A Justiça deu mais um passo na investigação envolvendo a Companhia de Jesus, os jesuítas, na Bolívia, ao receber cópia integral do diário pessoal no qual o padre Alfonso Pedrajas relatou pelo menos 85 abusos cometidos durante seu ministério no país.

Há algumas semanas, o Ministério Público da Bolívia confirmou que em 20 de junho recebeu um exemplar do diário por parte da Companhia de Jesus da Bolívia, mas denunciou que continha “quebras de páginas e seções riscadas e apagadas”.

Em resposta à acusação, a ordem religiosa negou ter adulterado o conteúdo, argumentando que o material havia chegado de Roma via correio em envelope lacrado e que havia sido entregue ao Ministério Público "fechado, como foi recebido".

Após a revisão do material pelo Ministério Público, o procurador-geral do Estado, Juan Lanchipa, disse na terça-feira (11) que a cópia entregue em 20 de junho pelos jesuítas apresenta rasuras que “correspondem a nomes, datas e lugares”.

“Isso mostra que a Igreja não cumpriu seu compromisso de cooperar na investigação, mas, ao contrário, está colocando esse tipo de obstáculo”, denunciou.

O procurador informou aos meios de comunicação que na segunda-feira (10) recebeu o diário completo do padre Pedrajas por meio de cooperação internacional, segundo o Infobae.

A cooperação jurídica internacional é a colaboração entre os Estados, por meio de suas autoridades competentes, para obter informações, documentos, provas, evidências e outros procedimentos que envolvam ações fora do Estado que a requer.

“Enviamos uma cópia deste diário, que nos enviaram da Espanha à Promotoria Departamental de Cochabamba, para que façam investigações com base em seu conteúdo”, disse Lanchipa.

Diante disso, em comunicado de quarta-feira (12), a Companhia de Jesus reiterou seu “espírito de transparência e colaboração com a justiça”.

Ao mesmo tempo, negou ter atrapalhado as investigações em andamento ou alterado o diário de Alfonso Pedrajas.

A ordem dos jesuítas enfatizou que "qualquer rasura, emenda ou recorte deste diário não foi feita pela Companhia de Jesus nem se sabe quem poderia ter feito, já que os jesuítas na Bolívia nunca tiveram acesso ao referido documento".

A chegada ao país de uma cópia integral do material, consideraram, "pode ​​contribuir positivamente para o esclarecimento dos fatos".

Existe um segundo diário

O procurador-geral informou sobre a existência de um segundo diário. “Temos outro diário, deste padre Antonio [Luis María] Roma, e em todos os casos podemos apontar que são atos abomináveis ​​e horríveis que foram cometidos contra nossos filhos, contra os nossos jovens”.

O procurador-geral do Estado, Wilfredo Chávez, também se pronunciou sobre o assunto. “Há um diário a mais de um caso em Santa Cruz, é um diário manuscrito. Aqui são narradas as aberrações que um padre teria cometido contra meninas no chaco de Santa Cruz e são casos que devem ser investigados. É um padre que já morreu, mas ainda temos que avançar nesses casos. O Estado é o garante”, disse.

O porta-voz da Companhia de Jesus na Bolívia, padre Sergio Montes SJ, disse que o ex-delegado para Ambientes Seguros e Saudáveis ​​da ordem, padre Osvaldo Chirveches, levou uma cópia do diário do jesuíta Luis María Roma para a Procuradoria de La Paz em 9 de maio de 2023.

O diário fazia parte da pasta que foi entregue ao fazer a denúncia contra o sacerdote.

Junto com ele, foi apresentada outra documentação, produto da investigação prévia feita pela Companhia de Jesus em 2019, “incluindo o infeliz material fotográfico” que foi do conhecimento público.

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