A “padaria dos papas”, localizada a poucos metros do Vaticano, fecha.

Borgo Pio não é mais um bairro pobre. A expansão do turismo e a valorização do lugar obrigarão a padaria que assou o pão dos últimos oito papas a fechar.

A padaria pertence hoje a Angelo Arrigoni, de 79 anos.

Um colaborador de confiança de Pio XI, que foi papa de 1922 a 1939, ia à padaria Arrigoni ao amanhecer. Levava consigo um “cofre” do tamanho de uma maleta portátil, com cadeado.

Para evitar envenenamentos, a chave só ficava na posse de duas pessoas, uma delas era o pai de Angelo Arrigoni, antigo dono da padaria, que tinha que guardá-la a ponto de dar sua vida.

O padeiro colocava no cofre o pão vienense que Achille Ratti, eleito papa em 6 de fevereiro de 1922, gostava. Em seguida, o pão passava para as mãos das freiras a serviço do papa, que tinham a outra chave no apartamento papal.

João XXIII

Arrigoni se lembra do dia em que, ainda criança, foi enviado a uma missão: levar o pão ao papa João XXIII e entregá-lo em mãos no palácio pontifício. “Lembro-me daquele longo corredor. O papa passava e olhava para a porta. Eu estava muito envergonhado. E a freira me disse: 'Vamos, o papa quer falar com você'. Fiquei emocionado, respondi a tudo, mas não me lembro das palavras”.

João Paulo II

Cada papa tem predileção por um certo tipo de pão. “Não sabíamos que tipo de pão o papa gostava na Polônia, então telefonamos. A freira perguntou ao Santo Padre, que respondeu: 'O pão que meus trabalhadores comem'. Seus trabalhadores vinham aqui para comer. Durante todo o seu longo pontificado, enviamos a ele cinco rosetas, o pão folhado simples, e cinco 'ciriole', que é um clássico pão romano”.

Bento XVI

Também “o cardeal Joseph Ratzinger vinha no inverno comprar pão”. Segundo Arrigoni, “parecia um simples padre”. “Normalmente, comprava o pão integral, uma ou duas vezes por semana. Um padre do Vaticano na porta do estabelecimento saudou-o com reverência: ‘Vossa Eminência’. Foi quando eu soube quem realmente era”.

Após o conclave de 2005, Angelo entrou em contato com os aposentos papais para restabelecer a tradição de levar 'o sustento de cada dia’ ao 265º sucessor de Pedro. “A freira foi perguntar e quando voltou estava envergonhada: 'Não, desculpe, mas o Santo Padre já tem seu próprio padeiro em Borgo Pio'. Eu respondi: 'Irmã, eu sou o padeiro do papa' (risos)”. "E então nós levamos pão para ele mesmo quando já era papa emérito", contou Arrigoni.

Francisco

“Para nós, era o papa ‘argentino’ que veio do fim do mundo. Descobri qual era o pão mais comum em seu país. Já estava pronto para prepará-lo e até experimentei as receitas. No entanto, a freira nos disse: 'Não, não, o Santo Padre não quer pão feito especificamente para ele. Enviarão a ele o pão que sobrar'. Até há pouco tempo mandávamos o pão”.

O carinho dos vizinhos

"Só me resta a satisfação de ter feito bem o meu trabalho", disse Angelo. Depois de três gerações de padeiros na família, terá que fechar esta semana o forno que seu avô e seu pai abriram em 1930, e que muitas pessoas do bairro Borgo Pio reconhecem pelo seu cheiro artesanal e ambiente familiar que existia no seu interior.

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