. Precisei de um convite, precisei receber o anúncio. A graça da evangelização... Depois de um tempo, o serviço que Deus me deu, o meu primeiro ministério foi justamente o do anúncio”, lembrou.

O missionário recordou que em sua missão no Via Brasil, ia pelos corredores do shopping, ia até a praça de alimentação, conversava, ouvia as pessoas, rezava por elas e com elas, convidava para irem até a capela. “Também tínhamos grupos rápidos de oração nas lojas dos shoppings, com os funcionários. Era uma experiência muito boa de ir ao encontro das pessoas”, disse.

Segundo Douglas dos Santos, toda essa missão de ir até as pessoas continua sendo feita no shopping. O projeto do grupo de oração com os lojistas precisou ser “parado devido à pandemia. Mas, está sendo vista a possibilidade de retorno”, disse.

Após meses de experiência no shopping, Handerson começou a sentir “uma inquietação no coração”, um desejo de “viver como os missionários que ‘não tinham nada, mas tinham tudo’”. Assim, após um discernimento, ingressou na Comunidade Shalom, tendo vivido o ano vocacional em 2016, o postulantado em 2017 e o discipulado em 2018.

Após passar por Belo Horizonte (MG), Eusébio (CE) e Aracaju (SE), a comunidade decidiu enviá-lo para Manila, Filipinas, em 2020. Mas, como estava em meio às medidas restritivas impostas por causa da pandemia de covid-19, Handerson só conseguiu viajar em 2022. Ele está lá há um ano e três meses.

“Aqui nas Filipinas somos uma fundação, estamos começando. Temos cinco anos. Então, aqui, precisamos muito estar abertos a evangelizar, a ir ao encontro das pessoas, a sair. E a experiência que tive aí no shopping favorece muito o que vivo hoje de sair, de ir ao encontro, de não paralisar”, disse.

Seja no Rio de Janeiro, em Manila ou eu qualquer outro local, tanto Handerson quanto Douglas concordam que a presença católica nos shoppings é uma “tendência” e uma “necessidade”.

“Não basta estar apenas dentro das igrejas isolados, mas precisamos ir, construir pontes para ligar a Igreja com o povo de Deus. Então, acho que a tendência atual é esta, cada vez mais estarmos em locais como os shoppings, que é onde as pessoas estão”, disse Handerson.

“Pelo trabalho vivido aqui, posso dizer que sim, é um investimento que podemos fazer como Igreja na evangelização em vista de não perdermos mais tempo, porque cada tempo é precioso para a salvação das almas”, disse Douglas.

A capela e o centro de evangelização do shopping Via Brasil fica na Rua Itapera, 500, Irajá. Há missas às terças e sextas-feiras, às 12h, e domingo, às 16h. Além disso, há vários horários de grupos de oração e o espaço Lolek que fica aberto durante o horário de funcionamento do shopping. Mais informações podem ser acessadas na página da Shalom Rio.

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