22 de dez de 2025 às 16:08
O bispo de San Diego, EUA, Michael Pham, inaugurou na última quinta-feira (18) a escultura Anjos Desconhecidos no campus da Universidade de San Diego (USD). A escultura de bronze de 2,4 metros de altura, do artista Timothy Schmalz, é uma versão em escala reduzida de uma obra na praça de São Pedro, no Vaticano, encomendada pelo papa Francisco em 2019, e retrata 140 migrantes de diferentes origens a bordo de um barco, com um par de asas de anjo entre eles.
Segundo Jim Harris, presidente da USD, a escultura tem o objetivo de lembrar "como as doutrinas bíblicas nos incentivam a cuidar de nossas comunidades mais pobres e vulneráveis, como aquelas que fogem de seus países em busca de uma vida melhor".
Localizada em frente à Escola de Estudos da Paz Joan B. Kroc, na extremidade oeste do campus, a escultura fica numa posição perfeita, disse Michael Lovette-Colyer, vice-presidente de integração da missão da USD.
“Será a primeira coisa que os visitantes verão ao entrar em nosso campus”, disse ele. “Com vista para o Oceano Pacífico, o barco aponta para o coração do nosso campus. Isso transmite a ideia de que nosso campus é um lugar acolhedor”.
Lovette-Colyer disse também observou que o campus fica perto da fronteira internacional dos EUA com o México, "portanto, nossa localização geográfica exige que todas as pessoas respeitem a dignidade humana".
Victor Carmona, professor associado de teologia e estudos religiosos da USD há oito anos, também disse acreditar que a instalação reflete “o desejo da USD de continuar sendo um lugar acolhedor”. Ele disse estar “entusiasmado” com a instalação da escultura, acreditando que “ela conecta a USD à Igreja global em termos de prioridades e missão”.
Obra do artista Timothy Schmalz
A escultura é uma criação do artista canadense Timothy Schmalz, que compareceu ao evento e já criou imagens em bronze para igrejas históricas em Roma e em várias partes do mundo.
Schmalz também é conhecido por sua escultura Jesus Sem-Teto, que retrata Jesus Cristo como um homem sem-teto dormindo num banco de parque, e por Quando Eu Estava na Prisão, que retrata Jesus Cristo atrás das grades.
A escultura original de Jesus Sem-Teto foi instalada no Regis College, em Toronto; desde então, a estátua foi copiada e instalada em cerca de 90 outros locais ao redor do mundo. Quando eu estava na prisão pode ser encontrada na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma.
A obra Anjos Desavisados, disse Schmalz, foi inspirada na passagem bíblica “Não negligenciem a hospitalidade; pois alguns, praticando-a, sem o saberem, hospedaram anjos” (cf. Hb 13:2). Schmalz teve a ideia para a obra devido a uma conversa com o padre jesuíta cardeaL Michael Czerny, ex-subsecretário da seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.
Em 2017, disse Schmalz, Czerny sugeriu a ele que “começasse a pensar em criar uma escultura sobre migrantes e refugiados, não só porque é uma crise atual, mas como sempre foi importante ao longo da história da humanidade”.
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Ele disse que a obra “retrata um grupo de migrantes e refugiados de diferentes origens culturais e raciais e de diversos períodos históricos”.
“Eles estão juntos, ombro a ombro, amontoados em uma jangada”, disse o artista.
As asas de anjo emergem do meio deles, "sugerindo a presença do sagrado entre eles".
Réplicas da obra foram exibidas em várias cidades dos EUA, para que os fiéis pudessem apreciá-las; réplicas foram instaladas na Universidade Católica da América, em Washington, D.C., e no Oratório de São José, no Canadá. O presidente da USD, Jim Harris, quis uma réplica em seu campus depois de ver Anjos Desconhecidos em Roma, pois, segundo ele, "a obra estava alinhada com a missão e os valores católicos da USD". A escultura foi financiada por um doador anônimo.
“Espero que essa escultura possa proporcionar à nossa comunidade Torero sentimentos de compaixão que transcendam todas as fronteiras e políticas”, disse Harris.
Schmalz disse que o propósito de Anjos Desconhecidos, assim como de toda a sua arte, “é evangelizar e pregar o Evangelho”. Quase todos os 140 migrantes retratados no barco são pessoas reais que ele pesquisou; alguns são baseados nos rostos de modelos vivos que visitaram seu estúdio na região de Toronto. Muitas de suas ideias vieram de fotografias de migrantes que passaram pela ilha Ellis, no porto de Nova York. E duas das figuras são baseadas nos pais de Czerny, que outrora foram migrantes da Hungria fugindo do comunismo.
O artista disse acreditar que Anjos Desconhecidos se enquadra na mesma categoria da Estátua da Liberdade, no porto de Nova York, “mas com rostos e um enfoque espiritual”. Ele disse que a arte é uma ferramenta eficaz que a Igreja pode usar para transmitir a “mensagem cristã” e descreveu a si mesmo como “um artista soldado da Santa Sé”.
Dia Internacional dos Migrantes
A bênção da escultura por Pham coincidiu com o Dia Internacional dos Migrantes, celebrado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Pham foi convidado não só por ser bispo de San Diego e membro do conselho administrativo da faculdade, mas também por ter sido um migrante, tendo fugido do Vietnã em 1980.
A bênção na última quinta-feira começou com a missa das 12h15, celebrada por Pham, seguida da inauguração da escultura. Harris fez um discurso; entre os participantes estavam membros do corpo docente, funcionários e alunos da USD.
Lovette-Colyer disse que a instalação da escultura coincidiu com um período de debate acirrado sobre imigração nos EUA e em outros países, com fiéis defendendo apaixonadamente ambos os lados da questão.
Referindo-se a declarações recentes e a um vídeo da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês) que promove uma política de imigração mais generosa, ele disse: “Estamos do lado do papa Francisco e do papa Leão XIV, do nosso bispo local, Pham, e do seu antecessor [cardeal Robert] McElroy nesta questão. Reconhecemos que existem dimensões políticas, mas não queremos ser partidários. Como o papa Francisco disse, queremos ser humanos e respeitar a dignidade de todas as pessoas humanas”.
“A imigração é um tema que evoca sentimentos fortes”, disse ele. “É uma questão importante para os nossos alunos aprenderem e refletirem sobre ela. A escultura pode servir como ponto de partida para conversas em sala de aula, onde os alunos podem discuti-la de modo crítico e cuidadoso”.



